Numa entrevista recente à Lusa, o antigo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, referiu que a produtividade portuguesa é 54% da média da União Europeia. A baixa produtividade da economia portuguesa é uma ideia muito repetida, frequentemente para justificar as magras remunerações dos portugueses.  No entanto, diferentes estudos indicam que, desde a década de 1970, o crescimento da produtividade tem excedido o dos salários (Economic Policy Institute).

Produtividade define-se como a produção, medida pelo PIB, dividida pelo número total de horas de trabalho. Com base neste indicador, a Irlanda situa-se no topo da lista, longe do fraco desempenho português, enquanto a China e a Índia se posicionam atrás de Portugal. Sendo que, nesta escala, ser mais produtivo significa pagar salários maiores.

A produção/hora, que facilita comparações internacionais, difere da produtividade física, que permite comparar unidades de produção (OCDE). Por exemplo, na produção de azeite este conceito mediria o número de metros cúbicos produzidos por hora trabalhada. Mas como aferir a produtividade de um professor?

Para estabelecer comparações calcula-se a produtividade económica, um agregado monetário que calcula o valor acrescentado, isto é, quanto é que se cria na transformação que ocorre no processo produtivo. Uma empresa cria valor quando usa máquinas e trabalhadores para transformar uma matéria-prima (azeitonas) num bem diferente (azeite). E mão de obra e máquinas, que permitem a transformação, são remuneradas pelo valor que conseguem gerar. Remunerações e valor acrescentado são assim duas faces da mesma moeda.

Nesta ótica, uma empresa que, com a mesma produtividade física, produzisse – e vendesse – o mesmo bem, em Portugal e na Alemanha, seria mais produtiva economicamente (geraria maior valor acrescentado) onde pagasse salários mais altos.

Diferenças entre empresas e diferenças de contexto económico são responsáveis por disparidades na produtividade física destes dois países que se reflete na sua produtividade económica. Diferenças na sua organização interna, sendo as pequenas e médias empresas menos produtivas (OCDE).

Diferenças na tecnologia e no rácio capital/trabalho, mas também na sua especialização produtiva, em que produzir automóveis e maquinaria pesada gera maior valor acrescentado do que produzir têxteis e serviços. Diferenças na dimensão do sector informal, cujo valor acrescentado não é contabilizado, e que no caso português, próximo de 25% (FMI), é dos maiores da zona euro. E poder-se-ia elencar muitos outros fatores.

Estes problemas estão amplamente diagnosticados e há muito que reclamam soluções de políticas públicas para além da ação das empresas. Políticas que estimulem o aumento da dimensão das empresas e/ou a sua fusão, incentivem as atividades em áreas de maior valor acrescentado e a atividade económica declarada e que fomentem a modernização tecnológica e organizacional.

No fundo, políticas que aumentem a produtividade física para permitir aumentar os salários o que, em teoria, atrairá trabalhadores qualificados e motivados capazes de ampliar a produtividade, física e económica.

Políticas que transformem um círculo vicioso num círculo virtuoso e derrubem o eterno muro das lamentações da economia portuguesa.