Santander Totta com lucros de 568,5 milhões duplicam face a 2021

O Santander Totta divulgou um resultado líquido recorrente de 568,5 milhões de euros em 2022, o que traduz uma subida de 90,4%. A rentabilidade dos capitais próprios (ROE) fixou-se em 12,3%.

Cristina Bernardo

O Santander Totta divulgou um resultado líquido recorrente de 568,5 milhões de euros em 2022, o que traduz uma subida de 90,4%. A rentabilidade dos capitais próprios (ROE) fixou-se em 12,3%.

O resultado líquido de 2022 do Santander Totta SGPS foi na verdade de 606,7 milhões de euros, subindo 103,2%. Mas aqui está incluída uma mais-valia da venda de um negócio de acquiring (cartões), que o Santander em Portugal vendeu a uma empresa do grupo, a Getnet Europe.

Nos resultados, incluindo esta mais-valia, o produto bancário em vez de cair, sobe 2,2% para 1.346,9 milhões de euros.

Nos resultados recorrentes, o produto bancário caiu 2,2% para 1.291,6 milhões, sendo que o grande destaque aqui vai para a subida da margem financeira de 7,3% para 782,9 milhões de euros.

A receita com comissões cresceu 10,2% para 470,3 milhões. Já o rendimento de instrumentos de capital cresceu 148,9% para 3,8 milhões e os resultados das associadas tiveram uma subida de 27,8% para 20,6 milhões. Os resultados da atividade de seguros, no montante de 12,2 milhões de euros, reduziram-se em 24,6% em termos homólogos.

A redução dos resultados em operações financeiras marcou o ano, tendo o banco reportado um decréscimo de 78,8% face ao valor de 2021, quando tinham atingido um valor muito elevado, fruto da gestão da carteira de títulos.

Os custos operacionais, no montante de 486,0 milhões de euros, registaram um decréscimo de 8,1% face ao final de 2021, fruto do decréscimo em 6,6% dos custos com pessoal e em 10,2% dos gastos gerais e administrativos, pelo que o resultado de exploração aumentou 2,0%, neste mesmo período, para 805,6 milhões de euros, revela o banco. O rácio de eficiência situou-se em 37,6% (uma redução de 2,5 pp face ao valor de dezembro de 2021).

O Santander explica que a rubrica “outros resultados da atividade bancária”, foi negativa em 31,1 milhões de euros, traduzindo um agravamento em 16% face ao mesmo período de 2021, refletindo, em grande medida, os encargos com os fundos de resolução, nacional e europeu.

Na conta de resultados o banco também beneficiou da reversão de imparidades que deu um contributo positivo de 12 milhões. No ano anterior as imparidades e provisões tinham afetado as contas em 300 milhões (em parte devido aos custos com o despedimento coletivo).

Destaque ainda para o crédito malparado (NPE) que caiu de 2,3% para 2% em dezembro de 2022 com cobertura de 87%. O custo do risco de crédito foi negativo em 0,03%.

O Santander Totta admite um agravamento das imparidades para crédito ao longo de 2023, mas lembra o baixo ponto de partida do banco no que toca ao rácio de non-performing exposure (NPE).

A administração do banco revelou ainda que em termos de imóveis recebidos em dação de cumprimento de crédito, já só tem em balanço 25 milhões de euros. Recorde-se que quando herdou o Banco Popular chegou a ter 1,6 mil milhões.

“Para as famílias e empresas em dificuldades financeiras, atuámos preventivamente, no sentido de ajudar a encontrar a solução mais adequada às suas necessidades”, disse o CEO do banco.

“Adicionalmente, continuamos a apoiar a economia, fazendo chegar às empresas os fundos essenciais para o desenvolvimento dos seus projetos e o incremento da sua competitividade, sendo este um passo fundamental para o crescimento do emprego e da riqueza no nosso país”, acrescentou Pedro Castro e Almeida.

“Para os nossos colaboradores, lançámos um conjunto de medidas de apoio para mitigar os efeitos do aumento do custo de vida, medidas que já reforçámos em 2023, sendo a revisão em alta do salário mínimo para 1.400 euros um dos exemplos”, concluiu ainda o CEO.

O banco liderado por Pedro Castro e Almeida revelou que, ao nível do balanço, o total de crédito a clientes, no montante de 43,3 mil milhões de euros, registou um decréscimo de 0,3% face ao valor no final de 2021.

Sendo que no segmento de crédito hipotecário verificou-se um crescimento homólogo de 5,5%, fruto da forte dinâmica de nova produção de crédito hipotecário, onde o banco teve uma quota de 23,7% (valores acumulados a novembro).

Do lado oposto, os recursos de clientes ascenderam a 45,8 mil milhões de euros, o que traduz uma ligeira redução, em 2,4% face ao mesmo período de 2021, em resultado de uma estabilização dos depósitos de clientes (+0,2% em termos homólogos) e de uma redução dos recursos fora de balanço, em 14,3%, no mesmo período, largamente associado ao contexto adverso nos mercados financeiros.

Sobre a distribuição de dividendos o CFO explicou que “os bancos estiveram impedidos de pagar dividendos por parte das autoridades europeias”.

“É normal que, passado o período de proibição e entrando no período de estabilização de economia, todo o dinheiro acumulado e que não foi, na devida altura, entregue aos acionistas e não rentabilizou o capital, é normal que seja devolvido”, disse Manuel Preto que avançou que o valor só será divulgado em maio.

Manuel Preto lembra que o banco continua “a ter excesso de capital”, e que será nesse contexto que será tomada a decisão da distribuição de dividendos.

O Santander “continua a incrementar a sua base de clientes digitais, alavancado no processo de transformação comercial e digital, representando 62% da base de clientes de banco principal”.

O rácio CET1 (fully implemented) situou-se em 16,5% (-8,6pp em termos homólogos).

“Em termos de MREL, a 31 de dezembro, o Santander Totta SGPS registava um rácio de 27,7%, acima do requisito (fully implemented) de 23,77% (incluindo o requisito combinado de fundos próprios, de 3% do TREA), exigido desde 1 de janeiro de 2022″, refere o banco.

Manuel Preto, CFO, disse na conferência de imprensa que o banco não tem previsto fazer emissões de dívida para MREL. O mercado tem exigido juros altos para estas emissões.

Já na liquidez, o banco diz que o “financiamento obtido junto do Banco Central Europeu manteve-se exclusivamente em operações de longo prazo e integralmente através do programa de financiamento TLTRO III, no montante de 4,2 mil milhões de euros”.

“O financiamento de curto prazo, através de acordos de recompra, ascendeu a 2,1 mil milhões de euros no final do ano”, diz a instituição que lembra que “em termos de financiamento de longo prazo, além da operação junto do BCE, o Santander em Portugal terminou o quarto trimestre de 2022 com cerca de 1,1 mil milhões de euros de titularizações, 2,0 mil milhões de euros de obrigações hipotecárias, 1,1 mil milhões de euros de emissões senior HoldCo, 0,2 mil milhões de euros de emissões subordinadas e 0,2 mil milhões de Credit Linked Notes”.

O rácio LCR (Liquidity Coverage Ratio), calculado segundo as normas da CRD IV, situou-se em 132,5%, “deste modo cumprindo as exigências regulamentares em base fully implemented“.

Na fase das perguntas e respostas, o CEO foi confrontado com as declarações de Paulo Macedo, quando explicou que a CGD tem capital para aquisições se tiver de defender a liderança do mercado. “Hoje não aconteceria um banco comprar o Banif e o Popular por um euro”, disse recentemente o CEO da CGD.

Nesta quinta-feira, Pedro Castro e Almeida respondeu, desafiado pelos jornalistas, e disse que “em 2015 não havia nenhum banco em Portugal capaz de pagar 150 milhões de euros pelo Banif e colocar 1,4 mil milhões de euros de liquidez na segunda-feira seguinte à venda. Santos da casa não fazem milagres. Nos tempos de sol a praia está cheia, nos tempos difíceis, é bom ver quem aparece”, ironizou.

Ainda na apresentação de resultados o banco destacou que em matéria de financiamento sustentável, o Santander financiou a Onex Holdings, em mais de 360 milhões de euros, para o refinanciamento e aquisição de 5 parques eólicos da EDP Renováveis, e concedeu 200 milhões de euros em papel comercial no modelo de Sustainability-Linked Loans, com condições de financiamento variáveis de acordo com a performance ESG da empresa.

“O Santander também participou em emissões obrigacionistas verdes num montante superior a 900 milhões de euros”, recorda o banco.

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