Estamos numa fase bíblica da economia internacional: andam todos à procura do próximo sinal. Agora vaticina-se uma recessão a curto prazo.

As causas apontadas são diversas: o Covid ainda não ficou para trás, Rússia e Ucrânia estão em guerra com consequências sobre os preços de bens de base (alimentares, energia e alguns metais), a inflação e o apertar da torneira monetária; a última é a recente inversão da curva dos rendimentos (a yield curve) dos títulos do Tesouro americano quando temporariamente o rendimento dos títulos a 10 anos caiu para 2,331% e a dos títulos a 2 anos subiu para 2,337%. Já no século passado as recessões seguiam-se a inversões da yield curve – temos pela frente uma recessão?

O risco é real, não imaginário: tardou-se a reagir à subida da inflação, em particular nos EUA, logo as medidas para a travar serão mais violentas. Para maio e junho esperam-se duas subidas da taxa de juro de 0,5 pontos, já não 0,25. Isto quando a taxa a 10 anos aumentou 86 pontos base desde o início do ano, para 2,375%, dos quais 54 pontos em março, e a taxa a dois anos aumentou 140 pontos base, metade em março. Powell promete ir longe se for preciso, mais parece falcão que pomba.

Mas, muito importante, nunca a política monetária foi tão acomodatícia – o balanço da Reserva Federal norte-americana passou de 0,8 milhões de milhões de dólares para mais de 8,5 em poucos anos, “puxando” artificialmente a taxa para baixo; agora é o momento da correção.  Isto distorce qualquer projeção que se faça baseada no passado das implicações da subida dos juros sobre a economia. Como escreve Shuli Ren na Bloomberg Businessweek, “the yield curve is getting flatter by design”, isto é, os bancos centrais deram cabo do principal barómetro do risco de recessão.

Alta ou baixa pressão, o que sabemos? A inflação está praticamente nos 8% nos EUA, é 7,7% na OCDE, a taxa mais alta desde 1990, 7,5% na União Europeia, a mais alta de que há registo, 6,2% no Reino Unido. É assim em todo o lado (10,5% no Brasil, 15,6% na lituânia, 61% na Turquia). A China está de novo em lockdown. Os problemas das cadeias de abastecimentos estão por resolver. Mas, citando Chris Dillow, toda a gente diz que temos um problema de inflação e está toda a gente errada.

Estamos a aterrar num novo modelo de produção, relocalizada onde o just-in-time deu lugar ao just-in-case, menos intensiva em energia e com custos de inputs mais altos. Há que aumentar a produtividade. O problema principal passou a ser outro, simples de formular, difícil de responder: num mundo com inflação e restrições na disponibilidade de matérias-primas, onde a taxa de juro aumenta e as políticas orçamentais têm limitações, como se estimula o investimento? E, num contexto de recursos escassos, que investimento?

A pergunta é velha, mas como dizem Weston e Copeland no seu livro sobre Corporate Finance, as perguntas são sempre as mesmas, as respostas é que mudam.