Há um tema que tem sido priorizado no âmbito da campanha eleitoral para as legislativas, e ele é o crescimento económico.

Com efeito, não chega dizer-se que se tem crescido recentemente acima da média europeia, quando o país tem perdido posição face aos países “recentemente aderentes”. Mas também não é sério, intelectualmente, culpar a atual governação por esta anemia económica, quando se sabe perfeitamente que num horizonte de uma ou duas décadas o ritmo médio de crescimento da economia  até foi inferior ao dos últimos anos.

No entanto, a afirmação de que a economia cresce pouco não deixa de ser uma crua realidade. Mas quando se pretende prosseguir um objectivo sustentado de crescimento económico, há que saber dosear a aposta em cada uma das variáveis que contribuem para o Produto Interno, designadamente o consumo (público e privado), o Investimento (público e privado) e as exportações.

Quando se refere que o modelo em curso deveria assentar no Investimento e nas exportações (aqui a crítica não colhe, dado o crescimento efetivo delas, mesmo no pós-pandemia), não se pode descartar “para as calendas”, mas com critério, as vertentes do consumo privado (maiores rendimentos auferidos pelas famílias) e também do consumo público, no pressuposto do Estado assegurar bons níveis de funcionamento dos serviços públicos essenciais. A situação social no curto prazo poderia tal não tolerar.

Relativamente ao investimento, devemos assinalar que nos últimos anos o nível do investimento público foi demasiado baixo, aguardando-se que a implementação do PRR venha de uma forma integrada potenciar os níveis de produtividade. Mas reconheça-se desde já que os motores do crescimento no futuro terão que estar assentes na iniciativa privada, na sua capacidade de inovação, criação de riqueza com valor acrescentado.

E entramos aqui no cerne da questão do crescimento económico/produtividade, que tem a ver com um diagnóstico dramático: 45% do emprego está afecto às micro e pequenas empresas as quais apresentam níveis médios de produtividade 30% abaixo das empresas situadas noutros patamares!

A propósito, devemos ter em conta afirmações, como a do ainda ministro da Economia, que, no decorrer de um recente evento empresarial, foi claro ao denunciar que no atual contexto de instabilidade, há já bastantes empresas que não conseguem acompanhar o ritmo de adaptação exigido pela competitividade do mercado. O que existe de facto é, em geral, um sub-dimensionamento empresarial, ou seja, falta de escala que não gera produtividade. E é este um factor bloqueador da competitividade, e logo do crescimento potencial da economia.

Operações de  inovação, redimensionamento (v.g. fusões e aquisições) e de requalificação dos recursos tecnológicos e humanos terão que ser assumidas como necessárias. Mas, ao lado de qualquer apoio de um Governo ao investimento privado (por exemplo, uma descida do IRC generalizada, e outras), tem que também haver a “cultura” por parte da classe empresarial de novas atitudes de assunção de risco e de novas formas de organização e gestão. Aliás, como demonstraram alguns setores/empresas há alguns anos condenados “publicamente” ao desaparecimento, que entretanto assumiram as estratégias adequadas.

A  reestruturação do nosso tecido empresarial não passará apenas por medidas generalizadas, que eventualmente conduzam a “injectar dinheiro bom em cima de dinheiro mau”, situação esta que está provado não ser bem-sucedida.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.