O país mal recuperou de uma pandemia devido à Covid-19 e já está a braços com uma outra pandemia: o medo das eleições.

1. A fobia com o fenómeno eleitoral dominou os comentários políticos dos últimos dias. Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, levou a sua avante e, para já, conseguiu evitar eleições diretas no CDS, apesar de Nuno Melo ainda não ter lançado a toalha ao chão. Por seu lado, Rui Rio em vez de se concentrar na guerra interna com Paulo Rangel, para depois se atirar a António Costa, líder do PS, está a seguir as pisadas de Chicão ao fazer tudo por tudo para evitar eleições diretas e congresso do PSD.

Rio parece esquecer-se que o PSD não é igual ao CDS e que daquele partido será mais do que provável a gestação de um primeiro-ministro em caso de alternativa com o Partido Socialista. Isto significa que Rio deverá procurar a “vacina” para esta fobia das eleições.

O Presidente da República já fez um Conselho de Estado, já ouviu a opinião dos conselheiros e antes já tinha ouvido os partidos políticos, e ainda as principais associações, mas, até à hora do fecho desta crónica, continuava sem apontar uma data definitiva para as eleições, deixando o país à mercê de uma crise política, sem Orçamento e com os olhos da comunidade internacional apontados a Portugal.

Independentemente de vir a indicar uma data após a conclusão deste texto, Marcelo Rebelo de Sousa deu a entender que também tem medo de eleições e, por isso, foi o primeiro a avançar com a dramatização desse cenário.

As várias conjeturas internas e externas mostram como o país está afastado da realidade de outros países onde, com ou sem eleições, os governos governam, as oposições fazem o seu trabalho e os Chefes de Estado zelam pelas instituições. Os exemplos estão próximos, caso de Espanha, Bélgica ou Itália, onde as fricções políticas são constantes.

O gestor Luís Todo Bom fez um comentário apropriado esta semana no “Negócios”, ao afirmar que “a geração mais preparada e mais internacionalizada do país não está no poder”. Isto reflete aquilo que o país é em termos de governação e onde os antigos “barões” não desistiram de comandar e orientar as opções políticas como se continuassem a ser os donos da verdade, ou como é comummente aceite, os “donos disto tudo”.

2. A COP26, em Glasgow, tem tido a facilidade de encontrar líderes políticos mais disponíveis para encontrar soluções para uma catástrofe climática que há muito começou, mas que terá um epílogo na próxima geração. Discute-se a redução de emissões e a limitação do aquecimento global num planeta que está a consumir recursos acima das suas possibilidades e não procura criar modelos de igualdade entre continentes e entre países.

A motivação aspiracional das populações pelo consumo é um sintoma de desigualdade crónica e que ninguém tem panaceias para resolver, exceto com ações revolucionárias e disruptivas, algo para o qual poucos estão disponíveis.

O esforço tem de começar pela economia e tornar a sustentabilidade um modelo de base para negócios reprodutivos. Só desta forma haverá uma aceitação “democrática” nas limitações ao consumo desenfreado dos recursos planetários.