Que Europa?

O tempo que vivemos é de suprema instabilidade. Na minha perspetiva, importa reler a história. A história dos últimos séculos na Europa e no Médio Oriente. As alianças concretizadas em razão de múltiplas guerras, como a da Crimeia (1853-1856). Convém lembrar que a Crimeia era, até há bem poucos meses, território ucraniano. E que, de […]

O tempo que vivemos é de suprema instabilidade.
Na minha perspetiva, importa reler a história. A história dos últimos séculos na Europa e no Médio Oriente. As alianças concretizadas em razão de múltiplas guerras, como a da Crimeia (1853-1856). Convém lembrar que a Crimeia era, até há bem poucos meses, território ucraniano. E que, de repente, se tornou, de verdade, uma província “russa” sem que ninguém, ninguém mesmo, se preocupasse com a alteração das fronteiras. Como ocorrerá, porventura, no leste da Ucrânia com o cessar fogo –  a concretizar-se ! – que ontem foi anunciado pelas três potências continentais da Europa, a Rússia, a Alemanha e a França.
A então guerra da Crimeia é o resultado da intenção russa de, naquele tempo histórico, aumentar a sua influência na península dos Balcãs. E dizem que a história se não repete!
Aqui estamos nós outra vez. Na definição das fronteiras, em que importa reler, por exemplo, J. B. Duroselle e o seu livro (1990), “A Europa, História dos seus Povos”. Aí aprendemos, que a Finlândia, a Roménia, a Bulgária e a Grécia quase “ficavam excluídas da Europa”. Mas recordemos, em outro prisma, Paul Valéry quando afirmou que “é europeu todo aquele que tem a marca de Jerusalém, de Atenas e de Roma!”.
Todas estas questões das fronteiras que são uma das essências da “identidade europeia”, estão, de novo, em cima da mesa. E com elas o nacionalismo emergente e o populismo renascido.
Nestes dias joga-se muito da história. Da Europa. Mas também da Rússia, da Turquia e do Irão.
É que na Guerra da Crimeia num lado estava o Império russo e do outro os impérios francês, inglês e otomano.
O que sabemos é que importa não ignorar a história. E perceber que a Grécia da União Europeia, do euro e da Nato é, hoje em dia, uma realidade “em reconstrução”. E este laboratório complexo que é a Europa o que pensa se, porventura, a Grécia ameaçar abandonar a Nato? Como a Europa fez com o abandono da Crimeia? E, agora, da parte leste da Ucrânia?
A Europa, sabemos bem que é generosa. Mas convém olhar para a história! Reler a história. Desde os tempos da guerra da Crimeia até hoje! Ou até à próxima segunda-feira. Por cá vésperas de Carnaval!

Fernando Seara
Advogado

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