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Respostas Rápidas. Risco nuclear justifica aumento da procura por comprimidos de iodo radioativo?

Torna-se importante perceber como devem os cidadãos portugueses gerirem os receios sobre desastres nucleares e, idealmente, evitar compras e estratégias consideradas desnecessárias perante o nível de ameaça que Portugal enfrenta. A Deco Proteste alerta que a dosagem de iodeto de potássio indicada para atenuar a exposição a radiações nucleares é de 65 miligramas e não se encontra disponível nas farmácias.
22 Março 2022, 17h30

A guerra na Ucrânia trouxe de volta os receios de um potencial desastre nuclear. A Rússia é o país com mais ogivas do mundo e o presidente do país, Vladimir Putin, apressou-se a lembrar ao ocidente que estaria pronto para as utilizar, ainda que os analistas do conflito considerem altamente improvável, mas não impossível. A isto acrescenta-se o facto da Ucrânia ter quatro centrais em funcionamento, com um total de 15 reatores.

Torna-se por isso importante perceber como devem os cidadãos portugueses gerirem a forma como consomem esta informação e, idealmente, evitar compras e estratégias consideradas desnecessárias perante o nível de ameaça que Portugal enfrenta. Um dos exemplos são os comprimidos de iodo, cuja procura tem aumentado significativamente, segundo algumas farmácias consultadas pela Deco Prosteste.

O que são comprimidos de iodo e para que servem?

Os medicamentos que contêm iodeto de potássio comercializados em Portugal têm como indicação a suplementação de iodo em pessoas com défice desta substância na alimentação, nomeadamente grávidas e lactantes, e estão sujeitos a receita médica. Estes medicamentos têm concentrações de 0,2 e 0,3 miligramas de iodeto de potássio.

Os suplementos alimentares disponíveis têm dosagens inferiores aos medicamentos, por norma, inferiores a 0,2 miligramas. Em ambos os casos, as dosagens são muito inferiores às necessárias para a proteção contra as radiações resultantes de acidentes nucleares.

Qual é a função do iodo no organismo?

O iodo é um micronutriente responsável pela síntese das hormonas tiroideias (triiodotironina e tiroxina) e não é sintetizado no organismo, pelo que a alimentação é a sua principal fonte, explica a Deco Proteste. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as doses diárias recomendadas são: 90 microgramas para crianças até aos cinco anos, 120 microgramas para crianças entre os seis e os 11 anos,  150 microgramas para adolescentes adultos até idosos, 250 microgramas para grávidas e lactantes.

O iodo encontra-se naturalmente presente na água do mar e, por essa razão, o pescado (peixe e marisco) e as algas são considerados importantes fontes de iodo na alimentação. O leite e os ovos, bem como os seus derivados, são também consideradas importantes fontes alimentares de iodo.

Em caso de acidente nuclear, como é que o iodo radioativo pode afetar o organismo?

Em caso de acidente nuclear, o iodo radioativo pode entrar no organismo por inalação ou por ingestão de alimentos contaminados. É um dos átomos mais perigosos que são libertados num acidente nuclear e concentra-se na tiroide, onde pode provocar danos celulares e cancro, alerta a Deco Proteste .

A profilaxia com iodeto de potássio, no caso de acidentes nucleares, pode reduzir significativamente a dose de radiação para a tiroide devido à exposição a iodo radioativo. Após a profilaxia com iodeto de potássio, este compete com o iodo radioativo e a sua captação pela tiroide ficará praticamente bloqueada.

Existe algum medicamento em Portugal para utilização após acidentes nucleares?

Em Portugal, existe apenas um medicamento aprovado pelo Infarmed para utilização após incidentes nucleares com libertação de iodo radioativo, cuja concentração de iodeto de potássio é de 65 miligramas por comprimido.

A Deco Proteste alerta que estes medicamentos não são comercializados e, em caso de desastre nuclear iminente, deverá competir à administração central pôr em prática a sua distribuição às populações em risco. Mas apenas podem ser tomados após o apelo explícito das autoridades. A organização de defesa do consumidor dá ainda conta que os efeitos adversos podem incluir reações alérgicas leves (como erupções cutâneas ou desconforto gastrointestinal), hipertiroidismo, autoimunidade induzida por iodo, bócio nodular tóxico e e hipotiroidismo induzido por iodo.

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