Há uma sensação de inexorável naufrágio iminente, de catástrofe ao virar da esquina, quando sabemos que a Justiça deixa ir passear Ricardo Salgado à Sardenha. Ao ver isto, bastou a João Rendeiro vestir a personagem de Leonardo Di Caprio no filme de Steven Spielberg e dizer com gozo: “apanha-me se puderes”.

São demasiados erros e alçapões na lei – explorados por advogados pagos a peso de ouro – que permitem aos poderosos e milionários (que à comunidade tentam vender a imagem que não têm bens nem património) deste país usar todos os estratagemas jurídicos para adiar, fugir ou prescrever possíveis sentenças de culpabilidade.

Aliás, é tempo de reflectir se aquela posição quase deitada na cadeira de José Miguel Júdice a comentar na SIC-Notícias, é fruto da sua coluna estar pouco direita por ter sido o defensor do ex-líder do BPP e ser representante legal em duas sociedades off-shore que João Rendeiro criou.

Sabemos que todos os cidadãos têm o direito à sua defesa, contudo, também é importante registar os sabujos, advogados sem alma e apenas crentes no vil metal que apoiam e são colaboracionistas de alegados vigaristas, farsantes e corruptos.

Como escrevia Mark Twain, “o homem que não lê não tem mais mérito do que o homem que não sabe ler”, neste caso, quem coadjuva e apoia um fora-da-lei também não tem mais mérito ou moral do que ele.

Num filme brasileiro de António Carlos Fontoura, “Copacabana me engana”, a personagem de Paulo Gracindo afirma: “quando a lei é imbecil se dá um jeitinho”. O interlocutor responde: “você faz girar a terra do lado que você quer”. E é assim que os poderosos se habituaram a lidar com a lei.

Mas há outro facto que não podemos deixar de condenar. João Rendeiro, quando já se encontrava envolvido por acusações graves, decidiu criar um blog onde comentava tudo o que lhe apetecia. Nesses tempos chegou a ser convidado para comentar em televisões, o que é, no mínimo, vergonhoso, e assim vivia na artificialidade de quem nem ligava a condenações como se todos os procedimentos transcritos do processo e do conhecimento público fossem normais.

E este triste espectáculo entronca no mais grave. A facilidade com que o Deus da porcaria engana os portugueses que rapidamente endeusam figuras como Salgado, Mexia, Zeinal, Vaz Guedes, Rendeiro, Berardo e tantos outros que evidenciam que durante décadas fomos enganados por uma elite medíocre e inculta que hoje continua milionária e sem vergonha de mostrar a cara na rua.

Todos os rostos citados, envolvidos em processos judiciais graves pelo que é publicado na comunicação social, causam asco, repugnância na grande maioria dos portugueses honestos. É apenas repulsa porque não podem fazer nada contra eles e esse sentimento é agravado pela percepção de que a Justiça, de alguma maneira, os protege. E os advogados colaboracionistas e sem espinha dorsal também. João Rendeiro é só mais um a escapar à vista de todos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.