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Respostas Rápidas: Chefe do governo espanhol outra vez em Marrocos. Para quê?

Poucas semanas depois da última visita, Pedro Sánchez está novamente em Marrocos, desta vez para conseguir um acordo que permita o controlo eficaz dos fluxos de imigrantes. Mas as coisas não são assim tão simples e a Frente Polisário tentará no terreno impedir o sucesso do encontro.
8 Abril 2022, 17h00

Que levou o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, mais uma vez a Marrocos?

Oficialmente, Pedro Sánchez desloca-se esta quinta-feira a Rabat com o objetivo de selar um acordo que garanta a cooperação de Marrocos no controlo dos fluxos migratórios, proíba ações unilaterais nas relações entre os dois países e garanta o respeito pela integridade territorial de ambos, que inclui Ceuta e Melilla. Estas foram as três contrapartes que Sánchez incluiu na sua carta a Mohamed VI de 14 de março.

 

E a questão do Saara Ocidental?

Precisamente, esse é todo o problema. É que, para impor o respeito pela integridade dos territórios espanhóis em Marrocos – situação que merece décadas de críticas vindas das mais diversas origens – Sánchez teve de ‘oferecer’ uma mudança de posição face à questão do Saara Ocidental.

 

O que é que mudou?

Espanha é vista como a potência administrante do território, o que na prática não quer dizer nada: é Marrocos quem põe e dispõe do território, apesar de a Frente Polisário vir há décadas a lutar contra essa situação. Essa luta envolveu iniciativas militares que Rabat considerou sempre terrorismo, mas que eram apoiadas pela quase totalidade da esquerda europeia. Por outro lado, a questão do Saara foi sempre impeditiva de um entendimento distendido entre Marrocos e a sua vizinha Argélia – país que de forma mais ou menos clara tem (mas nem sempre) financiado a Frente Polisário. Sánchez disse, na sequência da visita a Marrocos, que reconhece a soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental, e que considera útil que o território tenha autonomia governativa. Mal se soube desta iniciativa, a Argélia chamou o seu embaixador em Madrid para esclarecimentos.

 

A questão foi bem aceite em Espanha?

O país, como seria de esperar, dividiu-se. A esquerda, nomeadamente aquela que faz parte da coligação do governo, o Unidas Podemos, não podia ser mais crítica desta mudança de Pedro Sánchez. Os independentistas, principalmente ao da Catalunha – que são constantemente chamados a ‘salvar’ o governo quando são precisos votos suficientes para formar um executivo ou fazer passar um Orçamente do Estado – também se mostraram muito surpreendidos com a decisão de Sánchez, que obviamente recusam. Mesmo no interior do seu próprio partido, o PSOE, a decisão do chefe do governo foi muito contestada. Ao contrário, a direita afirmou que finalmente o país reconheceu uma situação de facto.

 

Mudou mesmo alguma coisa?

Pelos vistos, depende dos pontos de vista. A esquerda espanhola (e a esquerda europeia) assim como parte do PSOE aceitavam que os habitantes do território deveriam ser chamados a votar em referendo patrocinado pela ONU sobre se querem a independência ou a integração em Marrocos. Prometido e previsto há décadas, esse referendo nunca esteve de facto para acontecer. Mas vale a pena ver-se a reação de José Luís Zapatero, antigo chefe do governo espanhol e também ele do PSOE: Zapatero acredita que a posição de Sánchez sobre o Saara é igual à sua desde 2008 e rejeita que haja “uma viragem histórica na posição do PSOE. Não é mais que a confirmação da posição que o meu governo tinha em 2008”.

Que saída para Pedro Sánchez?

Só uma: conseguir, como o acordo que pretende fechar com Marrocos, que os fluxos migratórios acabem mesmo. Se isso acontecer, o chefe do governo espanhol conseguirá um grande trunfo político – capaz inclusivamente de ser exibido na União Europeia. A maioria dos analistas considera, contudo, que esses fluxos não irão parar – até porque o governo de Rabat tem-se mostrado incapaz de os estancar na totalidade. Se se verificar essa incapacidade, Sánchez arrisca-se a ter apenas comprado mais uma guerra com o Unidas-Podemos – a não ser que seja isso mesmo que pretende!

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