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Queda do dólar norte-americano é vítima indireta da guerra dos preços de petróleo

Para Duarte Líbano Monteiro, ‘country manager’ da Ebury Portugal, a queda do dólar é uma externalidade negativa do ‘sell off’ das bolsas. “Historicamente, existe uma correlação indireta entre o preço do petróleo e o valor do dólar”, explicou.
  • Mark Blinch/Reuters
10 Março 2020, 07h45

O DXY, índice que mede o dólar norte-americano face a um conjunto de seis divisas, chegou a cair segunda-feira 1,10%, para 94.90 (às 18h50 horas portuguesas na segunda-feira). De forma simples, o índice sobe quando o dólar norte-americano aprecia face às outras moedas.

A descida do barómetro do valor da moeda mais importante a nível mundial – cerca de 90% das transações de câmbio envolvem o dólar norte-americano – permanece ainda distante do valor mínimo histórico, de 70.698, registado em março de 2008 em plena crise financeira, mas ilustra a velocidade com que as externalidades negativas causadas pela guerra dos preços do petróleo se fazem sentir.

No entanto, essa relação causa-efeito surpreendeu Duarte Líbano Monteiro, country manager da Ebury Portugal, uma fintech especializada em pagamentos internacionais e gestão de câmbio de divisas para empresas fora da zona euro. “O mercado está irracional”, disse. “Historicamente, existe uma correlação indireta entre o preço do petróleo e o valor do dólar. Ou seja, quando o petróleo sobe, o dólar deprecia; e quando o petróleo desce, o dólar aprecia”, explicou.

Certo é que a depreciação do dólar norte-americano correu paralelamente ao crash dos preços do petróleo. O preço do barril de Brent chegou a perdeu cerca de 24%, abaixo dos 35 dólares.

“Há outros fatores que influenciam o valor de uma moeda (…) como um choque no mercado de capitais”, frisou Duarte Líbano Monteiro. E foi isso que aconteceu, como se pode constatar com o ‘sell off’ das bolsas a nível mundial. “Com a guerra de preços do petróleo, os investidores começaram a retirar dinheiro dos ativos com mais risco, nomeadamente das ações”.

Questionado sobre se o depreciação do dólar norte-americano corresponde a uma externalidade negativa das quedas das bolsas, o country manager da Ebury Portugal foi perentório: “sim”, respondeu.

Numa nota de research, o banco holandês defendeu que as denominadas petrocurrencies (nome que se dá às moedas dos países que exportam muito petróleo) são as mais vulneráveis às descidas dos preços do “ouro negro”. Uma vez que os Estados Unidos são exportadores líquidos da matéria-prima, por que razão a queda dos preços do crude não afetou diretamente o dólar norte-americano?

“Os custos de produção do petróleo dos Estados Unidos são muito mais caros do que os da Arábia Saudita, por exemplo. Acontece que os norte-americanos são exportadores de petróleo quando o preço está alto. Caso contrário, podem ‘fechar a torneiro'”, explicou Duarte Líbano Monteiro.

Esta segunda-feira, o dólar norte-americano depreciou para 1,14 euros, sendo que há uma semana estava nos 1,08 euros. “É normal haver volatilidade, mas não é normal haver tanta volatilidade em tão pouco tempo”, disse.

Num futuro muito próximo, o valor do dólar norte-americano dependerá, em parte, do desfecho da o Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE), marcada para esta quinta-feira. “O mercado antecipa que o BCE volte a cortar as taxas de juro e que anuncie o reforço da compra líquida de ativos no valor de 20 mil milhões de euros. Isso irá depreciar o euro face ao dólar”, concluiu Duarte Líbano Monteiro.

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