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Marco António Costa: Rio vai perdurar se tiver “excelente resultado” em 2019

Marco António Costa, vice-presidente do PSD, afirma que espera que Rui Rio seja bem sucedido na liderança e “marque os próximos anos” do partido. Para tal, diz, terá de se impor dentro e fora do PSD. “Nenhum líder se mantém sem aceitação externa”, defende.
  • Cristina Bernardo
19 Janeiro 2018, 09h00

Que balanço é que faz das eleições diretas no PSD?
Primeiro, um fator positivo que se concretizou: a mobilização do partido. Foi uma campanha longa, mas próxima dos militantes, permitindo que os dois candidatos esclarecessem diretamente os militantes em sessões políticas. Segundo, a projeção externa da campanha. Julgo que, fruto da circunstância de só ter havido debates na fase final da campanha, a mobilização interna não foi transmitida para a sociedade portuguesa. Portanto, só na fase final é que os portugueses se aperceberam de que o PSD estava em eleições e havia um debate interno entre dois candidatos. Acho que se perdeu aqui um segundo efeito que era importante ocorrer. Se recordarmos a campanha entre António Costa e António José Seguro, no PS, vemos que aí, também fruto de uma certa violência de linguagem utilizada de parte a parte, sobretudo pelos seus apoiantes, a projeção externa ocorreu mais cedo. E toda a polémica que levou à marcação de eleições e à saída de Seguro tiveram um impacto diferente na opinião pública. Não necessariamente positivo, mas chamou a atenção. Em suma, o meu balanço é semi-positivo. É positivo pelo primeiro fator de mobilização interna. E não tão positivo porque não atingiu também o objetivo da mobilização externa, na dimensão em que deveria ter sido.

As eleições diretas no PS são abertas a simpatizantes, enquanto as do PSD são restritas a militantes. Isso não leva a que os candidatos do PSD falem demasiado para dentro do partido e não para o exterior? Ou o problema não é o modelo de eleição?
Um modelo e outro terão sempre vantagens e desvantagens. Admito que possa haver uma certa ligação entre as duas questões que enunciou. Mas repare, já houve eleições internas no PSD, mesmo eleições sem a escolha por sufrágio direto dos militantes, quando era no Congresso, em que antecipadamente se sabia quem eram os candidatos, que se mobilizavam no país para eleger os seus delegados, em que o debate tinha muito mais projeção externa do que teve nesta eleição. Portanto, nessa circunstãncia não posso estabelecer uma relação sempre direta entre os dois fatores. Agora, admito que a forma como surge a candidatura de Costa dentro do PS, e a forma como responde Seguro, impondo um modelo inovador para o PS, possa ter suscitado essa mobilização. A impressão com que eu fico é que o número de pessoas, ditas da sociedade civil, que participaram nessa eleição no PS, acho que não foi tão espontâneo quanto isso e, porventura, o número dos espontâneos ainda está por apurar. Ou saber quantos foram convidados a participar e quantos outros é que o fizeram por mote próprio. Mas é um modelo que terá seguramente vantagens. Nunca me debrucei de forma detalhada sobre esse assunto que, por várias vezes, foi objeto de discussão e nem sempre recebeu o apoio de que necessitava para poder fazer o seu caminho para uma implementação.

No PSD até têm surgido vozes a apontar no sentido de retorno ao modelo de eleição em Congresso. Prefere as eleições diretas ou o Congresso eletivo?
Eu prefiro as eleições diretas, porque acho que legitimam mais o presidente do partido. O modelo do Congresso tem maior espectacularidade sob o ponto de vista mediático, sob o ponto de vista do debate, isto é, transfere-se para um espaço confinado, televisionado e com um tempo limitado, o debate entre os diferentes candidatos. Neste modelo, o que acontece talvez seja mais mobilizador do partido, porque há um percurso que os candidatos fazem pelo partido até chegar às eleições diretas. Quer dizer, não se pode ter tudo. Nos últimos anos, apesar de tudo, nós conseguimos ter congressos com projeção mediática, com debate político, apesar de não termos um modelo de eleição em Congresso.

Rui Rio será um líder de transição, ou vai perdurar e marcar os próximos anos do PSD?
Eu desejo que seja um líder que marque os próximos anos do PSD, porque isso significará duas coisas. Primeiro, que se terá imposto sob o ponto de vista da sua liderança, não só interna como externamente. Não há nenhum líder do PSD que se possa manter na liderança que não tenha aceitação externa. Segundo, teremos eleições em 2019 e isso significaria que, pelo menos, teríamos tido um excelente resultado, espero que uma vitória. Rio já anunciou que o objetivo dele é ter uma maioria absoluta, que gostaria de ter uma maioria absoluta para poder governar. Parece-me claro que, desde as últimas eleições legislativas, em 2015, que se introduziu em Portugal um modelo de oportunismo na formação de governos e na leitura dos resultados eleitorais. E, portanto, ou o PSD consegue, por si só, obter os resultados que são indispensáveis a poder formar Governo, ou então não contará com um PS moderado para apoiar uma solução de Governo do PSD. Nós temos um PS mais radicalizado sob o ponto de vista político, numa visão mais esquerdista da sua natureza ideológica. Nem sempre foi essa a visão que nos últimos 40 anos, historicamente, o PS revelou, algo que altera significativamente as regras do jogo. É por essa circunstância que eu acho que, se ele for um líder duradouro, como todos nós aguardamos que o possa ser, isso significará que o PSD tem um líder com sucesso. E, simultaneamente, que terá obtido bons resultados políticos em processos eleitorais.

Refere-se a bons resultados. Quer dizer que, se não conseguir vencer as eleições legislativas em 2019, dificilmente conseguirá resistir no cargo?
Não, não quer dizer isso. Repare, Pedro Passos Coelho ganhou as eleições e optou por sair. Ganhou as legislativas e perdeu as autárquicas. Eu acho que não existe um modelo fechado relativamente a isso. Por norma, tenho uma visão otimista e positiva. Tenho muita dificuldade em fazer análises apriorísticas relativamente às quais depois ficamos presos sob o ponto de vista conceptual. Hoje, a realidade é dinâmica. O que eu desejo é que ele tenha sucesso, que o partido tenha sucesso e que esse sucesso signifique o sucesso do país. Aliás, quando em 2013 assumi funções de vice-presidente executivo do PSD, era um partido que tinha saído de umas eleições autárquicas muito difíceis, profundamente constrangido e encolhido sob o ponto de vista político, decorrente de uma política difícil que nos primeiros anos de governação tivemos que desenvolver. Eu acreditei que era possível fazer um trabalho de mobilização do partido, com os meus colegas, e em 2015, passados dois anos, foi possível vencermos as eleições legislativas. Tenho sempre uma visão positiva. E quando as coisas não correm bem, tenho sempre a serenidade de procurar, em cada momento, encontrar a solução que corresponda à visão que eu tenho do que é melhor para o país e do que é melhor para o partido.

Critica o que entende ser um “modelo de oportunismo”. Mas Rio já disse que viabilizaria um Governo minoritário do PS, regatando-o da órbita dos partidos mais à esquerda. Concorda com esta estratégia política?
Se o que ele está a dizer é que, se o PS vencer as eleições, depois o PSD pode fazer uma coligação com o PS, enfim, isso já aconteceu no passado, haver acordos de parte a parte para viabilizar uma solução de Governo estável. Se está a dizer que, se o PSD vencer as eleições, depois o PS querer tomar o poder de assalto, invertendo os resultados eleitorais como aconteceu em 2015, obviamente isso já não merece a minha concordância, porque isso é inverter completamente os princípios. Nós não podemos dizer que ganhámos as eleições, mas para evitar que o PS forme um Governo com a esquerda, então vamos esquecer o resultado eleitoral e vamos apoiar o PS. Isso seria entregar ao PS o papel não só de partido oportunista, mas também de “partido charneira” da democracia portuguesa, que vai ganhando ou não as eleições, fazendo políticas de alianças e perpetuando-se no poder, ora com uma linha política, ora com outra. Acho que isso nem sequer faz sentido. Parece-me que essa declaração poderá estar mais no âmbito de uma solução em que o PS, vencendo as eleições, precisa do apoio do PSD. E um apoio que fique estabelecido com um conjunto de reformas objetivas para serem concretizadas e assumir essas reformas. Agora claramente não tem essas condições. Em segundo lugar, parece-me claro que nós devemos rejeitar objetivamente alianças com um partido que tem uma visão estritamente oportunista do sistema democrático. Com isso obviamente não concordo. Repare, nestes dois anos de governação do PS, nós até poderíamos encontrar alguns gestos de boa vontade do PS em querer colher, apoiar, criar um clima de entendimento com o PSD, ou até com o CDS-PP. A verdade é que o PS tem sido um muro de indiferença relativamente a estes partidos. Isto revela um PS fechado dentro de si próprio, radicalizado à esquerda e a prestar um mau serviço ao país.

Com a eleição de Rio, essa hostilidade mútua poderá entrar numa fase de degelo?
Não lhe sei dizer. Mas admito que há sempre alterações com a eleição de um novo líder. E admito também que o ciclo político em que está Costa, em que claramente começa a ficar muito condicionado por uma esquerda parceira que revela alguma intolerância e alguma falta de paciência com o Governo, isso também obriga Costa a mudar de caminho. Há muitas coisas que mudam com o tempo, nomeadamente a relação de poderes internos dentro da maioria de esquerda. E a relação de poderes dentro do próprio Governo. O ministro das Finanças tem hoje muito mais projeção, impacto internacional e poder do que o primeiro-ministro. Começa a haver aqui um conjunto de fatores que alteram circunstancialmente as relações e também podem levar a que a postura de Costa tenha que ser alterada e que ele veja aqui uma oportunidade.

Mas, na sua perspetiva, seria um erro estratégico do PSD?
Não, não, repare, eu disse que nós fizemos propostas ao PS, simples, no sentido de nos aproximarmos. Eles é que foram um muro de indiferença. Eu acho que, se o PS quiser fazer acordos connosco sobre matérias em que nós tenhamos um entendimento, estamos a fazer acordos que servem o país, que a única coisa que nos deve mobilizar na decisão política é o interesse nacional. Tivesse o PS manifestado disponibilidade para se aproximar nestes dois anos de nós, como por exemplo Seguro fez na questão da reforma fiscal do IRC, e teríamos feito os acordos necessários para garantir os entendimentos entre o PS e o PSD, no sentido de fecharmos acordos que servissem o país, esse deve ser o único objetivo.

Entrevista publicada na íntegra edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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