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Rohingya: O povo sem Estado que é alvo da maior “operação de limpeza” no Myanmar

A Organização das Nações unidas (ONU) dá conta de que esta é numa crise de refugiados de crescimento mais rápido atualmente e acusa o Governo do Myanmar de “limpeza étnia” no país.
21 Outubro 2017, 14h00

Mais de 500 mil refugiados da minoria étnia e religiosa rohingya fugiram de Myanmar desde os finais de agosto. Fogem da perseguição e violência das forças de segurança da antiga Birmânia contra os muçulmanos rohingyas, arriscando a vida por mar ou a pé. A Organização das Nações unidas (ONU) dá conta de que esta é numa crise de refugiados de crescimento mais rápido atualmente e acusa o Governo do Myanmar de “limpeza étnia” no país.

Imagens de satélite captadas pela Human Rights Watch (HRW) mostram cerca de 300 aldeias habitadas pelo povo rohingya foram completamente destruídas pelas forças de segurança do país, assim como mesquitas e lugares de culto islâmicos. Um relatório da Amnistia Internacional denuncia que centenas de pessoas foram mortas e várias mulheres e crianças foram violadas ou sujeitas a violência sexual na campanha sistemática para expulsar os muçulmanos rohingyas do país.

A “operação de limpeza” como lhe chama a ONU foi posta em prática com especial força no estado de Rakhine, o estado mais pobre do Myanmar onde a minoria étnica está mais concentrada. Os cerca de 1,1 milhões de muçulmanos rohingya são vistos pela população maioritariamente budista como imigrantes ilegais do Bangladesh e não lhes é reconhecida a cidadania no país. A minoria étnica representa cerca de 5% dos 60 milhões de habitantes de Myanmar.

Em resposta às denúncias, Aung San Suu Kyi, a líder de facto do Governo de Myanmar, disse estar “preocupada” com as alegações e prometeu investigar o conteúdo do relatório da Amnistia Internacional. Antes disso, Aung San Suu Kyi desmentia todas as acusações de homicídios, violações e fogo posto a aldeias de Rohingya. Agora a primeira conselheira de Estado (na prática a líder do Governo), culpa os “terroristas” por um “enorme icebergue de desinformação” para manipular a opinião pública internacional, com base em “fotografias falsas”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já veio a público dizer que teme que a situação se venha a degenerar numa “catástrofe humanitária”. Os refugiados fogem a pé ou em pequenas embarcações improvisadas para a região de Cox Bazar, no Bangladesh, que faz fronteira com o país. Os barcos vêm na sua maioria sobrelotados e são vários os que acabam por afundar no rio Naf, que faz fronteira entre os dois países. A Unicef indica que cerca de 60% dos refugiados rohingyas são crianças.

“Esta é catástrofe humanitária com implicações na paz e segurança que pode continuar a expandir-se para lá das fronteiras birmanesas”, afirmou António Guterres, apelando às autoridades do Myanmar para que “ponham fim a esta violência” em Rakhine, para onde as agências da ONU continuam impedidas de enviar ajuda e onde a proteção humanitária à minoria rohingya é escassa ou praticamente inexistente.

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