Nordestino, imigrante e homossexual, Leonilson (1957-1993), artista brasileiro, da Geração 80, tem a sua primeira retrospetiva em Portugal. Serralves apresenta em “Leonilson: Drawn 1975-1993” cerca de 250 trabalhos, organizados numa narrativa cronológica, multifacetada e expressiva, que tanto abarca desenhos, pinturas e esculturas, como bordados e documentação relacionada com viagens, a par de alguma correspondência com outros artistas, nomeadamente Albert Hien.
O universo deste artista brasileiro está povoado de ironia, humor e metáforas, e acompanham-nos nas suas paixões, viagens e confissões várias. A intimidade e o registo autobiográfico são uma constante em Leonilson, artista que privilegia os meios artesanais e as suas fragilidades, a par do poder das palavras.
Não se fechou no seu país e partiu para o mundo numa época de grande convulsão. Tornou-se um artista político e ao criticar o Brasil de então, a homofobia, a discriminação, a ditadura, traz de volta ao debate temas que hoje estão, novamente, na ordem do dia. A crítica não impede a beleza poética que estabelece entre os jogos semânticos que vai criando através das palavras e signos representados, como em “A grande pensadora” (1985), um dos primeiros trabalhos tridimensionais que Leonilson levou à XVIII Bienal de São Paulo, e dois de 1988, “As ruas da cidade” e “Os pensamentos do coração”.
A busca da transcendência através da arte
Nascido em 1957, Leonilson estudou arte em São Paulo entre 1978 e 1981. A sua principal influência artística foi a transavanguardia italiana, a que se vieram juntar Eva Hesse e Blinky Palermo, dois artistas que conheceu pessoalmente durante as suas viagens pela Europa.
E o que vem a ser isso da transavanguardia? Surgido em finais dos anos 1970, este movimento ficou marcado pelo regresso à figuração, à mitologia antiga e a um intenso uso da cor. Uma exposição de têxteis da seita cristã americana Shakers assinala um momento-chave do início da carreira do artista
Em 1991, após ter sido diagnosticado com SIDA, muda radicalmente a sua linguagem visual. A deterioração da sua saúde leva-o a preocupar-se com a morte e ganha contornos diarísticos. Até 1993, ano da sua morte, a linguagem e a abstração passaram a ter um papel dominante, assim como elementos religiosos formais e visuais.
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