Quando a China espirra o mundo constipa-se, citando a frase atribuída ao príncipe de Metternich sobre a França e a Europa no século XIX. E se em lugar de um simples espirro falarmos de um vírus com tratamento desconhecido, pior ainda a consequência para os restantes países e, em especial, para os da região.

Dezenas de milhões de pessoas estão confinadas às suas casas e sem ir ao trabalho, com fábricas e empresas fechadas e as viagens proibidas ou limitadas, de acordo com as regiões, para tentar conter a propagação da doença. Obviamente, estas medidas restringem a atividade económica em toda a China e a fraqueza resultante para a segunda maior economia do mundo dissemina-se inevitavelmente para os outros mercados.

Tal como John Kemp, analista ao serviço da Reuters, chamou a atenção recentemente, a China substituiu já os EUA como locomotiva da economia global, puxando as restantes economias como carruagens do seu comboio. Segundo o FMI o país foi responsável por uns expressivos 28% de todo o crescimento mundial no quinquénio 2013-18, mais do dobro da participação dos EUA. O mesmo FMI também antecipava nas suas previsões que a China manteria um crescimento semelhante nos próximos cinco anos até 2024 (“World Economic Outlook”, FMI, outubro 2019), e veremos em breve se isso poderá estar agora em causa.

Para muitos países, incluindo Portugal, a China tornou-se, se não o maior parceiro comercial, pelo menos um dos mais importantes. E uma fonte cada vez mais significativa de investimento direto estrangeiro. A crescente classe média da China, com um forte desejo de gastar, provocou uma enxurrada de turistas, ajudando a reviver as indústrias de turismo e o comércio noutras latitudes, a começar pelos vizinhos Tailândia e Coreia.

É por tudo isto, e mais ainda, muito necessário que os mercados continuem a reagir como o estão a fazer, após uma primeira queda inicial do mercado de ações asiático. Para já, a recuperação verificada esta semana nos índices bolsistas significa que os investidores estão relativamente confiantes de que a situação se resolverá, mas este cenário é claramente volátil e pode mudar, consoante o vírus se expanda ou consiga ser controlado.

Para os portugueses e portuguesas que se encontram na China, em particular para os 20 na província de Wuhan e cujo regresso a casa é esperado para breve na altura em que escrevo, vão em especial os meus pensamentos e desejos de que muito em breve possam recuperar o seu modo de vida habitual.  Como diz um provérbio chinês, “quem regressa de uma viagem já não é o mesmo que aquele que partiu”. E certamente que este mesmo provérbio se aplica a estes nossos concidadãos que agora regressam.

 

Será exibido na próxima semana, na Fundação Calouste Gulbenkian, o documentário sobre Azeredo Perdigão da autoria do realizador Paulo Seabra, produzido para a RTP2. “Azeredo Perdigão e a Constante Evolução” é o título de um trabalho que reúne testemunhos e depoimentos de diversas personalidades que lidaram com aquele que foi o grande criador da Fundação, com um papel determinante no desenvolvimento da cultura em Portugal.