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SATA: Guerra entre pessoal de cabina e administração origina greve a 1 e 2 de maio

Greve convocada poderá colocar em causa a realização de voos diários entre as ilhas açorianas e será replicada enquanto as situações de incumprimento alegadas pelo sindicato não forem solucionadas.
19 Abril 2017, 18h02

Está aberto um clima de guerra declarada entre o pessoal de cabina da SATA e a respetiva administração da companhia aérea, que levou o SNPVAC – Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil a a convocar greve para os próximos dia 1 e 2 de maio.

“Na SATA Açores, a principal razão para termos convocado esta greve são as condições de trabalho, que não respeitam a lei e o acordo de empresa. Os tripulantes de cabina têm períodos de oito horas de trabalho sem terem uma refeição. Viajam em aviões sem ar condicionado, com temperaturas superiores a 30ºC e com elevados níveis de humidade. Não é cumprido o período mínimo de antecipação para convocação dos tripulantes”, explicou Bruno Fialho, da direção do SNPVAC, em declarações ao Jornal Económico.

Este responsável acrescenta que na SATA Internacional, outra empresa do Grupo SATA, “também ocorre o incumprimento de diversas cláusulas do acordo coletivo de trabalho e de diversos protocolos, como o desrespeito do prazo de antecipação para convocar os tripulantes para os voos, uma descriminação do tratamento fiscal em relação ao outros trabalhadores da empresa, a não disponibilização de transportes gratuitos a partir do aeroporto de Lisboa para os tripulantes açoreanos e o facto de os recibos de vencimento, depois de ouvidos diversos fiscalistas e economistas, ser totalmente incompreensível,  não se sabendo o que na verdade cada um dos trabalhadores desconta”.

Depois de ter sido convocada a greve na SATA por parte do SNPVAC, ontem à noite, Paulo Menezes, presidente da SATA, em declarações à Lusa, citado pelo ‘site’ da Rádio Renascença, exortou o sindicato a retirar este pré-aviso de greve, “de forma a poder-se retomar o diálogo que vinha sendo estabelecido entre as partes”.

Paulo Menezes adiantou que a empresa “já acionou o plano de contingência para fazer face a uma eventual greve” e explicou que a SATA “ainda não tem uma situação financeira equilibrada, estando num processo de recuperação”, além de que está também “condicionada pela legislação em vigor, nomeadamente o Orçamento do Estado”.

Em declarações ao Jornal Económico, Bruno Fialho está longe da via do diálogo, garantindo mesmo que o SNPVAC irá convocar novos períodos de greve enquanto as situações de incumprimento de que acusa a administração da SATA se mantiverem.

Quanto à situação financeira da SATA, Bruno Fialho assegura que a empresa tem acumulado prejuízos consecutivos nos últimos seis exercícios desde 2011, apontando para uma dívida acumulada “que deverá ser superior a 100 milhões de euros, mas que poderá ser praticamente nula se for o Governo Regional dos Açores pagar a dívida que tem em relação à companhia”.

Uma das situações que, no entender de Bruno Fialho, explica este mau comportamento económico-financeiro da SATA passa por más opções estratégicas da empresa, nomeadamente “não ter optado por ter aumentado a frota de longo curso para poder aumentar o número de frequências nas rotas que já opera, tal como a TAP Portugal decidiu fazer, ficando em concorrência nas rotas que eram operadas exclusivamente pela SATA Internacional”.

“Ou seja, para a administração da SATA aumentar o número de frequências para as rotas de Boston, Toronto, Montreal e Oakland (São Francisco) não iria dar lucros. No entanto, a TAP Portugal, que não voava para nenhum destes destinos, decidiu em 2016 passar a ter voos diários para Boston, com um sucesso estrondoso”, critica um comunicado hoje divulgado pelo SNPVAC, que alerta para o facto de a TAP já ter anunciado para este ano a realização de voos diários para Toronto, Montreal e Oakland.

“Parece que o que é mau para nós é bom para a TAP”, desabafa Bruno Fialho, em declarações ao Jornal Económico.

Para este dirigente do SNPVAC, a razão de fundo destas decisões e da má situação financeira da SATA prende-se com o facto de “os conselhos de administração da empresa serem nomeados politicamente pelo Governo Regional dos Açores, quando devíamos ter uma gestão profissional, que percebesse de aviação”.

“Estamos na mesma situação em que estava a TAP antes de ter sido nomeado o engenheiro Fernando Pinto”, conclui Bruno Fialho.

Segundo o referido comunicado do SNPVAC, a greve convocada para os próximos dias 1 e 2 de maio, para a SATA Internacional e para a SATA Air Açores poderá ainda por em causa a realização de voos diários entre as ilhas açorianas por não terem sido aceites pela administração da empresa os serviços mínimos propostos pelo sindicato.

A SATA emprega cerca de dois mil trabalhadores, dos quais cerca de 300 são funcionários de cabina, e gere uma frota composta por quatro aviões Bombardier Q400 e dois aviões Bombardier Q200 (SATA Air Açores), assim como por um avião Airbus A330, três aviões Airbus A310 e três aviões Airbus A320 (SATA Internacional).

 

 

 

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