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Quando os políticos perdem a cabeça: Cobarde! Manso! Barão da droga! Não fala assim para mim!

Preto comparou Louçã a um agente do “barão da droga” Pablo Escobar. Martins chamou “cobarde” a Candal e avisou que “não voltas a falar assim comigo!” Soares não gostou do gesto a simular chifres de Pinho. Sócrates disse que “manso” era a tia de Louçã. Quando os políticos perdem a cabeça, as atas dos debates parlamentes transformam-se em literatura para adultos.
24 Julho 2018, 15h50

“O agente, em Portugal, do senhor Pablo Escobar”

12 de novembro de 2002. O então líder do BE e deputado Francisco Louçã critica o então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Pedro Santana Lopes, por se ter comprometido com o empresário Stanley Ho “no negócio de instalação de um casino” em Lisboa. Na resposta, o deputado António Preto, do PSD, traça uma analogia com Pablo Escobar, o famigerado “barão da droga” colombiano.

 

Francisco Louçã: Considerando que o presidente da Câmara de Lisboa está a apelar a sucessivas intervenções para um conflito com o Presidente da República, por via da apresentação de uma proposta de lei ou da aprovação de um futuro decreto-lei, talvez fosse altura de, com esta votação, a maioria poder significar que há outras vias que não propriamente a da criação do casino e que há outras vias para o presidente da Câmara que não propriamente a de envolver o Parlamento num conflito em que tudo acaba por resumir-se a este triste negócio privado entre Pedro Santana Lopes e Stanley Ho.

António Preto: Senhor presidente, a hora já vai adiantada, não posso deixar passar em claro a ignomínia que é a de ligar ao senhor Stanley Ho esta solução para a cidade de Lisboa, solução que é moderna e um sinal claro para toda a cidade desse sentido de modernidade, isto é, ligar a decisão do senhor presidente da Câmara a um negócio com o senhor Stanley Ho. Sei, por exemplo, que o senhor deputado Francisco Louçã é defensor da liberalização pelo menos das drogas leves, mas não me passa pela cabeça dizer que ele é o agente, em Portugal, do senhor Pablo Escobar, porque fazê-lo seria uma ignomínia de todo o tamanho idêntica à que ele cometeu.

[…]

Francisco Louçã: Quanto ao senhor Pablo Escobar, devo dizer-lhe que ele é um fornecedor de cocaína e não de drogas leves e que, de qualquer modo, já morreu. Portanto, seria muito difícil fazer qualquer acordo com o senhor Pablo Escobar. Em qualquer caso, confirmando-lhe a sua pior suspeita de que sou um defensor da legalização das drogas leves, digo-lhe que a JSD também e nunca o vi, num congresso do seu partido, anunciar que a JSD negociava com o senhor Pablo Escobar. Portanto, isso vale o que vale, senhor deputado.

 

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“Cobardia! Falta de vergonha!”

5 de março de 2009. No decurso de um debate sobre energias renováveis, mais especificamente sobre painéis solares, os deputados Afonso Candal (PS) e José Eduardo Martins (PSD) entraram em despique, por causa de uma insinuação. Visivelmente descontrolado, Martins chegou a ameaçar Candal de violência física e terá mesmo proferido vários insultos. Na ata ficou registada uma versão contida do sucedido.

 

Afonso Candal: Senhor deputado José Eduardo Martins, sei que a sua preocupação são os contribuintes. Eu sei, eu sei que, piamente, esses são os seus interesses. São os contribuintes…

José Eduardo Martins: Quer insinuar alguma coisa? Diga!

Afonso Candal: Mas, já agora, deixaremos essas suas preocupações profundas para outra altura, sobre esta ou outras matérias.

José Eduardo Martins: Diga lá! Diga! Não seja cobarde! Cobardia! Falta de vergonha!

Afonso Candal: O que está aqui em causa é tentar criar, na área da energia solar, aquilo que já hoje é um dado adquirido na área eólica. É criar não só uma vantagem em termos de consumo de energias alternativas, em Portugal, como já acontece com a eólica e com a hídrica, também com a solar, mas também desenvolver ilustres industriais como há há para a eólica e também para a hídrica, também na área solar…

José Eduardo Martins: Diga lá! Diga! Falta de vergonha!

[…]

José Eduardo Martins: Não voltas a falar assim comigo! Da próxima vez que falares assim comigo…

 

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“Não fala assim para mim! Pensa que está a falar com quem?”

2 de julho de 2009. Em pleno debate do Estado da Nação, o primeiro-ministro José Sócrates respondia ao deputado Francisco Louçã, que lhe perguntara se “há algum mineiro a trabalhar, hoje, na mina em Aljustrel”. Sócrates sublinhou que “este Governo bateu-se por que as minas de Aljustrel continuassem abertas” e garantiu que “neste momento há 200 pessoas a trabalhar”. A meio da intervenção do primeiro-ministro, furioso com um aparte do deputado comunista Bernardino Soares, o ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, como que perde a cabeça. Seria demitido nesse mesmo dia.

 

José Sócrates: O emprego e o futuro daquelas pessoas são importantes demais para os usarmos apenas como arma de arremesso político…

Bernardino Soares: O senhor ministro da Economia até lá foi levar o cheque da EDP ao clube desportivo!

“Neste momento registam-se protestos do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, que, com os dedos indicadores na cabeça, faz um gesto a simular chifres”. [transcrição a partir da ata do debate]

Bernardino Soares: Está a falar com quem? Não fala assim para mim! Pensa que está a falar com quem?

 

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“Manso é a tua tia, pá!”

16 de abril de 2010. O deputado Francisco Louçã questiona insistentemente o primeiro-ministro José Sócrates sobre “os bónus dos gestores” da EDP, mais concretamente “os três milhões de euros de bónus” para António Mexia, presidente executivo da EDP, e respetivo salário. Em pelo menos dois momentos, o debate entre Louçã e Sócrates azeda, no limiar do insulto.

 

José Sócrates: O que, realmente, acho desonesto, do ponto de vista intelectual, é que o senhor deputado pretenda associar ao PS aquela que é uma decisão do presidente da Assembleia-Geral da EDP, que não tem nada a ver com o PS. É a isso que eu chamo ‘malícia intelectual’, que o senhor deputado usa sempre e que, sinceramente, não é bem-vinda ao saudável debate político.

Francisco Louçã: Senhor presidente, senhor primeiro-ministro, consigo nós já sabemos a regra: “Não há festa nem festança sem a dona Constança!” Não há nenhum debate que se faça neste Parlamento em que, perante diferenças políticas legítimas e importantes, o senhor primeiro-ministro não utilize definições de carácter e eu não lhe aceito acusações de desonestidade, não lhe ficam bem! Um primeiro-ministro não perde a cabeça num debate!

[…]

Francisco Louçã: Senhor presidente, senhores deputados, senhor primeiro-ministro, eu vejo que, de intervenção em intervenção, vai ficando um pouco mais manso e vai tentando requalificar e justificar sempre sobre as suas próprias acusações…

José Sócrates: Manso é a tua tia, pá!

Francisco Louçã: Mas, senhor primeiro-ministro, os portugueses sabem o que é que quer dizer desonestidade, sabem o que quer dizer desonestidade! Portanto, não baixe o nível, porque não é assim que deve ser o debate na Assembleia da República, o debate no Parlamento e no país é sobre políticas e respostas…

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