Faltam dois dias para o Dia Internacional da Mulher e este ano, em Portugal, assinala-se a data com uma Greve Feminista. O protesto, que está a ser organizado pelas ativistas da Rede 8 de Março, tem quatro eixos: greve ao trabalho assalariado, greve estudantil, greve aos cuidados e greve ao consumo.

Os acórdãos do Juiz Neto de Moura puseram a nu, se ainda dúvidas houvesse, mais razões urgentes para esta greve feminista. A justiça machista, que relativiza as agressões às mulheres ou que justifica as violações, está definitivamente posta em causa e não será mais aceite. Andrea Peniche, ativista de A Coletiva, resume tudo numa frase: [as sentenças] “revelam tribunais impermeáveis às mudanças sociais das últimas décadas, impermeáveis à transformação dos papéis de género e a todas as conquistas que as mulheres alcançaram no seu direito à igualdade”.

Recordemos que desde o início do ano já foram assassinadas 11 mulheres. Acabou. Exige-se tolerância zero à violência machista. E no campo do trabalho não estamos mais próximos da igualdade. As mulheres têm hoje em Portugal um rendimento 16% mais baixo do que os homens para o mesmo trabalho. Ou seja, fazendo as contas, elas trabalham 58 dias por ano sem receber.

Para além disso, é sobre as mulheres que recai a maior parte do trabalho doméstico. Segundo o estudo do Eurostat “A vida das mulheres e dos homens na Europa – um retrato estatístico” (ver aqui), realizado no ano passado, apenas 19% dos homens portugueses realiza tarefas domésticas diariamente, o que compara com 78% das mulheres. Portugal é o quarto país mais desigual na distribuição das tarefas.

Na questão dos cuidados, a desigualdade cresce ainda mais: 99% das mulheres trata das crianças diariamente, o que compara com 87% dos homens.

Estamos muito longe da igualdade e, por isso, é tão urgente esta mobilização.

Apesar da adesão de vários sindicatos a esta greve (SNESup, sindicato do Ensino Superior, SIEAP e o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Solidariedade e Segurança Social já emitiram os pré-avisos), a Greve Feminista ultrapassa os limites de uma greve laboral, porque quer dar visibilidade a todo o trabalho invisível e não remunerado que as mulheres realizam, como o trabalho doméstico e os cuidados à família.

A luta pela igualdade, a luta pelo feminismo, não podia ser de outra forma. Nas palavras da Patrícia Martins, ativista da Rede 8 de Março: “Temos uma sociedade estruturada na exploração do trabalho das mulheres, gratuito e invisibilizado” (ver entrevista aqui).

A Greve Feminista é internacional e mobiliza ativistas de vários países, unidas pelo lema “se as mulheres param, o mundo pára”.

Mas tudo o que possa dizer sobre a Greve Feminista não passa de mansplaining (ver explicado pela Porta dos Fundos), por isso, convido-vos a ler o Manifesto da Greve Feminista Internacional (ver aqui), a conhecer as suas 31 razões (ver aqui), a participar na Greve Feminista e nas manifestações convocadas para 12 cidades para assinalar o dia 8 de março (ver evento aqui).