A discussão acerca da semana de quatro dias de trabalho promete gerar polémica e distracção suficiente para não se debater o que interessa, a redução de impostos.

Os defensores desta medida afirmam que aumentará a produtividade dos trabalhadores, uma vez que estes estão incentivados e motivados por terem três dias de descanso. Não admira que esta ideia salte para o palco mediático, afinal quem não quer trabalhar menos dias?

Outro argumento a favor é que esse dia extra poderá ser dedicado à família, ao bem-estar ou descanso. Mas, e se assim não for? É que a realidade acaba sempre por se impor à teoria.

Em algumas actividades, onde hoje é permitido trabalhar até 12 horas diárias, como muitos dos profissionais de saúde, essas “folgas” são utilizadas para a realização de trabalhos complementares, com o intuito de subir a remuneração mensal familiar e atingir os objectivos de vida.

Ora, nestes casos, o resultado final pode ser exactamente o oposto ao pretendido, como o esgotamento de uma classe, visto que a conciliação de vários trabalhos vai fazer com que trabalhem bastante mais do que as 40 horas semanais.

Por outro lado, o argumento de haver mais tempo para a vida familiar é falacioso. Não será difícil imaginar a dificuldade em acompanhar a educação dos filhos, trabalhando dez horas por dia, tendo em conta que conciliar horários entre o casal será uma tarefa árdua e stressante.

Mas vamos ao principal problema desta medida, que é omitido propositadamente e comprova a iliteracia financeira do poder político – a produtividade ou a falta dela.

A produtividade é um conceito económico caracterizado por ser uma função negativa. Ou seja, quanto mais trabalhamos, menos rendemos. É por esta razão que existem as pausas e, em alguns trabalhos, como os controladores aéreos, são impostos limites horários diários e a obrigatoriedade de folgas. Falhar pode custar vidas.

Não é difícil imaginar que à nona hora de trabalho a produtividade seja menor, quando comparada com a primeira hora, sendo que a probabilidade de errar aumenta exponencialmente hora após hora.

Portugal tem um problema crónico de produtividade. Os portugueses trabalham mais horas e produzem, em média, menos 35% que os seus congéneres europeus. Mas se olharmos para o líder, a Irlanda, a diferença dispara. Os irlandeses produzem o triplo dos portugueses. Por cada hora trabalhada, em 2020, os irlandeses produziam 68,1 euros, comparando com 23,8 euros dos portugueses.

Os problemas, há muito conhecidos, têm como base as baixas qualificações da população, os reduzidos níveis de inovação e de investimento privado, um sistema fiscal complexo e penalizador para o trabalho, e a iliteracia financeira, que é descurada ano após ano, quer dos trabalhadores e das chefias, quer dos próprios empresários. Ou seja, nada tem a ver com a concentração de horários de trabalho.

A solução para uma maior produtividade está em aumentar a remuneração indexada à produtividade, na desburocratização, na simplificação fiscal, num sistema judiciário mais eficiente, na educação da população, na promoção aos incentivos à produtividade dos trabalhadores, na partilha de lucros pelos empresários mediante objectivos, e na redução de impostos sobre o trabalho. Só assim se conseguem reter talentos e premiar o mérito.

Enquanto nos focarmos nas histórias que servem para distrair, como os quatro dias por semana, o limite dos 30km/h em Lisboa ou um aeroporto que afinal depende do líder da oposição e não do Governo com maioria absoluta, continuaremos a deixar passar em branco, por exemplo, o prejuízo monumental que, este ano, a Segurança Social está a ter com a queda das obrigações portuguesas, e que antecipa a sua falência para o meio da década de 30, 2035.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.