Hoje em dia é inquestionável que a sustentabilidade de um negócio assenta numa abordagem centrada no cliente, providenciando produtos e/ou serviços com qualidade – com base em requisitos definidos pelo cliente, que dão resposta, ou mesmo excedem, as suas expectativas e que buscam a sua satisfação.

Fazendo o exercício de aplicar esta visão ao sector da saúde – e, não se trata de defender a privatização do serviço nacional de saúde – o doente é o cliente e a prestação dos cuidados de saúde é o serviço. A sustentabilidade decorre de colocar ambos, doente e médico, no centro, num diálogo que resulta na prestação de cuidados de saúde com qualidade, assegurando a segurança do doente e com valor.

Um relatório da OCDE de 2017 revela que, a nível global, cerca de 20% dos gastos em saúde não são benéficos, nem acrescentam valor aos doentes, isto é, resultam em danos adicionais e/ou são procedimentos desnecessários e aumentam os custos. No atual contexto de enorme constrangimento nos orçamentos públicos, torna-se fundamental que medidas que visem a eliminação do desperdício sejam adotadas a todos os níveis, na prestação de cuidados de saúde, na gestão dos serviços de saúde e na definição de políticas.

Voltando à comparação com os restantes sectores de atividade – e mais uma vez, sem que se pretenda colocar em causa os cuidados de saúde como um dos direitos humanos fundamentais – a prática é a de que o pagamento de serviços está diretamente associado a performance a curto-prazo e/ou ao valor acrescentado a longo-prazo. Pelo contrário, na saúde tem-se recompensando o volume de cuidados de saúde prestados, quer sejam ou não necessários, independentemente dos resultados alcançados na saúde dos cidadãos. A mudança de paradigma para a Medição do Valor em Saúde é, assim, fundamental.

Este conceito de Saúde Baseada em Valor, – os resultados de saúde alcançados por cada dólar gasto – introduzido por Michael Porter em 2006, tem vindo a ganhar cada vez mais atenção, não só pelo aumento dos custos em saúde em todo o mundo, mas também pela constatação da variabilidade de resultados em saúde, para um mesmo tratamento, quando comparando populações de doentes idênticos.

Os conceitos tradicionais de avaliação de valor têm usado modelos baseados na evidência clínica ou modelos clássicos de contabilidade. No entanto, o que os diversos atores na saúde – cidadãos, doentes, prestadores de cuidados, farmacêuticas e pagadores – pensam sobre o Valor em Saúde começa agora a ser verdadeiramente considerado. Além disso, este conceito tem merecido discussão nos sistemas de saúde na Europa, onde o valor social associado à equidade não pode ser desconsiderado nesta mudança de paradigma.

O digital está a revolucionar as possibilidades de envolvimento ativo dos cidadãos na sua própria saúde e bem-estar, bem como na identificação de sintomas e opções de tratamento e no registo de resultados. O que resulta no aumento dos recursos para literacia em Saúde e numa sociedade disposta a assumir um papel ativo na autogestão do seu próprio estado de saúde. E este envolvimento, e responsabilização, é fundamental para a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

A saúde baseada em valor é uma abordagem integrada, que coloca o doente e o médico no centro dos cuidados de saúde, assegurando qualidade e sustentabilidade, fortalecendo os sistemas de saúde e, consequentemente, com impacto positivo para a sociedade.

É urgente a mudança de paradigma!