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Respostas Rápidas. Porque estão os taxistas de Luanda em protesto?

A greve nacional, com destaque para Luanda, de taxistas angolanos começou hoje de manhã e deu origem a atos de vandalismo e agressão nos arredores da capital. As reivindicações são motivadas pelo mais recente anúncio de lotação dos autocarros, mas há motivos mais profundos e desacatos antigos com as autoridades.
10 Janeiro 2022, 14h20

A que se deve este protesto?

A paralisação foi convocada pela Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA) Associação dos Taxistas de Angola e Associação dos Taxistas de Luanda e estende-se a nove províncias do país.

Os taxistas queixam-se do excesso de zelo de que são alvo pelos agentes policiais e do mau estado das estradas, exigem a profissionalização da atividade e a formalização do anúncio do regresso à lotação a 100% dos transportes coletivos, feito na sexta-feira pelo ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Furtado.

O presidente da ANATA, Francisco Paciente, destacou à Agência Lusa que as reivindicações não se prendem apenas com a redução da lotação dos táxis em decreto presidencial, e que estão em causa também “reivindicações antigas” que foram suspensas em março do ano passado, quando as autoridades anunciaram uma paralisação dos serviços, e que não foram respondidas até à presente data.

As promessas feitas pelo Governo, acusou, ficaram por concretizar e, “pelo contrário, o abuso da autoridade dos agentes na rua piorou”.

Qual o balanço da greve?

Mais do que números que representam a adesão à greve e aos protestos, há relatos,  vídeos e fotografias a circular nas redes sociais que mostram um cenário caótico: há localidades em que a população cortou estradas e impediu a circulação de autocarros e automóveis durante várias horas.

Em declarações à Lusa, o jornalista António Sacuvaia afirma que pelas seis horas eram visíveis nos bairros dos Zangos 2 e 3 e no Cacuaco, “paragens apinhadas” e filas de táxis azuis e brancos (transportes coletivos).

Sacuvaia relatou que alguns taxistas impediram outros colegas de trabalhar e alguns “lotadores” (jovens que se encarregam de lotar o táxi e preencher todos os lugares disponíveis) foram ameaçados e forçados a partir vidros e furar pneus das viaturas para que estas não pudessem circular.

No distrito urbano de Benfica, mais afastado do centro da cidade, foi incendiado um autocarro e um grupo pegou fogo a bandeiras do MPLA (partido que governa Angola há 46 anos) e o edifício do comité distrital.

As associações de taxistas angolanos reafirmaram a greve e demarcam-se dos atos de vandalização e arruaça registados no município do Benfica.

Houve detenções? 

Sim. A Polícia deteve hoje, em Luanda, 17 pessoas supostamente envolvidas em atos de vandalismo, no distrito urbano de Benfica, na sequência da greve, informou o porta-voz das autoridades policiais da capital angolana, Nestor Goubel, à Lusa.

Foi inclusive detido o autor moral das ações, “o cabecilha que estava a instigar, a fomentar ali as pessoas para que impedissem a retoma dos táxis”. Goubel assegurou que a situação  está controlada e a circulação rodoviária, que se encontrava impedida naquela zona, já foi retomada.

Houve agressões a jornalistas?

Sim. O porta-voz das polícia de Luanda confirma que, em Benfica, os detidos “começaram a jogar combustível e a intimidar alguns jornalistas”. Estes profissionais dos canais angolanos TV Zimbo e TV Palanca tentavam reportar os incidentes ocorridos em Luanda, quando foram alvo de tentativa de linchamento.

Em declarações à Lusa, Telmo Gama, da TV Zimbo, explicou que se encontrava com um colega, repórter de imagem, naquele bairro para acompanhar os tumultos desta manhã quando “alguns indivíduos” os tentaram retirar do local “à força”.

“Um outro grupo solidarizou-se e tentou escoltar-nos até à esquadra”, disse o jornalista que entretanto se tinha apercebido que tinha sido atingido com combustível.

O jornalista da Zimbo adiantou que não conseguiu identificar os agressores, mas indicou que “não são taxistas”, o que lhe foi confirmado também pela polícia.

“Presume-se um aproveitamento da situação para praticar atos de vandalismo e destruição de bens públicos”, sublinhou, acrescentando que “as pessoas estavam com os nervos à flor da pele”.

Na esquadra para onde se dirigiu a equipa da TV Zimbo encontravam-se já colegas da Palanca TV que contaram ao Correio da Kianda ter sido “verbal e fisicamente agredidos e quase queimados”.

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