Após os registos do índice de preços em fevereiro rondarem os 6%, as estimativas de inflação para os 12 meses anteriores a março apontam para que supere os 7% na Europa e nos Estados Unidos – valores alarmantes comparados com a meta para os bancos centrais, fixada em 2%.

Por esta altura, até os mais desatentos já se aperceberam da presença da inflação. Assim, coloca-se cada vez mais a questão: será que se trata de um fenómeno transitório ou de carácter persistente?

O  sector mais afetado foi o da energia, que registou fortes subidas, nomeadamente na Europa devido à alta dependência energética da Rússia. Produtos alimentares, metais e outras matérias-primas também sofreram alterações de preço, bastante mais elevadas que nos últimos anos.

No caso dos fertilizantes, o índice duplicou o valor desde março de 2021, não sendo difícil compreender como o aumento do preço dos fertilizantes é capaz, de forma isolada, de afetar os preços de toda a cadeia de produtos alimentares e agrícolas.

Sublinhe-se que o grande catalisador desta pressão inflacionista foi o choque causado pela oferta durante a crise pandémica. Isto porque casos como este são bastante mais complexos de resolver, uma vez que a oferta é muito mais rígida do que a procura e, consequentemente, muito mais lenta a ajustar as disrupções.

O longo período de taxas de juro baixas e os aumentos de massa monetária registados na última década, especialmente durante os últimos dois anos, também tiveram um papel de relevo na difusão destas pressões inflacionistas, sendo que tudo indica estas serão mais persistentes do que inicialmente comunicado.

Com efeito, os bancos centrais já avisaram estar atentos ao fenómeno. A Reserva Federal dos EUA e o Banco de Inglaterra iniciaram a subida das taxas de juro e preveem vários aumentos até ao final do ano, enquanto o Banco Central Europeu adiou, por ora, a subida das taxas de juro na zona euro.

Se os valores da inflação continuarem a subir, não será fácil imaginar um cenário em que os bancos centrais se mostrem capazes de acompanhar a subida das taxas de juro, sem correr o risco de fazer colapsar a economia.

A introdução do quantative easing demonstrou que os bancos centrais estão dispostos a utilizar ferramentas novas para responder às necessidades da economia. Ora, será que a conjuntura atual vai abrir portas a outros tipos de política monetária menos convencionais?

Uma das possíveis soluções poderia passar por uma política monetária semelhante à adotada no passado pelo Banco Central do Japão, ou pela utilizada mais recentemente pelo Banco Central da China, conhecida como window guidance. Esta seria uma forma de os bancos centrais combaterem a inflação se, contudo, limitarem o financiamento a sectores estruturais e agravarem o problema do lado da oferta.

Sabemos que qualquer instrumento de política monetária tem os seus problemas e, neste caso, os bancos centrais não teriam como garantir que, depois de criar essas fontes de liquidez, o resultado fosse o desejado. Perante isto, e estando nós a entrar numa nova fase do ciclo económico, importa saber qual vai ser a resposta de governos e bancos centrais à nova realidade que se está a desenhar.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.