A Finlândia e a Suécia mantiveram uma política de neutralidade desde a criação da NATO, mas essa posição está prestes a mudar. Porquê agora?
A política de não-alinhamento militar seguida por Helsínquia e Estocolmo era tida, até à invasão da Ucrânia, como um cenário imutável. Contudo, com a violação da soberania e da integridade territorial da Ucrânia, os países que fazem fronteira com a Rússia (ou que se encontram na proximidade), temem que a sua situação securitária esteja em risco, dado que não estão sob a égide prevista no artigo 5.º do Tratado de Washington, que confere uma garantia de segurança coletiva contra qualquer agressão.
A Suécia confirmou esta segunda-feira a sua intenção de apresentar uma candidatura formal à NATO, um dia depois de a Finlândia ter dado a conhecer o mesmo objetivo.
“Existe uma ampla maioria no parlamento sueco para que a Suécia se junte à NATO”, revelou a primeira-ministra, Magdalena Andersson, em conferência de imprensa, sublinhando que esta decisão “é o melhor para a segurança da Suécia”.
“Vamos informar a NATO de que queremos tornar-nos membros da Aliança”, disse a governante, que se sente “confiante de que há apoio para isto [adesão] entre o povo sueco”.
No domingo, o governo finlandês confirmou igualmente a sua intenção de integrar a Aliança Atlântica, depois de os sociais-democratas no poder terem abandonado a sua oposição de longa data à neutralidade.
Os dois países colocam, assim, um ponto final na tradicional política de não-alinhamento militar desde o fim da segunda guerra mundial, que já motivou uma resposta por parte da Rússia.
Que países já se opuseram?
A Turquia é, até agora, a voz dissidente entre os Aliados da NATO quando à entrada dos dois países na Aliança.
Na sexta-feira, o presidente turco mostrou-se reticente quanto à entrada da Finlândia e da Suécia no grupo dos 30 Aliados, acusando os dois países de acolherem militantes curdos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) que a Turquia, a UE e os EUA classificam como terroristas.
“Estamos a seguir cuidadosamente os desenvolvimentos relativos à Suécia e Finlândia, mas não somos de opinião favorável”, disse Recep Tayyip Erdogan aos jornalistas em Istambul, citado pelas agências AFP e AP, sublinhando que Ancara “não sente nada de positivo em relação a isto [adesão]”.
Contudo, no sábado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia não se descartou um possível acordo, lançando farpas à homóloga sueca: “Infelizmente, as declarações da ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia [Ann Linde] não são construtivas. Continua a fazer comentários provocadores”, disse Mevlut Cavusoglu após o encontro com os seus homólogos, que decorreu no sábado em Berlim.
Qual foi a posição de Portugal?
À saída da reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em Berlim, João Gomes Cravinho foi categórico quando à posição de Portugal: “Gostaria de pensar que, até final do ano, isto seja possível, que [a Finlândia e a Suécia] sejam membros de pleno direito [da NATO], mas vai depender dos outros 29 membros além de Portugal”.
O chefe da diplomacia portuguesa olha para a expansão da Aliança Atlântica como um “passo natural” na “nova ordem de segurança na Europa”.
Questionado sobre as objeções de Erdogan, João Gomes Cravinho explicou que, dado que a NATO é composta por “30 países soberanos”, “nunca se pode esperar homogeneidade”, acreditando que as dúvidas de Ancara deverão “ser resolvidas no diálogo coletivo”.
Como é que a Rússia está a reagir ao alargamento da Aliança Atlântica?
Esta segunda-feira, dia em que a Suécia confirmou publicamente a sua intenção de se candidatar à NATO, Vladimir Putin avisou Hensínquia e Estocolmo de que a expansão das infraestruturas militares no seu território exigiria uma reação da parte de Moscovo, durante uma cimeira da Organização do Tratado de Cooperação e Segurança (CSTO), liderado pela Rússia, que decorreu esta segunda-feira em Moscovo.
De acordo com o presidente russo, apesar de não ter qualquer problema com os dois países, a expansão da NATO constitui um problema para a Moscovo, pelo que está atento aos “planos da aliança militar liderada pelos EUA para aumentar a sua influência global”.
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