Num contexto em que foi temporariamente (até ao fim do ano) eliminada a comissão que os bancos cobram por amortização antecipada do crédito à habitação, o CEO do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, reconheceu que o banco regista já um aumento de 30% das amortizações antecipadas. “Temos um aumento de cerca de 30% das amortizações de crédito” nos últimos três meses face ao padrão que existia, disse o presidente do banco que esta quinta-feira apresentou resultados anuais.
O CEO admitiu que a subida das taxas de juro no crédito, sem que os juros subam nos depósitos, tem justificado mais decisões de pagamento antecipado dos créditos. Assim, ainda o ano acaba de começar e já o banco regista um aumento do pedido de amortizações antecipadas.
Recorde-se que o Governo introduziu a suspensão temporária em 2023 da exigibilidade da comissão de amortização antecipada, para que não seja um entrave à renegociação do crédito ou à transferência de um banco para outro.
Mas a verdade é que essa faculdade pode ser usada nas operações de vendas de imóveis e até pode ser um impulsionador da venda de casas este ano.
O Decreto-Lei do Governo que prevê a reestruturação dos créditos à habitação a taxa variável, até 300 mil euros, em caso de ser atingida determinada taxa de esforço, prevê também a suspensão temporária da comissão de vencimento antecipado nos contratos de crédito a taxa variável, independentemente do montante do crédito.
Ainda no âmbito da aplicação do diploma do Governo, Pedro Castro e Almeida disse que o banco analisou “todos” os clientes com crédito à habitação – que ao todo são 265 mil clientes – e “poucos milhares estão em risco de incumprimento”.
Serão cerca de dois mil os contratos que têm taxa de esforço prevista no decreto lei do Governo. Este é o universo de clientes em risco de incumprimento do Santander, mas nem todos foram já reestruturados ao abrigo do diploma do Governo.
Apesar do aumento de 5,2% do crédito a particulares em 2022, a carteira de crédito global registou um decréscimo de 0,3% para 43,3 mil milhões, muito influenciado pela redução de 3,8% na concessão de crédito às empresas.
Em sentido contrário, o crédito a particulares subiu com destaque para o aumento de 5,5% no crédito à habitação e 6% no crédito ao consumo.
O crescimento dos depósitos foi de apenas 0,2% para 38,5 mil milhões. Aliás, o banco é dos poucos em que concede mais crédito do que capta de depósitos, sendo a taxa de transformação de depósitos em crédito líquido de 110,5%.
O Santander Portugal fechou o exercício de 2022 com resultados de 568,5 milhões de euros, anunciou o banco esta quinta-feira em conferência de imprensa na sede em Lisboa. Este é o resultado recorrente, que exclui uma mais-valia contabilística com a venda de de um negócio de acquiring (cartões), que o Santander em Portugal vendeu a uma empresa do grupo, a Getnet Europe. Incluindo esta receita, os lucros subiram 103,2%, para 606,7 milhões.
O ROE (rentabilidade) fixou-se em 12,3%. Graças à subida da receita com juros (margem financeira) que foi de 7,3% para 782,9 milhões e às comissões que subiram 10,2% para 470,3 milhões. Mas a queda dos resultados de trading levaram à descida de 2,2% do produto bancário recorrente para 1.291,6 milhões.
Em termos de qualidade da carteira, o rácio de malparado (NPE) melhorou para 2% e o banco apenas tem em carteira 25 milhões de euros de imóveis. O banco ficou com ativos imobiliários que sobraram do Projeto Crow que não estão contabilizados neste valor.
Mas Pedro Castro e Almeida foi peremptório a dizer que “é tudo para vender”.