O recente anúncio de que os Estados Unidos se preparam para retirar as suas tropas da Síria deixou no ar e por resolver um dos mais complexos problemas com que, o que resta do ocidente em armas que ainda luta contra o Estado Islâmico, se pode vir a ter de confrontar nos tempos mais próximos – que destino dar às largas centenas de terroristas jiadistas que se encontram presos na Síria e à guarda dos contingentes norte-americanos e se preparam para regressar a casa?

A questão não é de somenos importância e começa a ganhar uma acuidade crescente naqueles Estados que têm nacionais seus envolvidos e detidos naqueles territórios semeados de destruição e morte.

O presidente Trump já deixou um aviso claro aos europeus – tomem conta dos vossos prisioneiros. Se não o fizerem, ficarão à solta após a retirada norte-americana. França, Itália, Reino Unido, Alemanha, Espanha e, até, Portugal, serão alguns dos Estados europeus que se irão ver confrontados com o problema.

Em muitos destes países, a opinião pública começa a exigir o respetivo julgamento pelos seus Estados, como forma de poderem garantir a aplicação de uma justiça eficaz e controlar, dentro do possível, os passos destes terroristas detidos, impedindo que retornem aos caminhos do terror.

Noutros Estados, outros governos inclinam-se por confiar a competência do seu julgamento ao Tribunal Penal Internacional, tendo em vista o facto de muitos dos atos pelos quais os detidos são acusados poderem ser considerados como verdadeiros crimes contra a Humanidade. Em qualquer dos casos, não será fácil encontrar um destino para estes prisioneiros. Que terão de ser objeto de acompanhamento que determine o seu grau de doutrinação e o nível do respetivo fundamentalismo.

Percebe-se que os Estados europeus não poderão colocar um polícia ou um agente dos serviços secretos junto de cada terrorista detido. Mas também não os podem deixar entregues ao seu fundamentalismo e às suas leituras radicais do Livro sagrado. Sendo certo que a superioridade moral do nosso sistema de valores nos impele, e nos obriga, a respeitar o que resta de dignidade humana inclusivamente a quem praticou os mais hediondos atos terroristas.

Sobre esta matéria parece evidente que a União Europeia, uma vez mais, será incapaz de adotar uma política ou uma posição comum aos seus 28 Estados-membros. Desde logo por uma razão simples, básica, elementar e pragmática: por falta de meios materiais e operacionais, nem a UE no seu conjunto nem cada um dos seus Estados-membros individualmente considerados têm possibilidade de realizar a ponte aérea necessária para retirar do que outrora foi a Síria, os prisioneiros que lá se encontram detidos.

Tal empresa apenas pode ser realizada com êxito e em tempo útil por parte dos Estados Unidos – o tal aliado que, de um momento para o outro, abandonou os restantes Estados ocidentais no combate que estes vinham travando contra o Estado Islâmico, da mesma forma que abandonou o sacrificado e martirizado povo curdo que, no terreno e em conjunto com as milícias democráticas sírias, punham os pés no terreno e davam luta sem quartel aos fundamentalistas muçulmanos.

Do conflito sírio, Trump, qual Pilatos, resolveu lavar as suas mãos, mandando regressar as suas tropas e desconsiderando em absoluto os interesses do ocidente que era suposto liderar, dos sírios e curdos que arriscaram as suas vidas lutando simultaneamente e em duas frentes contra Bashar e os seus aliados russos e contra os radicais islâmicos. Esqueceu-se o presidente norte-americano de um pequeno detalhe: o Livro diz-nos que Pilatos lavou as mãos; em lado algum, porém, nos diz que ficou com elas limpas.