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Respostas Rápidas: como é que a decisão de Trump sobre o Irão afeta os mercados?

Os EUA vão sair do acordo nuclear com o Irão, criando mais um foco de tensão no Médio Oriente e dúvidas sobre a possibilidade de sanções ao país. O mercado petróleo é o maior afetado (com um disparo dos preços da matéria-prima), mas não o único.
9 Maio 2018, 14h14

Donald Trump anunciou esta terça-feira que os Estados Unidos vão abandonar o acordo nuclear com o Irão e levou a um disparo do preço do petróleo e subida das yields e  do dólar. Os analistas ainda estão a ponderar se o efeito será ou não passageiro, sendo a maior dúvida o tempo que vai demorar. “Se o acordo se mantiver, haverá uma corrida às armas nucleares”, justificou o presidente norte-americano.

Porque é que a decisão tem implicações no mercado petrolífero?

O anúncio do presidente dos EUA não acaba com o acordo, que se mantém com os restantes países. No entanto, aumenta as preocupações sobre um novo foco de tensão geopolítica no Médio Oriente e as incertezas para o mercado petrolífero global. A questão é especialmente importante dado os esforços dos maiores produtores do mundo (especialmente a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP – e Rússia) em cortar a oferta.

O Irão é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com uma oferta diária superior a dois milhões de barris, sendo a China o principal cliente, mas com a União Europeia também na lista.

Quando Barack Obama e a UE sancionaram o Irão com um embargo à produção de petróleo, em 2012, a oferta caiu para metade. Desta vez, não é certo que possa voltar a acontecer já que França, Alemanha e o Reino Unido continuam a apoiar o acordo. Caso Trump retome as sanções, por exemplo vedando o acesso dos países compradores ao sistema financeiro norte-americano, poderá levar a um novo aperto na oferta e à subida dos preços.

Qual foi a reação dos preços do petróleo ao anúncio de Trump?

“A muito curto prazo, parece que o impacto da intensificação das preocupações geopolíticas foi limitado no mercado petrolífero, mas a história ainda não acabou”, afirmou Norihiro Fujito, estrategista sénior de investimento da Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities, à agência Reuters, considerando que a subida dos preços ainda não foi demasiado intensa.

Esta quarta-feira, o preço do crude WTI disparou para máximos de três anos e meio, tendo ultrapassado os 71 dólares por barril. Às 13h o preço da matéria-prima em Nova Iorque avançava 2,65% para 70,86 dólares, enquanto o brent sobe 2,44% em Londres para 76,68 dólares. “As sanções norte-americanas podem afetar várias indústrias e as tensões entre Irão e Israel parecem prontas a intensificar-se, o que irá começar a limitar os preços das ações”, acrescentou.

Outros mercados poderão ser afetados?

Sim. Esta quarta-feira, ações, câmbio e dívida também estão a ser penalizados, mas nestes casos, o efeito poderá ser mais passageiro. “Apesar desta decisão de Trump estar a ser encarada como grave, com possíveis implicações significativas para os mercados, pensamos que, enquanto o contexto macro e microeconómico se manter favorável, os mercados deverão ir absorvendo o impacto. A questão é se irá demorar horas ou dias”, refere uma nota da equipa de research do Bankinter, divulgada esta terça-feira.

Como é que as ações negociam após o anúncio?

A decisão foi apenas conhecida na terça-feira após o fecho do mercado europeu, portanto as reações estão a fazer-se sentir nesta sessão. Na Europa, as principais praças negoceiam mistas, com parte das bolsas a beneficiarem da subida dos preços da matéria-prima e outra a ser penalizada por questões políticas internas.

“A dificuldade em Itália conseguir chegar a um acordo entre partidos para chegar a uma maioria, podendo ter que avançar com eleições antecipadas, está a trazer uma sombra às bolsas europeias, com o índice alemão e francês a perderem a força altista e a não conseguirem reagir em alta com os mínimos consecutivos do EUR/USD”, afirmou Carla Maia Santos, da corretora XTB.

O alemão DAX desliza 0,05%, enquanto o francês CAC 40 perde 0,11%, enquanto o italiano FTSE MIB sobe 0,88%, o português PSI 20 ganha 0,31%, o espanhol IBEX 35 valoriza 0,11% e o britânico FTSE 100 avança 0,44%.

Nos EUA, as bolsas ainda negociavam e houve alguma cautela na leitura do discurso de Trump. Wall Street acabou por fechar na linha de água: o industrial Dow Jones somou 0,02% para 24.361,07 pontos, o tecnológico Nasdaq ganhou 0,02% para 7.266,90 pontos e o financeiro S&P 500 deslizou 0,03% para 2.671,93 pontos.

Porque é que o dólar está a subir?

Enrique Diaz Álvarez, diretor de risco da fintech de câmbio Ebury afirmou que, a curto prazo, o impacto está a ser positivo para o dólar, que se aprecia contra o euro, pela terceira sessão consecutiva, próximo de máximos das últimas 19 semanas. A moeda norte-americana valoriza 0,40% para 1,1940 dólares.

“Primeiro, o aumento da tensão internacional e a possibilidade de conflitos no Médio Oriente, resultam geralmente na compra de dólares como um recurso de refúgio. Em segundo lugar, o aumento do preço do petróleo como resultado dessa instabilidade tende a elevar a inflação e, com ela, as taxas de juros nos EUA, enquanto as da zona do euro continuam ancoradas pela política monetária do BCE. Isso amplia o diferencial de taxas entre as duas zonas monetárias, com a consequente pressão de alta na moeda norte-americana”, referiu Diaz Álvarez.

A longo prazo, o diretor de risco da Ebury considera que as consequências são “muito mais difíceis de prever”. Sublinha que a falta de fiabilidade dos EUA como parceiro internacional poderá forçar a Europa a reforçar mecanismos independentes de transações internacionais que não dependem do dólar. “Isso deve ajudar a estender o uso do euro como meio de pagamento internacional e, portanto, ser positivo para a moeda única”, diz.

O que é que se passa com a dívida dos EUA?

No mercado de dívida, o Bankinter alerta para as novas subidas, causadas pelo anúncio. As yields das Treasuries a 10 anos sobem 2,26 pontos para 2,998%, enquanto a dois anos negociam nos 2,52%.

“A volatilidade que Trump está a causar no preço das matérias primas (alumínio, aço, mais recentemente petróleo) contribui para aumentar a incerteza e a nossa impressão é que o risco de alargamento dos spreads da dívida dos emergentes face aos EUA está a aumentar”, explicaram os analistas do banco, sobre a reaproximação dos juros da dívida benchmark aos 3%, valor que tocou há duas semanas.

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