A análise de sondagem dos últimos meses até novembro evidencia que a nota negativa à ação do Governo subiu 10% (de 21,8% para 32,8%), mas a positiva apenas 3% (de 30% para 33%). Em dezembro, a avaliação negativa situou-se – repito – em menos 0,5%.

Qual, então a razão da contradição entre a intenção de voto no PS e a avaliação negativa ao Governo?

Tendo presente que os portugueses têm uns genes de usura de quase nove séculos e mais de 40 anos na atual democracia, eles sabem distinguir o que é de distinguir. No caso, porque lhes foi anunciado pelos partidos que apoiam o Governo (BE, PCP e Verdes) que a atual solução governativa se esgota com a legislatura.

Dirigentes desses partidos têm dito que a governação não é a deles, justificando o apoio dado com a necessidade de rutura com o anterior executivo do PSD/CDS.

Esse apoio é de mínimos. Se é assim, será difícil que grande parte dos votantes desses partidos considerem a atuação positiva.

Acresce não ser também credível que a maioria dos votantes no PSD e no CDS a considerem também positiva.

Sendo esta uma explicação para o resultado, ela é insuficiente se não tivermos em atenção que este quadro, desfavorável à apreciação do Governo, só iniciou uma trajetória descendente a partir do verão.

O reconhecimento pela generalidade dos eleitores da existência de resultados positivos no combate ao desemprego, no crescimento da economia, na diminuição do défice, na amortização da dívida, na explosão do turismo e no mais que se sabe, tem, porém, aqueles contrapontos de natureza política, como se viu, existindo ainda vulnerabilidades a que importa estar atento. Estas, para quem anda na rua e contacta com os serviços públicos, sabe da deficiente prestação de muitos deles como na distribuição postal, agravada pela inqualificável privatização dos CTT, das filas intermináveis de horas e horas de espera para atendimento aos balcões da ADSE, da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações por carência de funcionários, apesar do zelo dos existentes. Isto, para além da desertificação dos serviços nas zonas do interior do país. Estas situações contrastam com a eficácia na rápida arrecadação de receitas do Estado e na impiedosa eficácia da máquina tributária.

O alerta aqui fica, tanto mais que diz respeito a funções do Estado e estas não beneficiaram da nota positiva nos incêndios, no roubo em Tancos e na ausência de fiscalização em instituições de solidariedade social. A transigência da sociedade civil perante factos desta natureza poderá tarde ou cedo alterar-se.

Fica o alerta – repito –, sustentado na defesa do interesse público. Não basta concluir que a avaliação negativa do Governo ocorrida em dezembro é resultado apenas da apreciação dos eleitores que votam noutros partidos que não o PS. Não dá bom resultado confundir a árvore com toda a floresta. Nesta, como na vida a natureza mostra-se a cores com múltiplos cambiantes.