Os preços do gás na Europa, que já estavam elevados, oscilaram desde que o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou planos para que as empresas estrangeiras paguem as suas compras em rublos pelo gás natural russo em vez de dólares e euros. Perceba as implicações da decisão do presidente russo.

Qual a proposta de Putin?

A 23 de março, o presidente Vladimir Putin anunciou que os países que considera “hostis” à Rússia só poderiam pagar o gás russo em rublos. “Tomei a decisão de implementar um conjunto de medidas para mudar o pagamento para rublos do nosso gás entregue a países hostis”, disse Putin, segundo a agência russa de notícias “Tass”.

A Europa importa grandes quantidades de gás natural russo para aquecer residências, gerar eletricidade e indústria de combustível. Cerca de 60% das importações são pagas em euros e o restante em dólares. Assim, Putin quer mudar esta forma de pagamento ao exigir que os importadores estrangeiros comprem o gás em rublos.

Qual o motivo do presidente russo?

Moscovo, ao transferir o fluxo de moeda estrangeira para o sistema bancário amplamente controlado pelo Estado, ganhará controlo adicional sobre moeda estrangeira, que se tornou mais escassa desde que os países ocidentais congelaram grande parte das reservas da Rússia no exterior.

Que efeitos esta proposta pode ter?

Os importadores teriam que encontrar um banco que trocasse euros e dólares por rublos. O que pode ser complicado tendo em conta que alguns bancos russos foram bloqueados ou cortados do sistema SWIFT que facilita os pagamentos internacionais.

Segundo Eswar Prasad, professor de política comercial da Universidade de Cornell e ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), “se a Rússia for paga pelo gás na sua moeda ajudaria marginalmente a contornar sanções financeiras e a sustentar o valor do rublo”.

“Seria mais barato para os importadores estrangeiros pagarem pelas exportações da Rússia numa moeda que está a perder valor, mas é difícil adquirir rublos e fazer pagamentos de forma a evitar as sanções”, sublinhou Eswar Prasad, acrescentando que a medida “pode perturbar ainda mais os mercados globais de energia, exacerbando as atuais interrupções no fornecimento e aumentando a incerteza sobre o fornecimento futuro, o que pode resultar em mais picos de preços”.

Como foi recebida a proposta de Putin?

Segundo o ministro alemão da Economia, Robert Habeck “todos os ministros do G7 concordaram que esta é uma violação unilateral e clara dos acordos existentes”. Habeck pediu ainda às empresas envolvidas no fornecimento e compra de gás russo que “não cumpram a exigência de Putin”.

A par com a Alemanha, as principais economias do G7, grupo dos países mais ricos do mundo e, incluindo o Japão, os Estados Unidos e o Canadá, bem como França, Itália e Reino Unido, concordaram em rejeitar o pedido de Moscovo. A União Europeia também concordou.

Em resposta, o deputado russo Ivan Abramov, citado pela Reuters, avisou que a decisão pode levar a uma “interrupção inequívoca” no fornecimento do gás russo.