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Respostas rápidas. Qual será o impacto de uma subida dos juros na banca?

As pressões inflacionistas colocam o tema da subida das taxas de juro em cima da mesa. Um passo que, a ser dado, terá impacto positivo na rentabilidade do setor financeiro, mas que irá pesar nos clientes. O JE explica-lhe a questão em quatro respostas rápidas.
  • Cristina Bernardo
26 Janeiro 2022, 17h45

A subida das taxas de juro é um dos temas que vai marcar este ano, perante as fortes pressões inflacionistas. E estará em cima da mesa na reunião da Reserva Federal dos EUA que termina esta quarta-feira. Já no Banco Central Europeu (BCE) ainda não é certo quando irá acontecer: se este ano, como já prevê o mercado, ou se apenas no próximo. Independentemente de quando for, haverá consequências para a banca, de acordo com especialistas. O Jornal Económico explica em quatro respostas rápidas qual será o impacto de uma subida dos juros no setor financeiro e nos seus clientes.

O que está em causa?

As pressões inflacionistas estão a levar vários bancos centrais a considerar uma subida das taxas de juro. Na Reserva Federal dos EUA, o mercado divide-se quanto ao número de vezes que o irá fazer este ano – se três, quatro ou até cinco vezes -, mas é certo que vai acontecer. No Banco Central Europeu, os responsáveis têm vindo a afastar a possibilidade de uma subida já este ano. Ainda assim, e embora tenha considerado “muito improvável” que isso se materialize em 2022, Christine Lagarde, presidente do BCE, não descartou por completo este cenário. Entre os analistas há algumas dúvidas quanto ao “timing”, com o Deutsche Bank a apontar para uma subida ainda este ano, em dezembro.

O setor financeiro vai beneficiar dos juros mais altos?


Os especialistas consultados pelo JE consideram que uma subida das taxas de juro será sobretudo positiva para a banca, numa altura em que se vive um ambiente de juros negativos nos depósitos que obriga a banca a pagar para ter dinheiro parqueado no BCE. “Espero que com a subida das taxas de juro esse efeito negativo sobre a rendibilidade dos bancos se vá atenuando porque deixa de haver um custo por ter liquidez”, afirma Paulo Soares de Pinho, diretor do The Lisbon MBA. Já João Duque, professor do ISEG, considera que isto vai permitir que os “bancos comecem a respirar e a aliviar aquilo que têm sido as alternativas de receitas”, nomeadamente comissões. “Se as taxas começarem a ser positivas, pelo menos começa a haver espaço para haver um negócio normal”, refere o economista.

Mas o efeito é apenas positivo?


Não. Também há impactos negativos para o setor financeiro, nomeadamente pelo facto de ter uma elevada exposição a dívida pública. “Nas aplicações em dívida pública, a subida das taxas de juro provoca uma quebra dos preços das obrigações”, afirma Pinho, notando que embora os bancos consigam evitar que isto seja imediatamente refletido nos lucros contabilísticos, isto vai representar uma perda nas carteiras de dívida pública. Já João Duque nota que vai depender “da forma como os bancos têm as suas carteiras classificadas”, pois há uma redução de valor dos ativos nas carteiras de negociação. Nas carteiras de investimento que ficam até ao vencimento não há um “impacto tão grande em termos de ativos”.

E qual é o impacto para os clientes bancários?


Para os clientes, uma subida dos juros poderá pesar. “Os créditos a taxa variável vão acompanhar a subida das taxas de juro e, portanto, isso tem dois tipos de consequências”, refere o diretor do The Lisbon MBA. “Para o cliente haverá uma subida dos encargos no crédito à habitação. Para o banco, isso pode ter uma consequência: se as tendências inflacionistas se mantiverem durante muito tempo e houver tendência para as taxas de juro subirem de forma prolongada durante vários anos, isso pode se traduzir num aumento do incumprimento, nomeadamente no crédito à habitação e ao consumo, mas sobretudo na habitação”. Por outro lado, João Duque salienta que, perante uma subida da Euribor à boleia dos juros, os clientes “vão começar a suportar mais encargos, mas isso pode não ser dramático, sobretudo se a subida não for de muitos pontos percentuais. Se for, aí começa a haver algum problema”. Do lado dos depósitos, Paulo Soares de Pinho considera que “não vai haver consequência nenhuma”, uma vez que os clientes “continuarão a receber taxas de zero”, já que “as perdas que os bancos tinham nos depósitos diminui” com uma subida dos juros.

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