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O referendo italiano visto de Lisboa

Dois casos diferentes de cidadãos de Itália que vivem em Portugal.
4 Dezembro 2016, 08h00

No referendo constitucional de domingo em Itália, Marcello di Salvatore vai votar sim; Simone Tulumello vota não. Marcello, nascido em Abruzzo, a meio caminho entre os Apeninos e o Mar Adriático, vive há quase 11 anos em Portugal, chegou para ajudar um amigo na área do imobiliário. “Gostei muito da atmosfera e da luz de Lisboa”, confessa. E, por isso, ficou.

Depois, tornou-se chef do restaurante “Bella Ciao”, na Baixa lisboeta. Para trás ficavam 17 anos a trabalhar em restaurantes na Alemanha, junto ao deslumbrante rochedo de Loreley, à beira-Reno. “Não sigo muito a política, não tenho qualquer partido, gosto de algumas coisas de Matteo Renzi e também do Movimento 5 Stelle. Vou votar sim porque me parece que envolve mais pontos positivos do que negativos, mas penso que será o não a ganhar e o povo a sofrer, como sempre”, argumenta.

Casado com uma portuguesa e com um filho de oito anos (Lorenzo), considera que o crédito malparado acumulado pela banca italiana “está ligado à corrupção”, queixa-se “do excesso de desemprego e da falta de trabalho” em Itália, além de lembrar que a imigração “também está a criar problemas”. De Berlusconi nem quer ouvir falar. “É um vendedor de ar, um dos exemplos do pior que há nos políticos: a mentira.”

Tulumello, natural de Palermo, é mestre em Engenharia Civil e Arquitetura, doutorado na área de planeamento urbano e regional, exercendo o papel de investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa com um projeto principal que “visa questionar as políticas de segurança urbana na prática institucional de planeamento urbano”. Já vai na terceira presença em Portugal, depois de uma em 2004/05 e outra em 2011.

“Faço investigação aqui e lá”, revela, indicando que mantém contacto permanente com o país. “Vou votar não porque considero que este referendo não está feito da melhor forma, embora espere que Renzi não se demita. As propostas sobre a Constituição devem partir do Parlamento e não do Governo, mas não me sinto representado pelas outras forças políticas para fazer cair o Executivo. Este Governo e os dois anteriores não saíram de grandes maiorias eleitorais, mas de acordos parlamentares entre forças que não se candidataram juntas.”

Quanto a receios de que haja reflexos no posicionamento italiano face à União Europeia ou ao euro, Simone afirma: “Os mercados vão sempre especular desde que o queiram. A verdade é que aquilo que suceder não terá qualquer efeito na capacidade de Itália pagar a sua dívida e cabe às instituições do país demonstrarem isso mesmo. Turbulência existirá, claro, pois haverá sempre quem pretenda aproveitar-se disso.”

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