O deputado do PS, eleito para a Assembleia da República, Miguel Iglésias, alertou que 80% dos trabalhadores assalariados na região ganham o salário mínimo, o que fez com que mais de 20 mil madeirenses tenham abandonado a Madeira na última década. O socialista considera que isso poderia acontecer menos se se mudassem as políticas públicas para o emprego.
O deputado socialista falava na Convenção dos Estados Gerais do PS Madeira, onde foi moderador de um debate sobre emprego e rendimentos.
Entre os convidados esteve a economista, Ana Paula Bernardo, que sublinhou que durante vários anos vigorou um modelo de baixos salários que provocou a “criação de desigualdades profundas na distribuição de rendimentos e uma elevada segmentação do trabalho que prejudicou jovens, mulheres e trabalhadores menos qualificados”.
Ana Paula Bernardo disse que a alternância política vivida a nível nacional trouxe “políticas diferentes, por vezes erráticas, com distintas prioridades e abordagens”, criticando a aposta no “crescimento desigual que cortou direitos aos trabalhadores e uma desvalorização dos salários em prol da consolidação das contas públicas” referindo-se à governação de pedro Passos Coelho.
A economista elogiou a governação do PS, desde 2015, que no seu entender pôs “fim a esse caminho de empobrecimento sem colocar em causas as contas públicas”, onde salientou o aumento do salário mínimo que deve atingir os 900 euros em 2026, e a preocupação demonstrada pelo primeiro-ministro, António Costa, “com os acordos de concertação social, primeiro em 2020 para a formação profissional, e já este ano, com o acordo para salários e competitividade, com o Estado a ser o seu primeiro subscritor na valorização dos seus próprios trabalhadores”.
Ana Paula Bernardo fez também alusão à “política monetária recessiva” por parte do Banco Central Europeu (BCE), que “irá provocar constrangimentos às famílias” no próximo ano.
Já o economista, Ricardo Cabral, mostrou preocupação com a política do BCE, acrescentando que as políticas orçamentais nacionais da UE “estão muito dependentes” das regras orçamentais europeias, algo que tem “influência direta na valorização salarial dos países”.
Ricardo Cabral referiu que a política da União Europeia “causa enviesamento e contribui para a recessão e para políticas de austeridade”, acrescentando que o PIB real português subiu 7,4% nos primeiros três trimestres de 2022, mas que as pessoas “não sentem isso no seu quotidiano, e que os rendimentos como salários e pensões devem ser aumentados pelo menos até o nível da taxa de inflação prevista, de forma a garantir o poder de compra das famílias”.
O dirigente da UGT Madeira, Ricardo Freitas, considerou que a “desigualdade marca a nossa sociedade”, e defendeu que os salários baixos e a precariedade devem ser prioridades que o PS deve ter a “missão de corrigir”, e criticou as governações sociais-democratas por “não terem criado condições de concertação social em 46 anos de autonomia regional”.
Ricardo Freitas disse que as reclamações sobre a falta de recursos humanos qualificados para posições onde se pagam salários miseráveis devem ser “repensadas”, e que importa “encontrar mecanismos para combater o flagelo da desigualdade social”.