Rui Rio respirou de alívio e os tubarões do PSD sentiram que o cheiro a sangue era, afinal, mercurocromo e meteram a viola no saco deixando as cantorias para assassinar o líder para outros dias.

Costa, matematicamente, ganhou em número de câmaras, é um facto. Mas Rio recebeu um seguro de vida com vitórias importantes. Isso não quer dizer que a noite de domingo tenha alterado a percepção dos portugueses e ele já esteja à bica para um novo ciclo que leve o PS e traga a laranja ao poder. Isso não é para amanhã.

Curioso é o facto de o PSD dominar mais capitais de distrito e os socialistas terem minguado nesse parâmetro. Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Aveiro, Viseu, Santarém, Funchal, Faro, Portalegre (olhem para o fenómeno Fermelinda Carvalho que, depois de 12 anos à frente de Arronches, atravessou o Rubicão e conquistou a bonita cidade alentejana) não vestem de rosa.

Rio por vezes perde-se como um D. Quixote a lutar contra moinhos de vento, arranjando inimigos a eito. Contudo, quanto às sondagens, tem em grande parte razão. Pela minha experiência de muitos anos, concordo com ele. Muitas sondagens são “aldrabices”, palavras dele e eu sou testemunha do líder do PSD (se ele quiser) se alguma dessas empresas o quiser processar.

Aliás, já passou quase uma semana das eleições e, até agora, ainda nenhum director ou responsável técnico dessas entidades de estudos de opinião se demitiu. E como vigora a selva neste domínio, proponho que seja proibida a publicação de sondagens um mês antes de qualquer sufrágio. E acrescento que, mais grave que Lisboa ou Porto, as sondagens sobre a corrida de Almada são verdadeiros atentados.

Há ainda outro líder da direita que pode sorrir satisfeito. Em dois anos, o Chega obtém 19 mandatos em todo o país. É certo que André Ventura vale mais do que o partido, que precisa no seu crescimento de encontrar candidatos e rostos com maior qualidade, para não estar demasiado dependente do timoneiro.

Mas diga-se a verdade: é um resultado notável. Sobretudo quando comparado com o partido que nasceu do agrupamento de diversas forças de extrema-esquerda e que, passados 20 anos, vale quase zero nas autarquias e sindicatos. O Bloco de Esquerda continua muito forte a semear colunistas em jornais e comentadores em quase todos os painéis televisivos. Ora, para tanta exposição mediática é mesmo um resultado medíocre que revela que a grande maioria dos portugueses não está para os aturar.

Foi a noite de Carlos Moedas que ninguém esperava. A começar pelo próprio, que há uns tempos já dava como perdida a batalha, se queixava da falta de cobertura mediática ao “Observador” e na televisão pediu desculpa pelos erros cometidos em campanha. Quando entrou no hotel com dois discursos preparados sabia que só uma enorme queda de Medina lhe podia dar esse triunfo, e a queda aconteceu.

Tem agora uma difícil tarefa pela frente. Lisboa não será fácil de governar e compete-lhe ser um bom negociador. E vai ter uma boa ajuda. É que a mão por trás do arbusto da sua candidatura, como aqui em tempos escrevi, foi a de Marcelo Rebelo de Sousa. Que logo após a vitória colocou na capa do “Público” a seguinte mensagem: “Belém admite que Moedas criou ciclo próprio qu01e só agora está a começar”. Sim, a aposta de Marcelo para o pós Rui Rio é Moedas. A vitória de Lisboa será a sombra do líder do PSD.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.