Yo no creo en brujas, pero que las hay las hay. Este deve ser o provérbio castelhano mais conhecido em Portugal, pela prosaica razão de descrever como nenhum outro o espanto de quem se confronta amiúde com coincidências verdadeiramente impressionantes. Quando se olha com olhos de ver para a torrente de acontecimentos em volta de Rui Moreira, vem-nos logo à cabeça o provérbio castelhano.

O sistema protege-se naturalmente contra tudo o que possa perturbar a sua serenidade, ou ir naturalmente deixando questões quanto à sua imprescindibilidade.

O “Yes, Minister” de Sir Antony Jay e Jonathan Lynn explica muitíssimo bem esta capacidade de auto-preservação do establishment e de rejeição de tudo o que lhe escapa, é uma questão da maior seriedade embrulhada em refinadíssimo humor. Sir Humphrey vive preocupado com cada ideia nova do seu ministro, assusta-se com cada assomo de liberdade, é alérgico a qualquer vontade de reforma, combina com os seus congéneres da oposição a melhor forma de domar o ministro mais impetuoso, tudo em defesa do superior interesse das coisas que se querem imutáveis.

O que separa Rui Moreira do Minister de Humphrey é que o último fica sempre pelas intenções, dobra-se pela manutenção da ilusão de poder, é inseguro e completamente destituído de coragem e iniciativa. Daí a impressionante sucessão de coincidências a que assistimos.

De repente, os dois maiores partidos portugueses fazem um pacto legislativo para uma regulamentação eleitoral, visando já as próximas autárquicas, que inviabilizaria na prática as candidaturas independentes. Analisado o projecto em detalhe, parecia que tinha sido feito para impedir por expediente normativo a candidatura independente de Rui Moreira, ou seja, impedir que o voto popular se entregue a independentes não sujeitos aos diferentes directórios partidários.

Perante o escândalo da medida e a reacção enérgica de Rui Moreira, liderando uma reacção das diferentes candidaturas independentes, António Costa saiu de fininho e Rui Rio ficou sozinho a pagar a despesa de tão indigesto jantar. Foi das cenas tristes da política portuguesa recente, uma entrada de leão com saída de sendeiro. Uma chatice, portanto.

Há quatro anos, em vésperas de eleições, o PCP tirou da cartola o que viria a ser conhecido como caso Selminho. Com azar, não conseguiu travar o candidato independente. O caso seria arquivado, porque não podia não ser arquivado. A justiça entendeu que não se devia ocupar de efabulações rebuscadas e insinuações mal intencionadas, agindo em conformidade. Ficou mal o PCP e quem com ele se empenhou neste número de terceira categoria.

Como não há nada para pegar com Rui Moreira e a sua gestão, restava requentar o prato, fazer um número jogando com o tempo. Curiosamente, ou não, o Ministério Público ataca de novo com o caso Selminho. Desta vez, novamente em coincidência impressionante com os tempos e prazos do calendário eleitoral.

Alguma alma mais maldosa poderia pensar que o sistema se protegia em duas frentes, se Rio não conseguisse a sua vingança na secretaria, o Ministério Público remediava a falha com um mediático anúncio de processo. As reacções de Rio deixariam a tal alma desconfiada a pensar que tinha mesmo razão.

Há, contudo, um obstáculo de peso: a realidade. A realidade tem sempre de se meter no meio dos planos dos mais afoitos. De repente, as pessoas não compreendem como é que Rui Moreira beneficiou a família, se a família ficou sem o terreno em causa por via de uma acção da Câmara Municipal presidida por… Rui Moreira. Entretanto, a Câmara recupera o terreno e aumenta o seu património, a Selminho entrega o terreno e perde património.

É a lógica inversa do que estamos habituados com banqueiros, governantes, gestores da esfera pública e autarcas do sistema; geralmente é o património destes que aumenta e o do Estado que diminui. Talvez seja a inversão desta lógica consolidada que tanto preocupa o sistema.

De Campanhã à Foz, o Porto cresce como nunca. Liberto de partidos, o Porto afirmou-se como cidade cosmopolita no quadro mundial. O Terminal Intermodal, o Bulhão, o Batalha, o Coliseu, a requalificação do maior parque de habitação social do país, a eficácia de referência no combate à pandemia, as diferentes infraestruturas culturais e desportivas e tantas, tantas outras obras de enorme impacto projectam a cidade no futuro e restauram o orgulho portuense.

A cidade triste e fechada deu lugar à cidade alegre, desfrutada por todos. Boas contas deixaram de ser sinónimo de atavismo provinciano e provaram ser compatíveis com progresso e cosmopolitismo. A cidade revê-se num presidente que se move à vontade, tanto no quadro nacional, afirmando o Porto por direito próprio, como no plano internacional, promovendo a cidade sem complexos, maximizando todo o seu potencial.

A isto, junta-se o pacto de confiança estabelecido, e permanentemente renovado entre o Presidente e os portuenses. Não é sério quem passa a vida a gritar sê-lo, é sério quem age sempre como tal, e como tal é sentido e reconhecido.

Não há editorial encomendado que perturbe esta realidade. Há só uma coisa que interessa aos portuenses, a disponibilidade de Rui Moreira para continuar a liderar esta caminhada conjunta rumo ao futuro, e isto só depende de Rui Moreira e dos portuenses. O resto é ruído e mau perder, duas coisas que o Porto não aprecia.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.