[weglot_switcher]

Saída de britânicos complica ainda a “eurogeringonça” de António Costa

Socialistas e liberais perderão peso relativo quando os eurodeputados britânicos saírem e derem lugar a eleitos de outros países, tornando ainda mais complicado a matemática necessária para retirar a presidência da Comissão Europeia ao Partido Popular Europeu.
  • Neil Hall/Reuters
3 Junho 2019, 07h41

A solução defendida pelo primeiro-ministro António Costa de um entendimento entre a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE) e Verdes – Aliança da Europa Livre (G-EFA) para afastar da esfera do poder o Partido Popular Europeu (PPE) irá complicar-se ainda mais aquando da saída dos eurodeputados britânicos. Além de implicar a perda de dezenas de eleitos socialistas e liberais que resistiram à vitória do Partido do Brexit de Nigel Farage, e de nenhum membro da família política de centro-direita onde têm assento os eurodeputados do PSD e do CDS-PP (os poucos eleitos nas listas do Partido Conservador pertencem à direita antifederalista dos Conservadores e Reformistas Europeus), o Brexit abre as portas de Estrasburgo a novos parlamentares de países que estão agora subrepresentados em relação à sua população.

Segundo cálculos divulgados pelo site Euro Elects, que acompanhou todo o processo eleitoral, o Partido Popular Europeu subirá de 182 para 186 eurodeputados – partindo do princípio que os 13 representantes do húngaro Fidesz, suspensos por tempo indefinido devido à retórica extremista e aos atropelos à separação de poderes, serão convencidos a não procurar alternativas mais à direita -, enquanto os socialistas do S&D descerão de 146 para 141 e os centristas e liberais da ALDE (“aditivados” pela mobilização do presidente francês Emmanuel Macron) cairão de 113 para 102, e mesmo os verdes da G-EFA descerão de 76 para 70 mandatos.

Outros beneficiários da redistribuição de mandatos no Parlamento Europeu serão os partidos de direita populista e de extrema-direita que foram os mais votados em França e na Itália, dois dos cinco grandes países que restarão à União Europeia após a formalização da saída de Reino Unido, visto que o grupo dinamizado por Matteo Salvini e Marine Le Pen subirá de 77 para 81 mandatos. De fora destas, e talvez de todas as contas, permanecerão os 15 eleitos do Movimento Cinco Estrelas, até agora parceiro de coligação da Liga no governo italiano, o que torna ainda mais complicado o balanço de poder.

O impulso de António Costa, que encontrou eco em Emmanuel Macron e muitos líderes do centro-esquerda europeu para repetir a receita do pós-legislativas portuguesas de 2015, quando a segunda, a terceira e a quarta forças políticas mais votadas se juntaram para afastar do poder a coligação de centro-direita, parece até agora emperrar na matemática, pois os eleitos da S&D, ALDE e G-EFA não passariam dos 335 eurodeputados e só poderiam almejar à maioria absoluta (ainda assim incerta) caso contassem também com a Esquerda Unitária Europeia (GUE) que aloja o PCP e o Bloco de Esquerda. Um entendimento difícil de realizar-se, na medida que implica juntar desde marxistas até aos liberais alemães, e ainda mais complicado pela entrada de novos parlamentares, oriundos sobretudo de Espanha (mais cinco), França (mais cinco), Holanda (mais três) e Itália (mais três).

A única solução “fácil” para formar uma maioria no Parlamento Europeu é o entendimento entre o PPE, o S&D e a ALDE, mesmo que sem ecologistas. Mas dificilmente com o democrata-cristão alemão Manfred Weber, visto como excessivamente conservador, a manter-se como candidato à sucessão de Jean-Claude Juncker na presidência da Comissão Europeia. Outros nomes terão necessariamente que aparecer, a bem do consenso.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.