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Italexit? Referendo pode colocar a Europa (de novo) em risco

A subida das intenções de voto que dizem “não” ao referendo italiano sobre alterações constitucionais pode levar à ascensão do partido anti-Europa do comediante Beppe Grillo, tornando cada vez mais provável o ‘Italexit’.
  • Tony Gentile/Reuters
15 Novembro 2016, 13h20

No próximo dia 4, a Itália vai a votos para referendar a proposta do Governo de Matteo Renzi, que pretende acabar com o equilíbrio de poderes entre o Congresso de Deputados e o Senado. No caso de a proposta fracassar, o Movimento Cinco Estrelas pode vir a ascender junto do eleitorado, gerando um terramoto político que colocará a economia da zona euro em risco.

Depois do ‘Brexit’, o ‘Italexit’ tem conquistado popularidade nas últimas semanas. Numa Europa que ainda está a digerir o trauma do referendo que deu vitória ao ‘Brexit’ e as presidenciais norte-americanas que colocaram Donald Trump como novo inquilino da Casa Branca, há já quem preveja que o referendo das próximas semanas possa lançar a Itália num pântano político.

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, quer resolver nas urnas a ingovernabilidade crónica de Itália, propondo a diminuição do peso do Senado, de 315 assentos para 100, impossibilitando assim que este órgão governativo vete orçamentos públicos e derrube executivos através da aprovação de moções de censura.

Segundo informação avançada pelo jornal ‘Observador’, o sistema bicamarário atual foi introduzido logo após a Segunda Guerra Mundial, para garantir que o surgimento de um novo ditador como Benito Mussolini seria travado. Contudo, este sistema político conduziu a que a aprovação de uma proposta de lei ou a sua moção demorasse anos a ser feita, levando à transição interminável das propostas do Senado para o Congresso (e vice-versa), o que dificulta a implementação de reformas em várias áreas importantes para a política económica. Com isto, em 70 anos, a Itália viu nascer 63 governos desde da Implantação da República em 1946.

Inicialmente as sondagens davam vitória às alterações constitucionais propostas de Renzi, que ameaçou demitir-se no caso de estas não virem a ser aprovadas pelos eleitores, mas nas últimas semanas as intenções de voto parecem estar a inverter o sentido e o número de indecisos mantém-se ainda elevado.

O Nobel da Economia, Joseph Stiglitz já se pronunciou sobre o caso dizendo que a Europa está a caminhar para um “evento catastrófico” e insiste que Renzi deve cancelar o referendo para evitar que este assuma proporções incontroláveis, como o que está ainda por calcular em relação à saída do Reino Unido da União Europeia, hipótese que foi rapidamente descartada pelo primeiro-ministro italiano.

A situação instável em Itália e a eventual queda por terra da proposta de Renzi ameaça beneficiar o partido anti-Europa do comediante Beppe Grillo, o Movimento Cinco Estrelas, que garante que a prioridade será fazer um referendo em relação à permanência de Itália na zona euro.

A terceira maior economia da Europa tem apresentado um crescimento ligeiro – apenas 0,7% em 2015, cerca de metade do registado em Portugal em igual período – e entre os italianos começasse a apontar o dedo ao euro como causador da situação económica ténue.

No entanto, segundo o editor de economia do Financial Times, citado pelo ‘Observador’, Wolfgang Münchau, “uma saída da zona euro por parte de Itália levaria ao colapso total da união monetária num período de tempo muito curto. O que levaria, provavelmente, ao choque económico mais violento da História, maior do que a bancarrota do Lehman Brothers em 2008 e do que o crash de 1929 em Wall Street”. É caso para dizer que a terra pode voltar a tremer em Itália e desta vez pode arrastar consigo toda a comunidade de países pertencentes à união monetária.

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