Após um ano marcado pela pandemia que nos confinou e teve efeitos marcantes na sociedade em geral e na economia, iniciamos agora 2021 com a esperança de vencer a crise sanitária através da vacinação e atingir um nível imunitário da população que permita, a pouco e pouco, retomar o curso habitual das nossas vidas e a actividade regular das empresas.

Portugal já apresentava antes do eclodir desta pandemia, sinais evidentes de uma certa debilidade, quer em matéria de finanças públicas, quer no que se refere ao tecido empresarial. Apesar de termos conseguido em 2019 o primeiro superavit do Orçamento do Estado desde o início do regime democrático, temos uma elevada dívida pública, reformas essenciais por decidir e aplicar e fraco crescimento económico desde há duas décadas.

Recentemente, a OCDE veio corroborar nas suas previsões as dificuldades que Portugal irá enfrentar pelo que deveremos saber aproveitar os fundos europeus, aproveitar em pleno a transição energética e a transição digital em curso, tal como o que se refere às alterações climáticas dentro de um novo contexto global, com uma agenda positiva de criação de mais e melhor valor na economia. Deveremos decisivamente traçar com ambição um plano estratégico colectivo para o decénio e que represente um novo contrato entre o Estado e o mercado.

Neste momento, considero como principais preocupações a enfrentar em 2021: o risco das moratórias, a possível fuga de investimento estrangeiro, o aumento do desemprego e o risco do crescimento económico poder vir a ser mais baixo do que o previsto no Orçamento do Estado para este ano.

O risco das moratórias advém da importância que já têm no montante global do crédito bancário das empresas e das famílias (cerca de 46 mil milhões de euros, o que deve representar mais de 20% do total), a taxa mais elevada da União Europeia.

A possível fuga do investimento estrangeiro poderá advir de falta de ponderação e precipitação na forma como se legisla, não sendo de somenos a recente decisão sobre os vistos gold.

A taxa de desemprego poderá chegar aos dois dígitos já em 2021.

O crescimento económico que consta do Orçamento do Estado para 2021 poderá não vir a concretizar-se, pois vários factores vão condicionar fortemente essas expectativas. Por um lado, o nosso maior parceiro comercial, a Espanha, atravessou no ano passado a maior recessão de toda a zona euro, o que decerto se irá reflectir este ano. Por outro lado, a dependência que deixámos criar nos últimos anos do sector do turismo e devido ao facto de ser uma actividade que levará algum tempo a recompor-se da crise, poderá também vir a influenciar negativamente o crescimento desejado.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.