[weglot_switcher]

Science4You vai usar aumento de capital para reforçar ‘e-commerce’

Empresa de brinquedos educativos quer dispersar até 45% do capital em bolsa até ao final do ano, numa oferta reservada a investidores de retalho.
26 Novembro 2018, 07h15

A portuguesa Science4You vai celebrar o décimo aniversário com uma entrada em bolsa. A empresa dedicada à produção, desenvolvimento e comercialização de brinquedos educativos vai lançar uma Oferta Pública de Distribuição ainda este ano, cuja capitalização irá servir para investir no comércio online.

“Ser cotado dá-nos holofotes de transparência e de ser uma empresa regulada, que é bastante importante para nós, mas acima de tudo, uma parte significativa da operação é por aumento de capital para que a empresa se capitalize e possa crescer mais que no ano passado”, afirmou o fundador e CEO da empresa, Miguel Pina Martins, em declarações aos jornalistas à margem da Web Summit.

Com escritórios em Lisboa e no Porto, a Science4You tem filiais em Madrid e Londres e exporta regularmente para mais de 60 países e conta com uma linha de mais de 500 brinquedos científicos e educativos. “Já estamos praticamente em quase todos os mercados relevantes”, disse o CEO. “O nosso grande objetivo é fazer crescer vendas e este investimento serve para uma aposta muito clara no e-commerce a nível de brinquedos”.

“Os brinquedos são das coisas que é mais fácil e tem uma maior quota a nível de mercado online e consideramos que ainda temos um potencial muito grande dentro da Science4you para continuar a crescer. Há uma parte muito significativa deste investimento que é para continuar na aposta do e-commerce, que acreditamos plenamente ser o caminho onde se vão vender brinquedos nos próximos dez anos”, defendeu o gestor.

Os últimos dados públicos relativos às contas da empresa indicam que as vendas atingiram 27 milhões de euros no ano passado, o que representou um aumento de 66% na faturação face ao ano anterior. No ano em que três edições dos brinquedos da Science4You começaram a  ser comercializados na retalhista norte-americana Target, os mercados internacionais representaram mais de 70% da faturação. Espanha, Reino Unido e Polónia foram, ainda assim, os países com maiores vendas. As vendas consolidadas da empresa totalizaram 21 milhões de euros.

 

Capital de risco não abandona Pina Martins

Constituída em janeiro de 2008, a empresa nasceu de um projeto de Pina Martins, com financiamento por capital de risco e business angels. A Science4you foi criada no âmbito do Programa FINICIA, com um capital social de 55 mil euros, em que 45 mil constituíram micro capital de risco financiado pela Inovcapital.

Agora, irá abrir o capital ao público e dar possibilidade aos investidores institucionais de saírem. Mas eles não querem.

A empresa referiu, num comunicado divulgado esta quinta-feira no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que o IPO vai incluir a emissão de novas ações pela Science4you, S.A., em montante de aproximadamente 8,25 milhões de euros, e uma venda parcial de ações já existentes detidas por atuais acionistas da empresa.

Espera-se ainda que seja constituído por uma componente de aumento de capital e outra de venda de ações de atuais acionistas da empresa, podendo chegar até ao montante total de 15 milhões de euros, o que equivale a uma percentagem de capital a dispersar de até 45% do capital social.

“Sempre acreditámos que podíamos fazer um IPO, mas houve uma operação este ano, que foi a da Raize, que nos deu o trigger para avançar. É um sonho porque permite que alguns investidores institucionais possam sair um pouco – apesar de que todos vão ficar no capital da empresa, incluindo eu próprio – e também porque permite fazer um aumento de capital. Conseguimos satisfazer os dois mundos”, disse Pina Martins.

Entre os principais investidores da Science4You, estão o Millennium Fundo de Capitalização, a Portugal Ventures e, mais recentemente, o Banco Europeu de Investimento. Há um ano, a empresa assinou um acordo de financiamento de 10 milhões de euros através do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos e, já na altura, o gestor afirmava o interesse no comércio online, bem como na expansão, ao longo dos próximos quatro anos, da fábrica que detém em Loures.

“O Portugal Ventures está desde o primeiro dia na Science4you e tem alguns fundos que já estão há dez anos na empresa. Por isso faz sentido haver alguns fundos mais antigos que possam ter a oportunidade de capitalizar, assim como de parte da Science4you, dos fundadores, dos business angels que entraram, possam também fazer alguma entrada de dinheiro”, afirmou o gestor.

Pina Martins revelou, na Web Summit, que nenhum dos atuais investidores irá sair do capital da empresa no IPO (ou vender mais de 50% da posição atual), mas explicou que todos irão vender uma parcela das participações.

 

Pina 

A Oferta Pública de Distribuição para a entrada em bolsa da Science4you vai ser destinada apenas a investidores de retalho, e não a institucionais, e irá acontecer nos próximos dois meses, de acordo com o CEO.

“A oferta dirige-se ao retalho, em Portugal especialmente, mas também aberto a quem quiser vir de fora. Está muito focada em investidores que conhecem, gostam e consomem Science4You. Além de poderem contribuir para a educação das crianças, que possam também também participar no crescimento da empresa através das ações”, afirmou, no dia em que anunciou que vai solicitar a admissão à negociação no sistema de negociação multilateral Euronext Growth.

“Há o Euronext Access, o Access +, o Growth e o mercado regulado. Entre os mercados alternativos, o Euronext Growth é aquele que, no nosso entender, acaba por ser a forma mais fácil de uma empresa em Portugal fazer um IPO e é a última estação antes do mercado regulado. E também porque o nosso objetivo de longo prazo é que a empresa possa crescer e que as pessoas possam participam neste crescimento”, disse.

As ambições de Miguel Pina Martins poderão ainda passar pelo PSI_20. “É uma hipótese”, afirmou o gestor, referindo que “neste momento vamos pasito a pasito e ficamos muito contentes por conseguir já ser cotados”.

Sobre o momento para a operação, Pina Martins afirmou que uma vontade que já existia e a entrada em bolsa da Raize foi um incentivo. Em julho, a fintech lançou uma Oferta Pública de Venda (OPV) da Raize, em que foi subscrita por 1.419 investidores num valor total de 5,5 milhões de euros. A forte procura (de 369%) pelas ações da empresa foi vista como sucesso e refletiu-se nas primeiras negociações em bolsa da Raize, nas semanas seguintes.

No entanto, o ano da Bolsa de Lisboa não tem sido pleno de sucessos. No mês passado, a Sonae foi obrigada a desistir de uma colocação em bolsa do negócio de retalho alimentar, que era a grande expetativa para a dinâmica da bolsa nacional em termos de listings este ano. A operação coincidiu com um período de elevada turbulência nos mercados, que foi usada como justificação pela retalhista para abandonar a operação.

A par da Raize, da Sonae MC e da Science4You, a Bolsa de Lisboa registou ainda a entrada técnica da FarmInveste e espera, até ao final do ano, a listagem da primeira Sociedade de Investimento para o Fomento da Economia (SIMFE), a Flexdeal SIMFE.

O CEO da empresa especializada em brinquedos educativos sublinhou que a entrada em bolsa da fintech portuguesa Raize é um exemplo a seguir, enquanto não espera uma situação semelhante ao falhanço do IPO da Sonae MC no mês passado. “São operações muito diferentes. A Raize é uma operação muito mais parecida com a nossa do que a Sonae”, referiu.

No comunicado, a Science4You alertou que o IPO encontra-se ainda sujeito às aprovações necessárias, designadamente a aprovação do prospeto pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e a condições de mercado favoráveis. No entanto, Pina Martins diz estar positivo quanto ao sucesso da operação.

“Há sempre sinais que vamos ter de interpretar e que vamos estar sempre atentos ao que o mercado disser, especialmente nos próximos dois meses, mas estamos positivos a acreditar que vamos conseguir”, disse o gestor. “Já houve contactos e há interesse dos investidores, mas o momento mais crítico é o da oferta”, acrescentou.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.