O presidente russo, reunido em Sochi com o seu homólogo turco, Recep Erdogan, disse, segundo a imprensa da Turquia, que a Europa deve estar grata à Turquia pela manutenção do fornecimento ininterrupto de gás russo.
O comentário de Putin surgiu antes do início da reunião na estância balnear russa do Mar Negro – que tinha na agenda as relações bilaterais e regionais, a guerra na Ucrânia e o acordo sobre a exportação de cereais ucranianos patrocinado pela Turquia.
O TurkStream liga a Rússia à Turquia através do Mar Negro e posteriormente (em terra) ao sul da Europa. Começada a construir no início de 2020, a estrutura fazia parte dos esforços de Moscovo para reduzir os envios via Ucrânia. O gasoduto tem uma capacidade anual de 31,5 mil milhões de metros cúbicos (bcm) e duas linhas offshore de 930 quilómetros que se separam na sua componente terrestres, uma com 142km e outra com 70 Km. A primeira linha, com capacidade de 15,75 bcm, destina-se ao fornecimento dos clientes domésticos da Turquia, enquanto a segunda transporta gás russo para a Europa através da Bulgária.
O gás natural russo representou 45% das compras de gás da Turquia no ano passado, altura em que atingiu um nível recorde.
A reunião de sexta-feira segue-se a outro encontro entre ambos há três semanas, no Irão, a propósito da Síria. Poucos dias depois desse encontro, a Turquia ajudou a intermediar acordos (indiretos) entre Moscovo e Kiev, abrindo caminho para a Ucrânia exportar 22 milhões de toneladas de grãos e outros produtos agrícolas.
Ainda antes do encontro, Putin agradeceu a Erdogan por ajudar a negociar os acordos, comentando a sua importância para muitos países. “É uma aguda para muitos países em desenvolvimento, que enfrentam grandes problemas com alimentos e fertilizantes”, disse, citado pelas mesmas fontes.
A Turquia depende fortemente da Rússia e da Ucrânia para conseguir colmatar as suas necessidades de cereais: a Rússia responde por 56% das importações turcas daquela commoditie em 2021, que custaram 2,24 mil milhões de dólares – enquanto as importações da Ucrânia totalizaram 861 milhões.
Por seu turno, e também antes do encontro, Erdogan disse que as negociações demonstram a importância “que a Turquia e a Rússia desempenham na região” e que o encontro em Sochi abrirá “abrirá um capítulo totalmente diferente nas relações turco-russas”.
Segundo dados avançados pela imprensa turca, o comércio bilateral cresceu para o dobro nos primeiros cinco meses do ano em comparação com o mesmo período do ano passado – refletindo o foco crescente de Moscovo nos laços com a Turquia, país da NATO, enquanto enfrentava as sanções ocidentais.
A intenção do encontro é aumentar os laços económicos entre as duas partes. Mas há mais: a agência atómica russa (Rosatom) está a construir a primeira instalação nuclear da Turquia, em Akkuyu, que deverá fornecer até 10% das necessidades de energia do país. O contrato de construção ascende a 20 mil milhões de dólares e prevê que os russos explorem as instalações durante várias décadas. Alguns meios turcos têm-se queixado da fraca componente nacional do projeto.