Vivemos hoje um momento histórico na vida do nosso país. Arrisco-me a dizer que nunca o desalento com a classe política foi tão grande, nem tantos políticos simbolizaram tão pouca solução.

Enquanto nos lêem, puerilmente, uma cartilha sobre como o país nunca esteve em melhor rumo, uma sequência de casos de manifesta inaptidão política, de prepotência e ignorância por parte dos nossos governantes, ridiculariza o voto, conduzindo-nos a um sentimento de impotência generalizado, com um destino comum: o desânimo colectivo.

O que temos actualmente são políticos de carreira. Falamos de homens e mulheres que não têm vida profissional útil para além do aparelho do Estado e que vêm “o poder pelo poder”. Indivíduos que florescem e se desenvolvem dentro da colossal máquina estatal e que, por raramente terem trabalhado no país real, não sabem (nem se importam) como efectivamente vivem os portugueses.

À maior parte dos políticos, que não têm grandes diferenças mediante quadrante político e cujo cerne está nas juventudes partidárias e na pequena gestão de câmara ou freguesia, são-lhes indiferentes as dificuldades com que nos debatemos para realizar negócios ou gerar riqueza. A sua inaptidão profissional é mascarada pelo facto de os seus negócios serem apenas de, para e com o Estado. A sua riqueza, essa, é o dinheiro dos nossos impostos e não o fruto do seu trabalho ou mérito, criando um ciclo de interdependência cidadão-estado suportado por todos nós.

Falar de medidas de combate à corrupção ou ao nepotismo é contraditório quando não se ascende por meritocracia e quando estas são assinadas cinicamente por um executivo que mais se assemelha a uma ceia de Natal em família.

As nossas instituições estão hoje capturadas pelas máquinas partidárias onde impera uma nova cultura política. Uma sequência de faltas de ética e de moral, com vista à criação propositada de um Estado ingerível, sem qualquer implementação de métricas de gestão ou de qualidade relevantes. Parâmetros esses, comuns a qualquer empresa privada de dimensão equivalente.

No ano de 2015 o número de funcionários que integravam os gabinetes do governo era de 947 e é hoje de 1259: estamos a falar um aumento de 312 funcionários. De igual modo, temos hoje um número geral de funcionários públicos superior aos números pré-troika em 71 mil efectivos, estando 2.900 afectos à direcção do poder legislativo.

A carga fiscal sobre o trabalho em Portugal é hoje de 41,3% – a mais alta de sempre – sendo superior até aos 40,3% do governo Passos Coelho em pleno resgate económico.

Trabalhamos hoje mais de metade do ano (o dia da libertação dos impostos foi a 18 de Junho 2021) para alimentar este “bicho papão” paternalista e ideologicamente cego. Um estado que contracta arbitrariamente e mantém milhares de portugueses debaixo da sua esfera de influência, mascarando os números do desemprego. Um Estado que assim controla o voto e cria a ilusão de um país próspero, tal qual república bolchevique, enquanto tenta reduzir a nada a iniciativa privada dos portugueses.

Portugal é hoje dos países menos livres da União Europeia (UE) quando falamos de liberdade económica (26), ficando inclusivamente atrás de países como a Estónia (1), Hungria (25) ou Lituânia (6), países que, no léxico comum, achamos serem menos desenvolvidos do que o nosso.

Entre os 19 anos que separam o ano 2000 do de 2019, o nosso PIB per capita cresce, mas no entanto, Portugal cai do 15º para o 19º lugar quando em comparação com os seus pares na UE. Inequivocamente, sem um regime de opressão como o nosso, a Europa livre cresce mais depressa.

Ao dia de hoje, se o salário médio for ajustado ao custo de vida, existe apenas um país da UE com pior resultado e pior nível de vida: a Bulgária. Amanhã provavelmente estaremos em último.

A visão liberal promove uma mudança de paradigma nacional: a verdadeira reforma do Estado que sucessivos governos não tiveram a audácia de fazer. Defendemos que, quanto mais simples for a gestão da máquina estatal, menores as chances de ascensão de parasitas e melhor será a qualidade de vida dos Portugueses.

O objectivo é que o Estado saiba como e onde intervir, ao invés de se perder na sua própria dimensão em centenas de organismos, comités, comissões, grupos de trabalho, delegações, juntas, ligas e representações que nada fazem para além de desperdiçar recursos. A infantilidade e até irracionalidade dos recentes ataques ao liberalismo é fruto do incómodo que sente quem sabe que o sistema político por si desenhado não funcionou, não funciona e não funcionará.

O Liberalismo, por natureza antifascista e anticomunista, defende, a liberdade de escolha, de voto e de religião. Promove a liberdade económica, política e sexual, bem como a de não se ser espezinhado por um Estado ultra controlador, hipócrita e falso defensor da liberdade.

Está na altura de fechar na gaveta os dogmas, retóricas políticas e o socialismo de algibeira que conhecemos há anos e de ouvir finalmente a racionalidade dos dados e factos.

É na esfera da pequena gestão de freguesia e câmara municipal que começam o nepotismo e o compadrio e a corrupção em Portugal custa hoje cerca de 18,2 mil milhões de euros por ano, um valor superior ao orçamento da saúde, ciência e tecnologia, justiça e agricultura combinados. Deste valor, a administração local representa 47%, tendo os municípios à cabeça. A cada ano os municípios portugueses desperdiçam 6,55 mil milhões de euros (36%), enquanto nas freguesias esse valor totaliza 1,67 mil milhões de euros (9,2%).

Lamentavelmente, temos hoje cerca de 50% de abstenção, mas felizmente, ainda existe democracia em Portugal e está na altura de servir a política e servir os portugueses e não de nos servirmos da política e dos portugueses. O maior exercício da democracia continua a ser o voto e se queremos diferente, temos de votar diferente.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

Nota: Os dados têm como fonte o Instituto Mais Liberdade do qual o autor é membro fundador.