Ir além do ensino secundário e apostar num curso técnico superior profissional compensa, em termos remuneratórios. A conclusão é da Fundação José Neves, que divulgou esta terça-feira uma análise que indica que esses trabalhadores ganhavam em 2020 mais 4,1% do que os seus colegas com o nível de educação imediatamente abaixo. E apesar da pandemia, o ordenado dos portugueses com cursos profissionais aumentou nesse ano mais de 5%, é estimado.
Os cursos técnicos superiores profissionais (CTeSP) foram criados em 2014, explica a Fundação José Neves, que frisa que o objetivo era, então, “alargar e diversificar a oferta de ensino superior, bem como de atrair novos públicos, designadamente jovens oriundos do ensino secundário profissional e adultos que procuram adquirir conhecimentos mais técnicos e direcionados para o mercado de trabalho.”
Hoje, os dados mostrar que apostar nessa opção formativa compensa: em 2020, por exemplo, o salário médio dos diplomados destes cursos foi de 1.154 euros, mais 4,1% do que quem concluiu o ensino secundário e mais 25% do que quem completou somente o ensino básico.
Se considerarmos apenas os trabalhadores mais jovens, o prémio remuneratório associado a estes cursos é ainda mais relevante: os trabalhadores com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos e com este tipo de formação auferiram um salário médio de 1.092 euros em 2020, 12,5% acima ao auferido por um trabalhador que tenha completado o ensino secundário. “É nesta faixa etária que mais compensa completar um CTeSP”, salienta a Fundação José Neves.
Além disso, mesmo em plena pandemia, o salário dos trabalhadores com CTeSP cresceu. Em causa esteve, é estimado, uma subida homóloga de 5,2%, reforçando-se a trajetória ascendente verificada desde 2017. “Registou-se, igualmente, uma forte tendência de crescimento dos trabalhadores com CTeSP: em 2020, eram já mais de 2.280 as pessoas com esta formação a trabalhar em empresas portuguesas, o que corresponde a um aumento de 23% face a 2019, e de 94% face a 2017”, destaca a fundação.
De acordo com o relatório divulgado esta terça-feira, estas vantagens salariais e de empregabilidade têm contribuído para esbater o preconceito relativo ao ensino profissional que ainda se vive em Portugal.
“Disponíveis em instituições de ensino politécnico, os CTeSP são cada vez mais procurados por alunos que pretendem adquirir conhecimentos mais técnicos e direcionados para o mercado de trabalho. Desde o ano letivo de 2017/2018 que o número de diplomados destes cursos tem registado um aumento continuado sempre superior a 11% (valor que apenas não se verificou no ano letivo 2020/21, em que o aumento foi de 8%)”, sublinha a Fundação José Neves.
Em maior detalhe, para o ano letivo de 2020/20021, a maioria dos alunos de cursos deste género optou pela área das ciências empresariais (21,7%), seguindo-se as áreas de engenharia e técnicas e afins (15,7%) e a informática (15,6%). “Serviços pessoais, serviços sociais e artes
concentraram, individualmente, cerca de 10% do total de diplomados”, revela a análise.
Já no que diz respeito aos sectores de atividade que empregam estes trabalhadores, em 2020, o comércio (17,6%) esteve em destaque, seguindo-se as atividades de saúde humana e apoio social (13,7%), as atividades de consultoria, científicas e técnicas (12,9%), os serviços de informação e de comunicação (9,1%), as indústrias transformadoras (8,9%), a construção (6,3%) e o alojamento e a restauração (5,5%).
“Geograficamente, as regiões que concentram mais trabalhadores com cursos superiores profissionais são a região Norte (31%) e a Área Metropolitana de Lisboa (28%), seguindo-se o Centro (21%), os Açores (10%), o Alentejo (5%), o Algarve (3%) e a Madeira (2%)”, é ainda realçado.
Importa notar que o mercado de trabalho vive um momento de mudança, o que tem levado a que as competências de muitos trabalhadores não se adequem às exigências dos empregadores. A formação, têm dito os especialistas, é a chave.