Enquanto membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia bloqueou uma extensão mais longa para a missão da ONU na Líbia – país do norte de África que está cada vez mais próximo de regressar à guerra civil – admitindo apenas uma extensão de três meses.
Para Moscovo, três meses é tempo suficiente para a ONU patrocinar a criação de condições para a realização de eleições (parlamentares e presidenciais) na Líbia – o que a própria realidade se encarrega de contestar: há mais de um ano que ninguém consegue encontrar uma plataforma mínima de entendimento que possa viabilizar a consulta aos líbios sobre o seu futuro.
O vice-embaixador da Rússia na ONU, Dmitry Polyansky, reiterou a posição de Moscovo de que a missão da ONU deve escolher um novo representante especial para a Líbia antes de ter um mandato mais longo. O anterior enviado especial, Jan Kubis, renunciou em 23 de novembro passado, após 10 meses no cargo, e vários candidatos propostos pelo secretário-geral António Guterres foram sucessivamente rejeitados por membros do Conselho de Segurança, pela própria Líbia ou pelos países com interesses na região.
Ou seja, a questão das eleições passa a ser meramente acessória. O que cada um dos países envolvidos parece pretender, é encontrar um alto representante que defenda interesses específicos. E, na Líbia, eles são numerosos.
Após a saída de Kubis, Guterres nomeou a veterana diplomata norte-americana Stephanie Williams, ex-representante especial adjunta da ONU na Líbia, como sua conselheira especial – mas, segundo as agências internacionais, Williams deixa o cargo no próximo domingo, o que significa que a missão deixará de ter comando.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que o seu país partilha a frustração dos três membros (não-permanentes) africanos do Conselho de Segurança — Gana, Quénia e Gabão – que consideram o bloqueio russo uma forma de eternizar o conflito interno na Líbia.
Para além dos preparativos para as eleições – que se revelaram até agora e ao cabo de quase dois anos impossíveis – a monitoração do cessar-fogo (que está cada vez mais colocado em causa), recolha de informações sobre questões de direitos humanos (possivelmente inexistentes) e assistência técnica sobre finanças e orçamento do Estado (num país que tem, na prática, dois governos em concorrência), fazem parte do mandato da ONU.
A Líbia, rica em petróleo, tem sido assolada por conflitos desde que um levantamento apoiado pela NATO retirou do poder o ditador Muammar Kadafi em 2011 – que acabaria linchado pela turba.
Um cessar-fogo em outubro de 2020 levou a um acordo sobre um governo de transição no início de fevereiro de 2021, liderado pelo primeiro-ministro Abdul Hamid Dbeibah e ao agendamento de eleições para 24 de dezembro de 2021 – que nunca chegaram a realizar-se.