Agora que o desconfinamento é tema central da agenda europeia, começa a transparecer que é um assunto mais complexo do que se pensava e os avanços não são homogéneos de país para país. De França, por exemplo, sabemos quanto se estima que custa a atual situação económica, mas não sabemos ainda que medidas vão ser tomadas depois do verão. Em Itália, anunciaram-se medidas mas não sabemos o custo da crise. Dos EUA não sabemos nada, mas se se soubesse não seria fiável. No Reino Unido só sabemos que não vai ser pedido adiamento do Brexit.

Voltando a França, as escolas reabrem dia 22 e acelera-se o desconfinamento. Macron deu por findo o primeiro ato da crise, esperemos que não haja bis. A prioridade está em retomar a atividade económica e preservar empregos. Como novidade, o Conseil d’Orientation des Retraites (COR) estima um défice do sistema de pensões de 30 mil milhões de euros em 2020, mais 25 mil milhões que previsto em novembro. É enorme, e fará o défice da Segurança Social ultrapassar os 50 mil milhões de euros este ano. Mas é também de notar que o COR, dada a incerteza, decidiu não publicar as projeções a longo prazo, rompendo a tradição.

Citando o presidente da Câmara de Meaux, não estamos numa guerra porque não são os cidadãos que se sacrificam para salvar o país, é o país que se sacrifica para salvar os cidadãos. Portanto, desconfinar permite também não tornar insuportável o custo económico da pandemia e, como disse Macron, é salvaguardar as gerações futuras contrariando o acumular da dívida ecológica e da dívida pública.

Outro sinal, a fronteira franco-alemã reabriu, logo depois da germano-polaca, como fizeram Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Grécia e Itália; segue-se Espanha. A abertura tem sido progressiva e seletiva, com a Suécia e o Reino Unido a serem alvo de restrições. Pouco a pouco Schengen regressa. Segue-se em julho a abertura ao exterior, tema quente para o princípio de verão, até por obrigar ao que faltou até aqui: coordenação. A abertura interna das fronteiras permitirá à Alemanha ser, no contexto de retoma – e citando o ministro alemão da Economia e Finanças – “a locomotiva conjuntural da Europa”, com o seu plano de relançamento de 130 mil milhões de euros, mais de metade do PIB português.

Mas é impossível agradar a gregos e troianos: uns criticam a timidez e lentidão, outros ter-se ido longe de mais. Nova epidemia grassa na Europa: a dos processos aos Estados e governantes europeus. Sexta-feira, Conte foi ouvido em Bergamo, e o procurador de Paris fez saber que há 13 queixas de associações ou sindicatos e 200 mil de indivíduos, além das 80 na Cour de Justice de la République; em Espanha há perto de 4.000; no Reino Unido, além dos cidadãos, são as companhias aéreas a ir a tribunal por causa da quarentena. Estranhamente, nos Estados Unidos, país da paranoia litigante, só há 91 mil. Vá-se lá ser prior desta freguesia!