[weglot_switcher]

Reino Unido: Boris Johnson sobrevive a voto de censura dos conservadores

Os deputados do próprio partido do primeiro-ministro votaram moção de censura, mas o primeiro-ministro conseguiu passar pelos pingos da chuva. De qualquer modo, não tem como deixar de sair politicamente enfraquecido.
6 Junho 2022, 20h31

Boris Johnson ganhou o voto de confiança dos deputados conservadores por 211 votos contra 148. Mas, para todos os efeitos, como salientam os analistas britânicos, há um antes e um depois desta segunda-feira: Boris Johnson não terá como recuperar a aura que o fez ganhar uma confortável maioria absoluta em dezembro de 2019.

Pouco antes de a votação começar, pelas 18h00, Boris Johnson fez um último apelo pedindo o apoio e um voto de confiança, dizendo aos seus parlamentares que derrubar o primeiro-ministro seria “dançar ao som dos média” e mergulhar os conservadores numa guerra civil. Não seria tanto, mas o partido com certeza seguiria para um processo de substituição que o desgastaria, numa fase em que os trabalhistas mas principalmente os liberais estão em alta.

De facto, as votações regionais que sucederam em 2021 e já este ano determinaram uma aparente viragem do país para essa espécie de terceira via, alternativa tanto aos trabalhistas quanto aos conservadores, que são os liberais. Do mesmo modo, os verdes também têm conseguido resultados assinaláveis.

No seu apelo, Johnson comprometendo-se a liderar o partido nas próximas eleições gerais, explicando ao famoso Comité 1922 que o seu afastamento seria só serviria para abrir caminho a uma vitória eleitoral trabalhista.

“A única maneira de deixar isso acontecer é se formos tão tolos a ponto de cair num debate inútil e fratricida sobre o futuro do partido, quando francamente não ouvi uma visão alternativa”, disse, citado pela imprensa britânica.

Johnson fez ainda uma vaga promessa de futuro corte de impostos, dizendo que faria um discurso sobre a economia na próxima semana – uma espécie de relançamento do seu governo, para todos os efeitos bastante afetado pelo PartyGate.

“Se me derem o vosso apoio esta noite, temos a possibilidade de parar de falar sobre nós mesmos e começar a falar exclusivamente sobre o que estamos a fazer pelo povo deste país”, afirmou. E prometeu que contribuiria para deixar para trás dois anos e meio de “discussões inúteis” sobre o Brexit, o mercado único e a saída da União Europeia. Desgraçadamente (para o próprio), o debate sobre estas matérias vai inevitavelmente impor-se na agenda do primeiro-ministro, quer ele queira quer não. De qualquer modo, alguns dos que lhe são mais próximos aproveitaram os últimos dias para afirmarem que um Brexit favorável aos britânicos seria, nesta altura, impossível sem a presença de Boris Johnson.

Como seria de esperar, Johnson lembrou aos parlamentares que a maior vitória eleitoral dos conservadores em 40 anos foi sob a sua liderança, deixando a perceção de que é o único a, eventualmente, conseguir repeti-la. De qualquer modo, a imprensa britânica apressou-se a desmentir o primeiro-ministro: Margaret Thatcher ganhou maiorias com mais 144 e mais 102 deputados conservadores que trabalhistas em 1983 e 1987, respetivamente – ou seja, Johnson é o melhor nos últimos 30 anos e não em 40.

A opinião consistente em Downing Street é que, dado que o primeiro-ministro não foi multado por participar nos eventos da PartyGate, pois sua a presença foi considerada necessária para o trabalho, não fez nada de errado em comparecer. A única multa de que foi alvo está ligada a um evento separado: a sua própria festa de aniversário.

O discurso ocorreu duas horas antes de os parlamentares conservadores começarem (votação secreta) sobre o futuro de Johnson, depois de mais de 54 conservadores (pelo menos 15% dos deputados à câmara dos comuns) terem enviado cartas de desconfiança ao Comité 1922.

Os ministros deixaram uma reunião do gabinete para dizerem à comunicação social que estavam confiantes que Johnson sobreviveria à votação.

Pouco antes da votação, o site ConservativeHome divulgou os resultados de uma sondagem própria segundo a qual 55% dos conservadores (contra 41%) era favoráveis a que os deputados votassem contra a permanência de Boris Johnson na chefia do executivo britânico. Uma sondagem revelada pouco antes, desta vez do YoyGov, afirmava precisamente o contrário: uma maioria de 53% apoiava Johnson contra 42% que achavam que o primeiro-ministro devia ser demitido.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.