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Quebras de 23% no porto de Lisboa até setembro prejudicam todo o setor no continente

Os portos do Continente registaram 60,7 milhões de toneladas movimentadas entre janeiro e setembro de 2020, o que representou uma diminuição de 7,6% face ao período homólogo de 2019, derivada dos comportamentos negativos dos portos da capital e de Leixões.
  • Rafael Marchante/Reuters
16 Novembro 2020, 16h27

As quebras de cerca de 23% na movimentação de mercadorias no porto de Lisboa entre janeiro e setembro deste ano face ao período homólogo do ano passado estão a afetar de forma negativa os dados estatísticos de atividade de todo o setor portuário no Continente no período em apreço.

De acordo com os dados disponibilizados hoje, dia 16 de novembro, pela AMT – Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, o porto da capital registou uma queda de cerca de dois milhões de toneladas de mercadorias movimentadas (1,96 milhões de toneladas) nos primeiros nove meses de 2020, em comparação com o período homólogo de 2019.

Segundo a AMT, só no segmento da carga contentorizada, o porto de Lisboa registou uma quebra de 1,01 milhões de toneladas de mercadorias movimentadas em relação ao dados apurados no período homólogo do ano passado.

Recorde-se que o porto de Lisboa tem enfrentado uma greve decretada pelo SEAL – Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística desde o início de março deste ano, que se mantém, apesar da pandemia.

Desta forma, os portos do Continente registaram mais de 60 milhões de toneladas movimentadas (60,7 milhões de toneladas) entre janeiro e setembro de 2020, o que representou uma diminuição de 7,6% face ao período homólogo de 2019.

“O comportamento negativo do ecossistema portuário é maioritariamente influenciado pelos portos de Lisboa e Leixões, que registam, no seu conjunto, uma diminuição de 3,62 milhões de toneladas”, assinala o comunicado do órgão regulador do setor dos transportes.

A instituição presidida por João Carvalho ressalva que, no sentido inverso, o porto de Sines, “tem vindo a recuperar progressivamente a carga perdida”, enquanto o porto de Leixões “assinala a sua melhor marca de sempre nos períodos homólogos no mercado da carga contentorizada”.

Assim, o porto de Sines mantém a liderança do movimento global portuário, com uma quota maioritária absoluta de 50,5% do total.

“Os portos do Continente registaram um aumento de 1,7% no mês de setembro, comparativo com o período homólogo de 2019. Este crescimento foi impulsionado pela maioria dos portos, com destaque para Sines, mas acompanhado por Aveiro, Figueira da Foz, Setúbal e Faro. No período de janeiro-setembro de 2020, o volume de carga registou uma diminuição de 7,6% (cerca de  menos cinco milhões de toneladas) face ao mesmo período de 2019, movimentando 60,7 milhões de toneladas, uma recuperação de 1,2 pontos percentuais (pp) ao acumulado de agosto”, adiant ao referido comunicado da AMT.

O mesmo documento acrescenta que “o comportamento global do ecossistema portuário do Continente é influenciado maioritariamente por Lisboa, que regista uma diminuição de 1,96 milhões de toneladas (menos 22,8%), e por Leixões com menos 1,66 milhões de toneladas (menos 11,2%)”.

“Sines, por outro lado, segue a recuperar progressivamente o volume de carga perdida, passando de menos 12,7%
em junho para menos 2,5% em setembro. Pela positiva, merecem particular referência [os portos de] Faro e
Figueira da Foz, os únicos a movimentar um volume superior ao registado em 2019, registando, respetivamente, mais 35,5% e mais 2%”, salienta a AMT.

De acordo com a instituição, “este comportamento resulta também dos mercados de carga que integram os
diferentes portos, sendo que o do carvão tem vindo a registar um forte condicionamento ao longo deste ano, na sequência da significativa redução da atividade das centrais termoelétricas de Sines e do Pego, que se traduz numa
diminuição de 2,2 milhões de toneladas, correspondente a menos 82,2%, no período de janeiro-setembro”.

“A par do carvão, também os produtos petrolíferos, outros granéis sólidos, produtos agrícolas e carga fracionada registaram expressivas variações negativas, de, respetivamente, menos 1,76 milhões de toneladas, menos 402,3 mil toneladas (mt), menos 303,5 mt e menos 277,3 mt. Com comportamento positivo, assinalam-se os mercados da carga contentorizada e dos minérios, que observam acréscimos respetivos de mais 376,7 mt e de mais 79,8 mt, sendo
que a carga contentorizada, detendo a quota mais significativa que se eleva a 38,5%, foi fortemente influenciada por Sines que fecha o período de janeiro a setembro de 2020 com um volume superior em mais 1,57 milhões de toneladas (mais 12,1%) ao do período”, homólogo de 2019, anulando a variação negativa de quase menos 1,48 milhões de toneladas apurada em Lisboa (-41,3%), que vem registando variações mensais homólogas
negativas desde fevereiro”, explica a AMT.

Ainda relativamente à carga contentorizada, o órgão regulador do setor dos transportes assinala também os acréscimos em Setúbal e Leixões, de mais 16,5% e de mais 2,6%, respetivamente, “sendo que este último incremento conduz Leixões ao registo da melhor marca de sempre nos períodos homólogos”.

“Sines reforça a liderança em setembro, com quota maioritária absoluta de 50,5% do total do movimento de carga movimentada, um acréscimo de mais 2,7 pp à do período homólogo de 2019, embora esteja ainda a menos 3,9 pp do seu máximo registado em 2016. Leixões permanece no segundo lugar, com uma quota de 21,7%, seguido por Lisboa
(10,9%), Setúbal (7,7%), Aveiro (6%) e Figueira da Foz (2,4%), sendo que Viana do Castelo, Faro e Portimão representam no seu conjunto 0,6%”, adianta a AMT.

Os responsáveis desta instituição revelam ainda que nos primeiros nove meses deste ano, o segmento dos contentores registou um volume superior a 2,05 milhões de TEU [medida padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento] , uma redução de 1,4% do valor apurado no mesmo período de 2019 e a -10,4% do valor máximo registado em 2017″.

“Este comportamento resulta dos desempenhos positivos dos portos de Sines, Setúbal e Leixões, com variações respetivas de  mais 89,9 mil TEU (+8,3%), de mais 17 mil TEU (+15,9%) e de mais 6,2 mil TEU (+1,2%), que, no entanto, não conseguiram anular as variações negativas de Lisboa e da Figueira da Foz, que atingiram respetivamente -136,7 (-38,7%) e -4,5 (-27,5%) mil TEU. Leixões e Setúbal registaram o volume de TEU mais elevado de sempre nos períodos de janeiro a setembro, com 528 535 e 123 538 TEU movimentados, respetivamente”, destaca a AMT.

Esta instituição sublinha igualmente que “Sines fecha o período janeiro-setembro de 2020 com o volume de TEU mais elevado de sempre no tráfego com o ‘hinterland’, de 372,2 mil TEU, que, assim, assume a segunda posição no ‘ranking’, logo após Leixões com 487,3 mil TEU”.

“Ainda no mercado de contentores, refere-se que o porto de Sines eleva a liderança a uma quota maioritária absoluta de 57,1%, seguindo-se Leixões, com 25,8%, Lisboa, com 10,5%, Setúbal, com 6%, e Figueira da Foz, com 0,6%”, resume a AMT.

Relativamente ao número de escalas de navios, nas diversas tipologias, o conjunto dos portos continentais registou nos primeiros nove meses deste ano um total de 7033 escalas, um recuo de 12,2% (menos 979 escalas no total) face ao período homólogo de 2019, correspondente a uma arqueação bruta de cerca 126,2 milhões de toneladas, menos 16,8% face a igual período do ano anterior.

“Este comportamento global resulta de diminuições do número de escalas observadas na maioria dos portos, mas sendo fortemente condicionado pelo porto Lisboa que regista uma diminuição de 664 escalas. Douro e Leixões, Sines, Aveiro e Portimão registaram uma diminuição total de, respetivamente, 108, 100, 61 e 56 escalas. Apenas Figueira da Foz, Setúbal e Faro registam variações positivas no número de escalas ao registar um crescimento de nove, dez e oito escalas, respetivamente”, evidencia a AMT.

Segundo o regulador dos transportes, “a quota mais elevada do número de escalas no período total dos nove meses é detida pelos portos de Douro e Leixões, com 26,3% do total, seguidos de Sines (com 21,2%), Lisboa (17,7%), Setúbal (16,7%), Aveiro (10,3%), Figueira da Foz (5 %) e Viana do Castelo (2,1%)”.

“A variação global negativa do volume de carga movimentada no período de janeiro a setembro de 2020 face ao mesmo período de 2019, resulta da conjugação de comportamentos negativos registados nas operações de embarque e nas operações de desembarque, incluindo transhipment, que observam quebras respetivas de menos 2,4% e de menos 11,1%. O comportamento do fluxo de embarque, que inclui a carga de exportação, é caracterizado pelo comportamento positivo de 15 dos 55 mercados, movimentando um volume superior ao homólogo de 2019 em mais 3,01 milhões de toneladas, tendo os restantes 40 registado comportamento negativo, com um decréscimo total de 8,04 milhões de toneladas”, avança o comunicado em apreço.

Segundo a AMT, “este segmento é fortemente influenciado pelos mercados da carga contentorizada e dos produtos petrolíferos de Sines, que registam variações respetivas de mais 778,6 e mais 446,8 mil toneladas e representam cerca de 70% do total”.

“As posições seguintes são ocupadas pela carga contentorizada de Leixões (mais 106,1 mt) e de Setúbal (mais 89,9mt), após acréscimos respetivos de 3,9% e de 12,4%. A carga contentorizada de Lisboa e de Produtos Petrolíferos de Leixões são os principais mercados a assinalar variações negativas, ascendendo a, respetivamente, menos 1,01
milhões de toneladas e a menos 559,9 mt”, acrescenta esta instituição.

A AMT refere ainda que, “no segmento das operações de desembarque, do total dos 45 mercados, 19 registaram
comportamento positivo com acréscimos de 1,76 milhões de toneladas e 26 tiveram comportamento negativo com um decréscimo de 2,37 milhões de toneladas”.

“A condicionar fortemente este segmento surge o carvão em Sines, responsável pela diminuição de -2,22 milhões de toneladas (-93,6% do que no período janeiro-setembro de 2019), representando 35,1% do volume total das variações negativas. A responsabilidade pelo comportamento negativo deste segmento, alarga-se aos produtos petrolíferos de Sines e ao petróleo bruto de Leixões ao registarem, respetivamente, diminuições de 1,43 milhões de toneladas (-23,6%) e de 1,03 milhões de toneladas (-32,4%), assim como, embora com menor expressão, à carga contentorizada de Lisboa, com menos 466,1 mt (-38,3%)”, precisa a AMT.

O órgão regulador dos transportes assinala que, “a registar influência positiva, está o petróleo bruto e a carga contentorizada de Sines, que apresentam acréscimos de 802,7 mt (+15,8%) e 791,1 mt (+13,5%), respetivamente, representando no conjunto cerca de 75,4% do total das variações positivas apuradas”.

“Os portos que apresentam um perfil de porto “exportador”, registando um volume de carga embarcada superior ao da carga desembarcada, entre janeiro e setembro de 2020, são Viana do Castelo, Figueira da Foz, Setúbal e Faro, que apresentam um quociente entre carga embarcada e total movimentado com valores respetivos de 71,7%, 65,8%, 54,6% e 100%. A estes portos confere-se uma quota de 15,2% do total de carga embarcada no sistema portuário do Continente, sendo que 10,8 pp desta quota pertencem a Setúbal”, conclui a AMT.

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