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Respostas Rápidas: Estados Unidos – o que é a National Rifle Association?

Sempre que há mais um acidente com armas – e está sempre a haver mais um – a National Rifle Association fica em causa. Mas a verdade é que os presidentes que mais recentemente tentaram travar as suas pretensões não o têm conseguido.
27 Maio 2022, 16h00

Poucos dias depois de mais um massacre numa escola dos Estados Unidos – 19 crianças e dois professores foram mortos por um atirador numa escola primária em Uvalde, Texas – a National Rifle Association (NRA) organiza a sua tradicional convenção anual. O ataque em Uvalde foi o tiroteio mais mortal numa escola desde o massacre de Sandy Hook em 2012, em Connecticut, no qual 26 pessoas foram mortas. Uma poderosa (e dispendiosa) estratégia de lobby e o recurso ao texto da Constituição impedem que os defensores das armas sejam vencidos.

 

O que é o NRA e a sua a reunião anual?

O National Rifle Association é um grupo de defesa do direito da posse de armas nos Estados Unidos. Foi fundada em 1871 e tornou-se uma organização de lobby a favor desses direitos. A convenção anual, que este ano se realiza entre 27 e 29 de maio (ou seja, a partir desta sexta-feira) é uma organização dividida em duas facetas: intervenções de aderentes e amigos da NRA – principalmente políticos; e uma espécie de mega-loja de armas que este ano, segundo a organização, ocupará 5,6 hectares de terreno “com as mais recentes armas e equipamentos das empresas mais populares do sector”. Do convite à participação consta um texto que diz “De entretenimento a eventos especiais, tudo está a acontecer em Houston este fim-de-semana. Faça planos agora para se juntar a outros patriotas para um fim-de-semana cheio de liberdade para toda a família enquanto celebramos a Liberdade, as armas de fogo e a Segunda Emenda!”.

 

Qual a história da associação?

Foi fundada por dois veteranos da guerra civil norte-americana. Em 1934, começou a escrever aos membros para informá-los sobre o que descreveu como “ataques repetidos à Segunda Emenda” – a emenda à Constituição dos Estados Unidos que protege o direito de porte e posse de armas. À época, o grupo apoiou alguns regulamentos sobre armas – nomeadamente a Lei de Controlo de Armas de 1968. Só em 1975 assumiria um perfil político e de lobby, através da formação de um Comité de Ação Política para reunir contribuições. Em 2020, a associação gastou cerca de 250 milhões de dólares em lobby (segundo uma investigação da BBC), apesar de oficialmente os gastos não irem além dos três milhões por ano. A NRA diz que atualmente tem mais de cinco milhões de membros.

 

Quem vai falar este ano?

De acordo com o site da organização, a convenção receberá o presidente executivo da NRA, Wayne La Pierre, seu diretor executivo e um dos mais influentes membros do grupo, o ex-presidente Donald Trump, o senador Ted Cruz, a governadora de Dakota do Sul Kristi Noem, o senador John Cornyn, e o congressista republicano Dan Crenshaw. O governador do Texas, Greg Abbott, disse que participará na convenção apenas através de vídeos pré-gravados.

 

Após o tiroteio no Texas, qual é a posição da NRA?

A associação está sob intenso escrutínio após o tiroteio em massa no Texas na terça-feira passada. Como é costume, condenou o tiroteio num comunicado na quarta-feira, afirmando que o acontecimento foi um “crime horrível e maligno”. “As nossas mais profundas condolências para com as famílias e as vítimas envolvidas neste crime horrível e maligno. Em nome dos nossos membros, saudamos a coragem dos funcionários da escola, dos socorristas e de outros que ofereceram o seu apoio e serviços. Embora esteja em curso uma investigação e os factos ainda estejam a ser apurados, reconhecemos que este foi o ato de um criminoso solitário e perturbado. Ao reunirmos em Houston, vamos refletir sobre esses acontecimentos, orar pelas vítimas, reconhecer o nossos membros patriotas e prometer redobrar o nosso compromisso de tornar as nossas escolas seguras”, refere o comunicado oficial.

 

Que desafios enfrenta a NRA?

Os mesmos de sempre: o tiroteio renovou o debate nacional sobre as leis de controlo de armas. Mas, como é costume, o tema acaba por cair no esquecimento da comunicação social e a associação segue em frente. O debate existe há décadas, e uma sucessão de presidentes – entre eles Barack Obama – tentaram refrear o ímpeto da associação, mas nunca conseguiram. Depois do sucedido, o presidente Joe Biden e outros membros do Partido Democrata pediram novas restrições às armas – mas esses pedidos acaba, sempre por diluir-se na câmara dos representantes ou no senado – que irão a votos (não na totalidade) em novembro próximo. A NRA também está no meio de uma batalha legal depois de a procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, avançar com uma ação para dissolver a organização por conduta ilegal devido a um suposto desvio de milhões de dólares de fundos de caridade. Já houve quem se lembrasse que perseguir a associação por roubo é muito parecido com a perseguição que o fisco empreendeu a Al Capone. Entretanto, espera-se que o Supremo Tribunal decida ainda este ano sobre um caso que envolve a Segunda Emenda.

 

Quem são os principais opositores à associação?

Para essa resposta, basta consultar a lista daqueles a NFA considera os seus inimigos. Entre a extensa lista constam os nomes de Joe Biden, Barack Obama e Kamara Harris, a atual vice-presidente dos Estados Unidos. Intitulado ‘Organizações com Políticas Anti-armas, o índex começou a ser elaborado em setembro de 2012. Britney Spears, George Clooney, Beyoncé, Chaka Khan, Sarah Jessica Parker, Bon Jovi e Barbara Streisand são algumas das personalidades que figuravam na lista – que nem sempre é fácil de encontrar.

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