Em artigo recente sobre o financiamento da segurança social, a presidente cessante do Conselho das Finanças Públicas, Teodora Cardoso, faz observações sobre a economia portuguesa que merecem uma atenção redobrada, numa altura em que se acumulam os sinais de preocupação sobre a evolução económica global.

Referindo-se à vulnerabilidade da economia nacional, salienta que os nossos governantes têm procurado combatê-la, recorrendo sobretudo ao endividamento e desprezando a produtividade. Desta forma, o serviço da dívida passou a absorver uma parcela muito significativa da riqueza nacional, agravando os rácios de endividamento público e privado e tornando cada vez mais problemático o financiamento da economia.

Afirma ainda Teodora Cardoso que, a esta “importante condicionante de longo prazo que a política económica não pode ignorar”, juntam-se outros problemas estruturais, com destaque para a demografia, o ambiente e as mutações tecnológicas. Problemas que exigem reformas estruturais “cujo desenho requer especializações muito diferentes”.

Ora, desde que este Governo tomou posse e se tornou prevalecente esta visão de curto prazo, a preocupação com reformas estruturais foi praticamente banida do debate político. Todavia, indiferente aos tempos e reflexões políticas, a economia lança avisos que não podem ser ignorados.

O mais recente tem a ver com as taxas de crescimento no espaço económico em que nos situamos. De acordo com uma estimativa rápida do Eurostat, o PIB da zona euro cresceu, entre outubro e dezembro de 2018, 1,2% em termos homólogos, um ritmo francamente menor do que o de 1,6% registado no terceiro trimestre de 2018.

Além disso, é a taxa de crescimento mais baixa desde 2013, com a Alemanha e a França a registarem crescimentos medíocres e a Itália a entrar em recessão económica.

Confirmadas as expectativas de desaceleração na zona euro e perante as incertezas do Brexit e os potenciais efeitos induzidos da guerra comercial EUA-China, como poderá responder a economia portuguesa?

Ignoradas as medidas de estímulo ao supply-side, que deveriam sido construídas através de reformas estruturais (nos mercados de produtos e do trabalho), qual o crescimento potencial e o grau de resiliência da nossa economia? Será que correremos o risco de escassear a riqueza para distribuir? Qual o grau de sustentabilidade do nosso Estado Social?

Estas e outras questões semelhantes deveriam perspetivar-se face a diferentes opções estratégicas quanto ao nosso devir coletivo que supostamente estariam em cima da mesa ao longo deste ano eleitoral. Mas, parece-nos francamente que têm estão arredadas do debate político, demasiadamente ocupado com disputas e querelas partidárias.

Será que só arrepiaremos caminho perante um novo choque com a realidade?