Saiba o que diz a defesa de Ricardo Salgado
A declaração foi lida pelo advogado Francisco Proença de Carvalho, ao lado de Ricardo Salgado, e não teve direito a perguntas dos jornalistas.
12 Outubro 2017, 13h26
Comunicado da Defesa do Dr. Ricardo Salgado
- Como foi pré-anunciado por alguns órgãos de comunicação social e confirmado por comunicado oficial da Procuradoria-Geral da República, o Dr. Ricardo Salgado confirma que foi notificado (ainda que irregularmente) da acusação na denominada Operação Marquês.
- O Dr. Ricardo Salgado tem mantido um comportamento discreto e de absoluto respeito por todas as investigações em curso, colaborando para o esclarecimento da verdade e estando sempre ao dispor das autoridades para o que for necessário.
- Esse respeito institucional (que, aliás, sempre foi matriz da vida do Dr. Ricardo Salgado) tem-se mantido, apesar das múltiplas violações dos seus direitos, violações permitidas por aqueles que, por Lei, tinham o dever de garantir que os direitos dos arguidos num Estado de Direito Democrático fossem respeitados.No entanto, perante o alarido público em torno da acusação da “Operação Marquês”, a defesa do Dr. Ricardo Salgado não pode deixar de transmitir o seguinte:
- O Dr. Ricardo Salgado não praticou qualquer crime e esta acusação é totalmente infundada quanto a si.
- O processo não tem, nem pode ter, factos e provas de qualquer crime. Repare-se que tendo o inquérito durado mais de quatro anos, só muito recentemente é que o nome do Dr. Ricardo Salgado surgiu no processo, a partir de notícias plantadas na imprensa, numa tentativa de o envolver num caso a que é absolutamente alheio. O Dr. Ricardo Salgado foi uma espécie de “boia de salvação” para um processo que se estava a afogar nas suas múltiplas teses contraditórias e ainda para outras pessoas. Aliás, no único interrogatório que lhe foi feito, não lhe foram apresentados factos e provas, mas suposições e presunções sem qualquer suporte. No entanto, a presunção que existe, à luz da lei e da Constituição, é a presunção de inocência.
- Este processo infringiu todas as regras da decência: verificou-se uma sistemática violação do segredo de justiça, numa chocante promiscuidade com alguns órgãos de comunicação social, com o claro objetivo de condenar na praça pública o Dr. Ricardo Salgado, sem lhe permitir esboçar um gesto de defesa.
- Quando, finalmente, se conhece a acusação, há muito que a opinião pública foi intoxicada com sistemáticas mensagens distorcidas para destruir a imagem do Dr. Ricardo Salgado.
- O procedimento de contaminação da opinião pública através da utilização sistemática de alguns órgãos de comunicação social é próprio de quem não acredita na força dos seus factos, das suas provas, na força do Direito e da Justiça, e pretende condicionar para sempre a opinião com vista a tentar deixar sem defesa o Dr. Ricardo Salgado.
- Independentemente do que vier a suceder daqui em diante, este processo ficará na história da Justiça Portuguesa como um dos piores exemplos de violações de direitos e garantias que qualquer cidadão, pobre ou rico, deve ter num Estado de Direito Democrático, no século XXI.
- Tal só foi possível, porque neste, como em outros processos importantes do nosso País, o Ministério Público tem o conforto de saber que o Juiz de Instrução (que é historicamente o Juiz das liberdades e garantias dos arguidos), em regra, limita-se a aderir e aceitar tudo o que é requerido, ou, até a ir mais longe do que o próprio Ministério Público. Estas circunstâncias são inadmissíveis num Estado de Direito Democrático e deixam os cidadãos sem proteção e à mercê dos ímpetos de qualquer investigador.
- Mesmo antes de qualquer acusação, de qualquer julgamento e muito menos sentença, quem conduz as investigações contra o Dr. Ricardo Salgado tem tentado condicioná- lo, através de todo o tipo de procedimentos. Desde medidas de coação desnecessárias e desproporcionadas face ao comportamento exemplar do Dr. Ricardo Salgado perante as investigações até a arrestos indiscriminados e abusivos pomposamente anunciados pela Procuradoria-Geral da República, mas por vezes nem sequer notificados pelas vias próprias.
- O Dr. Ricardo Salgado não se deixará condicionar ou esmagar por qualquer ato abusivo praticado por quem deveria ser o primeiro a defender a legalidade e levará até às últimas consequências a sua defesa.
- Espera que, a partir deste momento e depois de tantas sucessivas prorrogações de prazo que foram concedidas ao Ministério Público, seja também concedido à Defesa um prazo razoável e condições dignas para o exercício cabal dos seus direitos com um mínimo de igualdade em relação a quem agora o acusa.
- A Defesa do Dr. Ricardo Salgado espera que as estratégias de contaminação da opinião pública não impeçam que verdadeiros Juízes possam um dia fazer o juízo que se impõe: sereno, objetivo e no estrito respeito pela legalidade. Só assim se pode fazer Justiça num país democrático e livre. Num país do Século XXI.
- Se tal vier a suceder, como se impõe, o Dr. Ricardo Salgado virá a ser, mais tarde ou mais cedo, ilibado neste processo.Lisboa, 12 de Outubro de 2017