[weglot_switcher]

Respostas Rápidas. Depois de ataques, Transnístria pede à Moldávia e à Ucrânia que “preservem a paz” . O que está em causa?

No dia 26 de abril, a capital da região separatista de Transnístria foi palco de várias explosões. Até ao momento, não foram apuradas responsabilidades. Teme-se que Putin venha a reconhecer, em linha com o que fez com as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, a independência do enclave moldavo.
27 Abril 2022, 16h30

O que está a acontecer na Transnístria?

Ontem, quarta-feira, foram registadas várias explosões no autoproclamado estado da Transnístria, uma região separatista na fronteira entre a Ucrânia e o rio Dniester, que as Nações Unidas reconhecem como parte da Moldávia.

“Na madrugada de 26 de abril, duas explosões ocorreram na vila de Maiac, distrito de Grigoriopol: a primeira às 6h40 e a segunda às 7h05”, avançou durante a manhã de ontem fonte do Ministério da Administração Interna da Transnístria.

Os primeiros ataques, que atingiram duas antenas de rádio que transmitiam rádio russa, foram seguidos de uma série de outras explosões.

O edifício do Ministério de Segurança do Estado da Transnístria na capital regional, Tiraspol, foi alegadamente atacado com lança-granadas.

De acordo com o governo da Moldávia, as explosões em Tiraspol visam “criar tensões” numa região que sobre a qual o país não tem controlo..

 

Que ligação existe entre a Transnístria e a Rússia?

Em 1992, a Transnístria, que tem apenas meio milhão de habitantes, na sua maioria eslavos, cortou relações com a Moldávia após um conflito armado no qual teve ajuda militar do Kremlin.

A Rússia mantém um contingente naquela região desde a dissolução da União Soviética. Um acordo assinado nesse ano assegurou o destacamento de 2.400 soldados para a região, um número que foi sendo reduzido ao longo dos últimos anos e que ronda os 1.500 militares atualmente.

A região separatista no leste europeu tem constituição, governo, parlamento, forças armadas, polícia, hino, constituição, bandeira, brasão de armas e moeda próprios.

Apesar de não reconhecer a Transnístria como um país independente, a Rússia desempenhou um papel importante no apoio à região.

Após a anexação ilegal da Crimeia pela Rússia em 2014, o líder do Parlamento da Transnístria pediu para ser integrado na Federação Russa.

A Moldávia denunciou recentemente que as forças armadas russas estão a recrutar soldados em Transnístria para a ofensiva na Ucrânia.

 

Qual a posição do governo da região?

Em reação às explosões ocorridas em Tiraspol, a capital da região separatista moldava pró-russa, o presidente da Transnístria, Vadim Krasnoselski, pediu às autoridades moldavas e ucranianas que “preservem a paz”.

Krasnoselski pediu ao governo da Moldávia para “não sucumbir às provocações” e não permitir que o país “seja arrastado” para uma agressão contra a Transnístria.

Esta semana, na sequência das explorações na Transnístria, o governo moldavo, liderado por Maia Sandu, convocou de emergência o conselho de segurança do país.

A presidente da Moldávia, Maia Sandu, anunciou medidas para fortalecer a segurança do país, como o reforço dos controlos de transporte e patrulhas de fronteira, atribuindo a responsabilidade pelos ataques terroristas naquela região à luta entre forças internas interessadas em desestabilizar a situação.

“Trata-se de uma tentativa de aumentar as tensões (…) Apelamos aos nossos concidadãos que mantenham a calma e se sintam seguros”, disse Maia Sandu, após uma reunião do conselho de segurança nacional.

Por sua vez, o líder da Transnístria recordou as relações “pacíficas” com a Moldávia, alertando para a importânica de “resolver questões vitais” para ambos os territórios, evitando “qualquer agressão que possa ser o prólogo de uma grande guerra”.

Krasnoselski apelou às autoridades ucranianas que investiguem o “movimento ilegal de certos grupos militares”.

 

Como tem a Ucrânia e a comunidade internacional reagido à situação?

Do lado da Ucrânia, as forças militares consideram ser “possível que as forças armadas da Federação russa levem a cabo ações provocatórias na região da Transnístria da República da Moldova para acusar a Ucrânia de agressão contra um Estado vizinho”.

Esta quarta-feira, a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, comentou os ataques sem apontar responsabilidade. Perante o Bundestag, Baerbock classificou a situação na Moldávia como “extremamente crítica”.

O secretário de Defesa norte-americano referiu-se ainda aos ataques na república separatista da Transnístria, na Moldova, afirmou que os recentes ataques na região moldava estão a ser analisados. “Ainda estamos a estudar as causas e a analisar a situação. Não temos a certeza do que se trata”, comentou Austin, assegurando que a situação está a ser acompanhada.

O governante sublinhou, aludindo aos ataques na Transnístria, que é fulcral evitar que o conflito na Ucrânia “transborde” para outras regiões.

É de salientar que, com exceção das regiões da Ossétia do Sul, a Abecásia e o enclave de Nagorno-Karabakh, nenhum país reconhece a independência da Transnístria, uma situação que muitos analistas consideram que poderá mudar em breve, caso se confirme que Putin avançará com a mesma manobra feita no Donbass, ao reconhecer a independência de Donetsk e Lugansk.

 

Como é que o caso da Transnístria se torna preocupante em plena invasão da Ucrânia pelas forças militares do Kremlin?

Além da proximidade geográfica entre a Moldávia e a Ucrânia, que pode potenciar a ofensiva russa no país vizinho, as recentes declarações de um alto oficial militar russo deixam transparecer as intenções de Vladimir Putin naquela região.

O responsável revelou que a segunda fase do que a Rússia apelida de “operação militar especial” inclui um plano para assumir o controlo total do sul da Ucrânia, além de melhorar o acesso à Transnístria.

“Se o conflito escalar além da Ucrânia, a Moldávia está no topo da lista”, comentou Adriano Bosoni, analista da empresa Rane, pelo facto da Moldávia não fazer parte da União Europeia, nem ser membro da NATO, o que a pode deixar numa posição vulnerável.

Teme-se ainda que Putin venha a reconhecer, em linha com o que fez com as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, a independência da Transnístria.

“Para mim, é interessante que a Rússia ainda não tenha reconhecido a Transnístria como uma república independente da mesma forma que fez com Luhansk e Donetsk. Se víssemos a Rússia a fazer isso, seria uma séria  indicação de que estão a pensar em levar o conflito para a Moldávia”, comentou ainda Bosoni.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.