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Reestruturação radical da Brussels Airlines para sobreviver: corte de 30% na frota e de 25% no pessoal

A companhia aérea de bandeira belga está a perder um milhão de euros por dia desde que deixou de voar, a 21 de março. Empresa quer reduzir mil postos de trabalho e passar de 54 para 38 aviões para assegurar a sobrevivência e atingir lucros.
12 Maio 2020, 19h03

A companhia aérea de bandeira belga Brussels Airlines é mais uma das vítimas da pandemia e viu-se forçada a avançar com um plano de reestruturação para fazer face ao impacto da Covid-19, que foi hoje, dia 12 de maio , apresentado publicamente.

Vai ser obrigada a reduzir o pessoal em cerca de 25% (cerca de mil funcionários) e a sua frota em 30%, de 54 para 38 aviões, ainda antes de obter apoios do Estado belga e do seu acionista Lufthansa. Mais um aviso ao Governo português e aos acionistas e trabalhadores da TAP.

“O impacto extremamente negativo da crise do coronavírus na estrutura financeira da companhia e a muito baixa procura existente para o transporte aéreo obrigaram a Brussels Airlines a tomar um conjunto de medidas substanciais e indispensáveis para garantir a sobrevivência da empresa”, destaca um comunicado da companhia áerea controlada pelo Estado belga e pela Lufthansa.

De acordo com esse comunicado, “para garantir um futuro para a Brussels Airlines, a transportadora necessita reduzir estruturalmente os seus custos para um nível competitivo”, acrescentando que, “adicionalmente, para superar esta crise sem precedentes, a companhia solicita apoio de ambos os seus acionistas, a Lufthansa e o Governo belga”.

“No âmbito deste plano de recuperação, a Brussels Airlines  está a atacar de forma estrutural a sua estrutura de custos e a optimizar a sua rede, eliminando rotas marginalmente rentáveis ou não rentáveis, o que resultará numa redução de frota de 30%. A dimensão global da companhia e, por consequência, da sua força de trabalho, será reduzida em 25%”, adianta o referido comunicado.

Os responsáveis da Brussels Airlines sublinham que “como um empregador socialmente responsável”, a empresa “irá trabalhar em conjunto com os seus parceiros sociais para reduzir a um absoluto mínimo o número de despedimentos forçados”.

“A companhia está confiante que com este plano de recuperação [‘turnaround’] será capaz de salvaguar 75% dos seus empregos e de crescer de novo de uma forma lucrativa tão depressa quanto a procura por viagens aéreas recupere para um novo normal, o que se espera venha a ocorrer em 2023″, assinala o comunicado da Brussels Airlines. Alcançar lucros estruturais é essencial para assegurar o futuro da empresa e novos investimentos, ao mesmo tempo que é capaz de proteger contra a possibilidade de novos ventos contrários”, alerta a administração da Brussels Airlines.

O comunicado em questão acrescenta que, “em todo o mundo, a crise do coronavírus está a colocar uma pressão sem precedentes nas companhias aéreas com um impacto total esperado de mais de 240 mil milhões de euros nas receitas. As novas reservas caíram mais de 60% e os cancelamentos atingiram recordes históricos. Como consequência, muitas companhias [aéreas] ao longo de toda a Europa e além estão a ser obrigadas a proceder a cortes de empregos massivos”.

“Infelizmente, a Brussels Airlines não foi poupada por esta crise. Desde a suspensão temporária de todos os seus voos (iniciada a 21 de março), a companhia está a perder um milhão de euros por dia devido à perda de receitas e a custos que não podem ser evitados, como os custos do ‘leasing’ das aeronaves e da manutenção”, justificam os responsáveis da companhia aérea belga.

O mesmo comunicado acrescenta que, a 28 de fevereiro, a companhia anunciou pela primeira vez o impacto na procura de tráfego aéreo, explicando que a situação se foi deteriorando de semana para semana, com semanas em que o número de cancelamentos superou o número de novas reservas.

“Ainda hoje, a procura é muito baixa e, de acordo com analistas e especialistas, a procura por viagens aéreas em 2021 deverá 25% inferior à da época anterior à crise e a indústria [da aviação] apenas pode contar com um regresso da procura aos níveis de 2019 para o início de 2023”, assinala o comunicado da Brussels Airlines.

“Iniciámos o ano de 2020 com resultados positivos em termos do número de passageiros e de receitas; e, para este verão, tínhamos planeado uma forte oferta de lazer para compensar do negócio que tínhamos perdido devido à falência da Thomas Cook Belgium. Mas a pandemia do coronavírus está a atingir de forma extremamente dura a Brussels Airlines. Não tivemos outra alternativa a não ser suspender temporariamente os nossos voos a partir de 21 de março e avançar com o desemprego técnico [equivalente a0 ‘lay-off’ em Portugal] para toda a companhia. Esta crise sem precedentes agravou a nossa situação financeira, obrigando-nos a tomar medidas substanciais e indispensáveis. Esta reestruturação é necessária para sobreviver à crise em curso e para nos tornarmos estruturalmente competitivos no futuro”, explica Dieter Vranckx, CEO da Brussels Airlines.

As principais medidas deste plano de reestruturação da Brussels Airlines passam pelo reequacionamento da rede da companhia área, focando-se nas necessidades do mercado e optimizando a rentabilidade das rotas; adaptação da frota, de acordo com a otimização da rede, de 54 para 38 aviões (- 30%); e redução dos custos com pessoal, com corte de empregos em 25%.

Está também prevista a redução da sobrecarga dos custos operacionais, o aumento de eficiência operacional, entre outras medidas, como a melhoria da produtividade e a estandardização futura da frota, por exemplo.

“A intenção da Brussels Airlines é investigar o máximo de soluções possíveis para limitar o número de saídas [de trabalhadores] forçadas. Desta forma, a companhia convida os seus parceiros sociais para avaliar em conjunto medidas alternativas para reduzir o impacto social numa extensão máxima; medidas como contratos sazonais, pensões, trabalho em ‘part-time’, licenças não remuneradas, saídas voluntárias de quem irá procurar o futuro noutro local – para nomear apenas algumas das opções”, conclui a Brussels Airlines

Os responsáveis da companhia aérea consideram que é crucial alcançar um EBIT suficientemente positivo, para permitir à empresa assegurar o seu futuro, investir na sua frota e desenvolver ainda mais o seu ‘hub’ no aeroporto de Bruxelas. Além disso, a empresa pretende continuar a desempenhar um papel de ‘pivot’ na economia belga e permanecer como uma das companhias aéreas essenciais do Grupo Lufthansa.

“A força da nossa companhia são os nossos empregados e fazemos tudo o possível para proteger o nosso pessoal. A forma como lidamos com o impacto social é para nós tão importante, como o objetivo último a atingir. É responsabilidade da administração assegurar que a companhia consegue sobreviver à crise, Mas, sejamos claros, a intenção não é apenas sobreviver , mas construir uma companhia saudável com lucros estruturais de longo prazo e perspetivas de crescimento. Acreditamos fortemente neste plano e, por conseguinte, no futuro da Brussels Airlines”, assume Dieter Vranckx.

Enquanto o plano de reestruturação é indispensável para superar esta crise, as negociações em curso com a Lufthansa e com o Governo belga “continuam a ser essenciais”.

“A companhia aérea de bandeira belga espera por um resultado positivo das conversações com as autoridades belgas em relação ao apoio financeiro que é necessário para ultrapassar as consequências desta crise sem precedentes, enquanto procura apoio junto da Lufthansa para a reestruturação de custos”, assinala o referido comunicado.

A Brussels Airlines liga Bruxelas, a capital belga, a mais de 80 destinos, dos quais 17 se localizam na África subsariana, continente que a transportadora considera ser a sua segunda casa.

A companhia aérea disponibiliza 65 opções de destino na Europa, três na América do Norte e ainda Tel Aviv, em Israel.

A companhia emprega cerca de quatro mil funcionários e opera 48 aviões que efetuavam 250 voos diários antes do começo da crise da Covid-19.

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