A antecipação do reembolso ao Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá ser aprovada pelos credores europeus, uma vez que a rejeição do pedido seria “um sinal no sentido negativo” para os mercados, segundo os analistas contactados pela Lusa.
A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, anunciou hoje no parlamento que o Governo vai pedir autorização aos parceiros europeus para proceder ao reembolso antecipado do empréstimo pedido ao FMI, seguindo assim o exemplo da Irlanda, que também já devolveu parte dos créditos concedidos pelo Fundo antes do prazo inicialmente acordado.
Questionado pela Lusa sobre os impactos de uma eventual rejeição da Comissão Europeia ao pedido do Governo, uma condição necessária para a operação, Rui Bárbara, do Banco Carregosa, disse que isso poderia dar um sinal negativo aos mercados.
“Se os parceiros europeus vissem com maus olhos o pagamento ao FMI, isso podia significar que eles achariam que Portugal não conseguiria pagar a dívida que tem para além da do FMI”, incluindo a dívida contraída junto dos credores europeus, explicou o economista.
Por isso, para Rui Bárbara, “não parece que haja problemas” em a Comissão Europeia aprove o pedido, até porque, se Bruxelas negasse alegando que “pode não haver dinheiro para todos”, isto “seria um sinal no sentido negativo” para os mercados.
Também Steven Santos, gestor da corretora XTB Portugal, considerou que uma rejeição do pedido seria “um retrocesso” e um “volte-face bastante grave” para Portugal.
“Nos mercados poderia haver a leitura de que Portugal ainda não está preparado para se financiar de forma autónoma nos mercados de dívida, o que seria bastante negativo”, afirmou Steven Santos.
Ainda assim, o analista defendeu que é “mais provável” que haja luz verde de Bruxelas, porque “são reconhecidos os elogios às reformas” e “aos esforços dos portugueses” e porque “também é do interesse dos credores internacionais terem um reembolso antecipado, apesar de terem de abdicar de algum rendimento”.
Para o gestor da XTB Portugal, o reembolso é “uma boa oportunidade” de baixar o custo médio da dívida portuguesa, recordando que neste momento ronda os 3,6%, embora tenha alertado para eventuais riscos da operação.
“Existe aqui também um risco bastante acentuado, não só porque temos necessidades de financiamento grandes nos próximos anos, mas também porque não temos ainda uma classificação de investimento” das três maiores agências de ‘rating’, advertiu Steven Santos, referindo também os riscos políticos em ano de eleições.
De acordo com a Agência Gestão da Dívida Pública (IGCP), as necessidades de financiamento nos próximos três anos ultrapassam os 45.000 milhões de euros.
Por outro lado, apenas a agência de notação financeira canadiana DBRS atribui à dívida portuguesa uma nota de investimento, enquanto Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch mantêm Portugal no ‘lixo’.
Também Filipe Garcia, da Informação de Mercados Financeiros (IMF), antecipa que Bruxelas autorize a amortização antecipada do empréstimo contraído junto do FMI e acredita que a decisão terá sido previamente coordenada com as instituições europeias.
“Além de me parecer lógico que [Bruxelas] autorize, custa-me a crer que um anúncio deste tipo não tenha sido ponderado em conjunto com os parceiros europeus. Seria um sinal de alguma descoordenação se, por acaso, viesse da Europa uma palavra negativa ou de dizer que não foram tidos nem achados”, argumentou.
O analista considerou que o anúncio de Maria Luís Albuquerque “não constitui uma grande surpresa” e que se trata de “um passo lógico, que se pode justificar”, até porque, desta forma, a situação portuguesa fica a ser discutida “apenas entre Portugal e a Europa, sem terceiros”.
De acordo com Filipe Garcia, antecipar a amortização ao FMI faz de Portugal um bom exemplo, na medida em que, apesar de ter precisado do apoio do FMI, o país “não só conseguiu equilibrar a sua situação como [conseguiu] reembolsar [o empréstimo] antecipadamente”, considerando que é “um bom histórico”.
Os analistas contactados pela Lusa afirma que aquilo que terá um real impacto na negociação da dívida pública portuguesa serão as medidas de política monetária anunciadas pelo Banco Central Europeu, nomeadamente no que se refere ao programa de compra de títulos soberanos.
A Lusa contactou o FMI e a Comissão Europeia mas até ao momento ainda não foi possível obter qualquer informação relativamente à decisão. Fonte tutela disse não ter esclarecimentos a acrescentar além dos adiantados pela ministra das Finanças.
OJE/Lusa