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Salvador, o novo homem forte do Grupo José de Mello

Salvador de Mello surge assim como o novo rosto da quarta geração do império fundado há cerca de 120 anos pelo industrial Alfredo da Silva, seu bisavô e fundador da CUF, e quem deverá funcionar como o elo de transmissão para a quinta geração da família, que começa a querer dar cartas à frente do grupo empresarial.
12 Janeiro 2021, 08h17

A venda de 40% do capital da concessionária de autoestradas Brisa, concretizada a 28 de abril do ano passado, a fundos de investimento e de ativos – a holandesa APG, a sul coreana National Pension Service e a suíça Swiss Life – terá sido o último grande negócio liderado por Vasco de Mello no seio do Grupo José de Mello.

A operação avaliou a empresa em cerca de três mil milhões de euros, ou seja, deverá ter resultado num encaixe à volta de 1.200 milhões de euros para a família Mello, culminando cerca de duas décadas de Vasco de Mello à frente da Brisa, transformando a empresa na líder da gestão das rodovias em Portugal, ensaiando diversas experiências internacionais, na maioria bem sucedidas, e levando a participada Via Verde para novas áreas de serviços tecnológicos, apesar de frustração de não ter conseguido ‘exportar’ o sistema de pagamento eletrónico de portagens.

A venda do controlo da Brisa terá servido para engrossar a fortuna da família, mas acima de tudo, para reduzir a dívida do grupo, que superava os quatro mil milhões de euros no final de 2019.

Concluída a transação, complexa e mais dificultada por nos encontrarmos em plena pandemia, com quebra abrupta dos níveis de tráfego, Vasco de Mello optou por passar o testemunho ao seu irmão mais novo, Salvador de Mello, que vinha ganhando cada vez mais espaço dentro do grupo.

Vasco de Mello mantém-se como presidente não executivo da Brisa, mas a partir de ontem, Salvador de Mello, 54 anos, é o novo homem forte do Grupo José de Mello, depois de já antes, em 2001, ter assumido a liderança da José de Mello saúde, e da CUF, em 2015.

O Grupo José de Mello é um dos mais poderosos do país, a família uma das mais ricas de Portugal.

Salvador de Mello surge assim como o novo rosto da quarta geração do império fundado há cerca de 120 anos pelo industrial Alfredo da Silva, seu bisavô e fundador da CUF, e quem deverá funcionar como o elo de transmissão para a quinta geração da família, que começa a querer dar cartas à frente do grupo empresarial.

Além da Brisa, da CUF e da José de Mello Saúde, o Grupo José de Mello gere interesses no setor da indústria química (Bondalti), soluções residenciais para a terceira idade (José de Mello Residências e Serviços), agroalimentar (Sociedade Agrícola D. Diniz, gestora do Monte da Ravasqueira) e manutenção (ATM), por exemplo.

Ainda não existem contas divulgadas do Grupo José de Mello referentes ao exercício de 2020 (o grupo não é cotado), mas em 2019, o grupo conseguiu proveitos operacionais próximos dos 1.800 milhões de euros, um pouco acima de 2018, em que se registaram 1.795 milhões de euros neste indicador.

Deste montante, mais de 700 milhões de euros tinham sido obtidos no setor da saúde, sob a batuta de Salvador de Mello. E a sua nomeação para líder máximo do grupo, poderá indiciar também que o(s) seu(s) mandato(s) irá (irão) dar outro enfoque a esta e a outras áreas de atividade em embrião, agora que é apenas detentor de 17% do capital da Brisa.

“A alteração da presidência executiva decorre de um processo de sucessão natural, numa altura em que o Grupo José de Mello se encontra preparado para encarar com ambição um novo ciclo de crescimento dos negócios e desenvolvimento de novas oportunidades, dando continuidade a um legado histórico empresarial com mais de 120 anos e reforçando o nosso compromisso de longo prazo de contribuirmos para o futuro de Portugal”, sublinhava Vasco de Mello num comunicado ontem divulgado.

Nesse “contexto de um novo ciclo de desenvolvimento de negócios, sustentado numa sólida situação financeira, o Conselho de Acionistas da família José de Mello decidiu designar Salvador de Mello para a presidência executiva da José de Mello”.

Licenciado em Ciências Económicas e Administração de Empresas pela Universidade de Neuchâtel, Suíça, Salvador de Mello sobressaiu enquanto CEO e presidente da José de Mello Saúde (JMS), uma área bastante polémica em Portugal, ainda antes da pandemia.

“Enquanto CEO da JMS, foi responsável por um forte dinamismo de crescimento, resultando na sua expansão a uma rede de 17 unidades de saúde, constituindo-se como uma referência na prestação de cuidados de saúde em Portugal”, pode ler-se na sua referência curricular no ‘site’ da AIP – Associação Empresarial de Portugal, de que é presidente da Mesa da Assembleia Geral.

É uma das poucas referências alusivas a Salvador de Mello, porque comunga de um traço distintivo da família: ser discreto.

“Reconheço que somos todos bastante discretos, não fazemos questão de andar nas bocas do mundo. Aquilo que nos anima, aquilo que nos foi transmitido, é que é no ser e no fazer que uma pessoa se deve distinguir e é na obra que uma pessoa deixa a sua marca”, confidenciava numa das raras declarações aos jornais (jornal ‘i’,maio de 2015).

Com 11 irmãos e pai de quatro filhos, a transmissão do legado de Alfredo da Silva é sempre uma preocupação: “Recebemos um testemunho, um legado, e a nossa missão é transportá-lo para a próxima geração. Nós somos um elo de uma cadeia que atravessa gerações”, reforçava nessa mesma entrevista.

É isso que Salvador de Mello irá certamente imprimir agora à frente do grupo empresarial da família. E é bom recordar um ensinamento que diz ter recebido dos seus pais e ter já transmitido aos seus filhos: “Hierarquia, a da inteligência; nobreza, a do carácter”.

 

 

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